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Vídeo desmente empresário preso por tiro em suspeito rendido e mostra chute

Imagens de uma câmera de segurança desmentem a versão do empresário João Henrique Marfim Stakoviak, 38, que atirou à queima-roupa em um suspeito de roubo já rendido por volta das 10h da última sexta-feira (26) na região do Campo Belo, zona sul de São Paulo.

O suspeito, identificado como Sidney Fernandes, 40, tentou roubar o relógio do empresário, avaliado em R$ 40 mil, e fugiu, segundo a polícia. Em seguida, foi perseguido por um policial civil, que atirou em sua perna e o rendeu. Foi nesse momento, com Fernandes já caído, que Stakoviak se aproximou do suspeito e disparou.

Qual foi a justificativa do empresário para atirar? Preso em flagrante por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo, Stakoviak alegou ter agido em legítima defesa. Em seu depoimento, disse ter achado que o agente era uma pessoa sendo roubada.

O empresário justificou os disparos por acreditar que o suspeito ainda estava armado. "Em nenhum momento, tinha intenção de matá-lo. Somente de me defender", falou, em um dos trechos do depoimento.

Contudo, as imagens mostram que, quando ele atirou, Fernandes já estava no chão e com o policial apontando a arma para ele. Após atirar, o empresário chutou a cabeça do assaltante, que estava com um simulacro de arma de fogo. Fernandes também foi preso em flagrante por roubo.

Onde estava o empresário no momento da abordagem? O empresário estava abastecendo o seu Porsche, um carro de luxo, em um posto de combustível quando foi surpreendido pelo suspeito, que anunciou o assalto, segundo a Polícia Civil.

Stakoviak, então, saca uma pistola e inicia uma perseguição. Mas Fernandes é interceptado antes por um policial civil em uma viatura. Segundo o agente, o suspeito não obedece a ordem de prisão e só é rendido ao cair no chão após ser atingido por um tiro na perna.

O que as imagens mostram? As imagens mostram o empresário parando o carro no meio da rua, em um cruzamento.

Em seguida, é possível ver Fernandes caindo, após ser baleado na perna pelo policial civil, que se aproxima com a arma em punho. O empresário desce do veículo e corre para atirar no suspeito.

Vídeo mostra empresário João Henrique Marfim Stakowiak atirando em suspeito de assalto na região de Campo Belo, zona sul de São Paulo - Reprodução/Polícia Civil de São Paulo - Reprodução/Polícia Civil de São Paulo
Vídeo mostra empresário João Henrique Marfim Stakowiak atirando em suspeito de assalto na região de Campo Belo, zona sul de São Paulo
Imagem: Reprodução/Polícia Civil de São Paulo

O que aconteceu após o disparo? Pelas imagens, é possível ver o policial civil chamando a atenção do atirador, que dá um passo para trás e faz um gesto apontando para o pulso, possivelmente indicando que o suspeito havia tentado roubar o seu relógio.

Ele, então, volta a se aproximar de Fernandes e dá um chute no seu rosto. Depois disso, conversa com o policial civil e gesticula enquanto aparenta discutir com o suspeito. Em seguida, o agente retira a arma do empresário, que caminha em direção ao seu carro, parado no meio da rua.

O empresário João Henrique Marfim Stakoviak foi preso em flagrante por tentativa de homicídio após atirar em suspeito de roubo já rendido na zona sul de São Paulo - Reprodução/Polícia Civil - Reprodução/Polícia Civil
O empresário João Henrique Marfim Stakoviak foi preso em flagrante por tentativa de homicídio após atirar em suspeito de roubo já rendido na zona sul de São Paulo
Imagem: Reprodução/Polícia Civil

Por que o empresário estava armado? Ele tem liberação para posse de arma por ter licença de CAC (colecionador, atirador esportivo ou caçador), mas não tem permissão para porte de arma. Ou seja, ele pode ter uma arma, mas só pode levá-la se estiver indo em direção a um clube de tiro.

Por que ele foi indiciado por porte ilegal de arma? Por lei, o CAC tem direito de transportar a arma de casa até o clube de tiro. Porém, o empresário foi indiciado por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, "pois utilizou o armamento para promover justiça com as próprias mãos, sem demonstrar em momento algum que eventualmente estaria se dirigindo para um clube de tiro", segundo o inquérito elaborado pela Polícia Civil.

Quem é o empresário que atirou no suspeito de assalto? Stakoviak é proprietário de uma farmácia e ex-dono de uma loja de vestuários. O contrato social da drogaria localizada no bairro Jardim Dom Bosco, na zona sul de São Paulo, informa que a empresa "tem por objeto social o comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal" com atividades iniciadas em dezembro de 2019.

Stakoviak também teve uma empresa de vestuários, cujas atividades foram encerradas em dezembro de 2021 na Junta Comercial do Estado de São Paulo.

Medida protetiva por violência doméstica, mas relato de "pai exemplar" em inquérito. O empresário tem um inquérito policial registrado na 2ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com medida protetiva, aberto em dezembro de 2021.

Stakoviak também tem dois processos por ameaça, um de junho de 2015 e outro de junho de 2022. Fotos de Stakoviak com a família, alegando que ele "é um pai exemplar", foram anexadas no processo.

Preso por roubo tem antecedentes criminais. Sidney Fernandes, preso pela tentativa de assalto, tem passagens pelo sistema prisional por roubo em 2005 e 2007, e uma medida protetiva de 2015. Ele havia cumprido todas as penas anteriores. A reportagem entrou em contato com a Defensoria Pública, representante de Fernandes na audiência de custódia, que informou que não faz parte da defesa do suspeito.

O que diz a defesa do atirador? Nos autos do processo, o escritório Pupo Mazzieiro, responsável pela defesa do empresário, afirmou que a prisão do empresário é um equívoco. A defesa afirma que Stakoviak não praticou o crime de porte ilegal de arma por ser CAC e estava com a arma durante o trajeto para o tiro esportivo.

Sobre a tentativa de homicídio, os advogados argumentaram que o empresário "tentou apenas e tão somente neutralizá-lo, mas, em momento algum, pretendeu matá-lo" já que o tiro foi realizado em seu braço e não em área letal, como cabeça ou tórax".

Procurado hoje pelo UOL Notícias, o escritório diz estar "trabalhando para obter a liberdade" do empresário.

O que disse a Justiça? O Tribunal de Justiça de São Paulo decretou a prisão de Fernandes por roubo, e do empresário, por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma.

Para juíza Tonia Yuka Koroku, do TJ-SP, a conduta de Stakoviak "bem como registros de medidas protetivas deferidas em seu desfavor, demonstram possuir personalidade violenta". Sobre Fernandes, a juíza disse que ele é "reincidente na prática de crimes patrimoniais, em se tratando de crime de roubo" o que revela "sua periculosidade".

*Colaborou Câe Vasconcelos, do UOL, em São Paulo

Errata: este conteúdo foi atualizado
Anteriormente a reportagem afirmava que a Defensoria Pública cuida da defesa de Sidney Fernandes, mas, na verdade, só cuidaram da audiência de custódia do suspeito.