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PCC: Gordão imitava crueldade e ostentação do ídolo Escobar, diz polícia

Um dos principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), o megatraficante Anderson Gordão participou de audiência de custódia no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo - Reprodução
Um dos principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), o megatraficante Anderson Gordão participou de audiência de custódia no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/09/2022 10h11

A Polícia de São Paulo prendeu na semana passada Anderson Gordão, narcotraficante ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) que tinha como ídolo o colombiano Pablo Escobar. Ele imitava o chefe do cartel de Medellín não apenas com a ostentação de sua riqueza com o crime, como também no modo cruel de tirar seus rivais de cena, segundo a Polícia Civil afirmou ao "Fantástico", da TV Globo.

Ele integrou a lista dos criminosos procurados pela Interpol. Agora, é mantido no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau (SP).

Com diversas operações em São Paulo e outras regiões do país, Anderson construiu um patrimônio estimado em R$ 130 milhões de reais, com dinheiro de venda de drogas, especialmente para a Europa. Sua fortuna permitia não apenas a aquisição de mansões e outros imóveis de luxo, como também demonstração de poder.

Ao ser preso, a polícia confiscou seu celular e encontrou mensagens de áudio que, de acordo com a corporação, revelam o modo cruel como ele agia.

"Já pega ele e já sequestra, mano. Pega lá, o carro bomba, atropela", disse Anderson em um plano para se livrar de um inimigo.

"Ele gravava tudo, fotografava tudo e guardava tudo isso em seus dispositivos de mídia", afirmou Fernando Santiago, delegado da Polícia Civil.

Ele sempre teve no Pablo Escobar uma figura de idolatria, então ele procurava sempre imitar todos os passos.

Como começou

Anderson ganhou notoriedade no mundo do crime em 2014, ao intermediar a venda de cocaína da família de Marcola para a máfia italiana. Em 2017, ele foi condenado por tráfico internacional de drogas. Dois anos depois, ele entrou para a lista dos criminosos mais procurados do mundo pela Interpol.

Em 2020, foi realizada uma operação policial em sua casa, mas o criminoso conseguiu fugir para a Bolívia, onde teria vivido por dois anos. Depois, voltou ao Brasil e permaneceu em Santos, no litoral de São Paulo.

Para não chamar a atenção dos investigadores, ele e a esposa se hospedavam em hotéis simples, onde muitas operações eram realizadas. Em algumas ocasiões, os dois trocavam de esconderijo. Mesmo assim, ele circulava em muitos municípios da região.

"Ele ficava muito em Poá, Itaquá e Ferraz de Vasconcelos. Nesse local, ele usou casas de amigos e parentes", disse um investigador da Polícia Civil.

Anderson também possuía diversos negócios, para legalizar o dinheiro do crime, desde empresas de coleta de lixo a clínicas odontológicas.

Nestes estabelecimentos, ele vigiava os passos de seus funcionários. Dependendo da suspeita ou do que ele descobrisse, decidia por punições. Em seu celular, a polícia encontrou arquivos de mídia que mostram trabalhadores sendo ameaçados e torturados.

"Ele intimidava não apenas seus inimigos, como também seus subordinados, para garantir o respeito, através do terror".

Um deles, Emerson Fernando da Silva, chegou a reclamar por melhores condições de trabalho e foi torturado pelos seguranças do traficante, em dezembro de 2016. Após prestar queixa na delegacia, o homem foi sequestrado e não voltou à unidade para concluir o depoimento. A polícia acredita que ele foi assassinado.

Momento da prisão

Nos últimos meses, pessoas ligadas a Anderson foram monitoradas, principalmente a esposa, que andava sempre com o mesmo carro importado, e um funcionário. A polícia encontrou a primeira pista de que o chefe do tráfico estava no Brasil por meio de um papel com trecho de sua canção favorita no lixo da casa onde se escondia.

"Ele gosta muito daqueles corridos, que são aquelas músicas que os cancioneiros populares no México fazem para os traficantes poderosos que dominam a região. A gente encontrou no lixo dele um dos versos dessas canções", disse o delegado.

Os investigadores também notaram hábitos incomuns no local, especialmente a movimentação de pessoas e veículos. "Eles também tinham uma estranha troca de carros que acontecia dentro de imóveis".

Na segunda-feira (5), a perseguição de cinco anos finalmente chegou ao fim. A polícia conseguiu identificar o mesmo homem que colocava um saco de lixo cheio de pistas em frente a casa onde Anderson vivia. Em seguida, os dois foram localizados em um restaurante e presos no local.

"Ele estava acabando de pagar. Ele estava pegando a refeição que levaria para casa. Quando foi apreendido, ele estava usando máscara e confessou: 'Tudo bem, doutor. Eu sou o Anderson mesmo'".

Em nota, a defesa de Anderson Gordão disse que "o cidadão está condenado por tráfico com recurso pendente. Quanto ao processo de violência, isto é uma inverdade, não há nenhuma relação com tráfico de drogas".