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Exército suspende registro de colecionador de armas de Thiago Brennand

Thiago Brennand foi gravado agredindo uma mulher - Reprodução/Facebook
Thiago Brennand foi gravado agredindo uma mulher Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

11/09/2022 22h40Atualizada em 12/09/2022 08h33

O Exército suspendeu na sexta-feira (9) o certificado de registro de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) de Thiago Brennand, segundo apuração do Fantástico, da TV Globo, após a polícia cumprir mandados de busca e apreensão contra o empresário em um condomínio de luxo, em Porto Feliz, interior paulista. O empresário de 42 anos foi denunciado pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo) por lesão corporal e corrupção de menores após ele ter sido flagrado por câmeras de segurança agredindo uma modelo em academia de luxo de um shopping.

A operação foi realizada no contexto do inquérito aberto pelo 15º Distrito Policial da capital para apurar as agressões contra a modelo. O mandado de busca e apreensão foi expedido pela Justiça de Porto Feliz. Os policiais encontraram uma mala fechada com cadeado e segredo em que foram encontrados 54 acessórios de armas — que serviam para fuzis e rifles.

Ao todo foram listadas peças como lunetas de longo alcance, mira a laser e dispositivos de correção de mira, mas não foram localizadas armas e munições. "A informação é que ele teria guardado algumas armas aqui. (...) Essas lunetas aqui são pra fuzis, pra rifles que ele tem", dizem agentes nas gravações veiculadas pelo Fantástico.

Em entrevista, o delegado Carlos Cesar Rodrigues afirmou ser "muito estranho guardar acessórios para armas de fogo na cocheira dos cavalos". "Na minha opinião ele estava escondendo esse material naquele local. Tudo leva a crer tratar-se de origem ilícita, desse material", completou.

Segundo a emissora, o homem vai responder a um novo inquérito policial. "Se eles [os acessórios] foram importados ilegalmente, legalmente, tudo isso ele [Brennand] vai ter que nos esclarecer. A legislação sobre armas no nosso país é meio nebulosa. A ilegalidade nós vamos aferir a partir da perícia que vai ser feita no material", disse Rodrigues.

Thiago viajou para Dubai no domingo passado (4), poucas horas antes da denúncia do MPSP, que lhe deu 10 dias para retornar. A viagem foi confirmada ao TAB por fontes da Polícia Federal. Conforme apurou a reportagem, ele tinha volta prevista para dia 18 de outubro.

Além de determinar a volta de Thiago Fernandes Vieira ao Brasil, a juíza também proibiu que ele saia do país "sem prévia autorização judicial" e que frequente "academias e/ou estabelecimentos desportivos similares".

Ao Fantástico, a defesa do empresário disse que irá recorre a decisão. Os advogados falaram que a retenção do passaporte é uma "medida cautelar severa" e Thiago "viajou antes do oferecimento de qualquer denúncia e tem data de retorno comprovada nos autos. Não há nem mesmo audiência marcada".

Histórico

Além da modelo, outra mulher contou ao Fantástico que viveu momentos de terror na casa do empresário, alegando ter sido vítima de cárcere privado, agressões e estupro. Ela disse ainda ter sido forçada a fazer uma tatuagem com as iniciais de Thiago e a frase: "Você agora é propriedade minha".

Ela preferiu não mostrar o rosto na reportagem. O caso chegou a ser denunciado à polícia pelo irmão dela, mas ela conta que, sob ameaça, teria desmentido a história em depoimento. Em um trecho de um telefonema entre os dois, o homem diz: "Você não sabe onde está entrando. A minha resposta, ela vem ou em você ou num filho ou num familiar. Você trate de respeitar a minha biografia".

Em 2020, Thiago Vieira também foi alvo de um inquérito por agressão contra o próprio filho, de quem ele tem a guarda desde criança. Na época com 14 anos, o rapaz relatou em depoimento à Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente, em Pernambuco, uma série de maus tratos por parte do pai.

O menino foi levado à polícia pela mãe, que mora no Recife. Ele fugiu de São Paulo após ser agredido por Thiago. Segundo o adolescente, desde os quatro anos ele apanhava do pai, "mesmo que fosse por besteira". Os episódios, detalhou, incluíam agressão com objetos com fio de carregador do celular, corda, galho de árvore, baqueta de bateria e cabides de roupa. Em uma viagem a Fernando de Noronha, disse ele, o pai quebrou "quatro cabides em mim, um atrás do outro, me batendo".

Já um funcionário de um hotel do condomínio em que Thiago mora disse que foi agredido pelo empresário quando saía do serviço, de moto, por supostamente ter passado "correndo" na porta da casa dele. Vitor Machado disse que andava a no máximo 25 km/h e registrou boletim de ocorrência contra o empresário.

O jovem alega que realizou um exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal) de Sorocaba, mas que o laudo "sumiu". Quase dois meses depois da agressão, e usando fotos do dia, o funcionário fez outro exame. Thiago registrou uma ocorrência contra ele por calúnia — no caso da modelo Helena Gomes, o empresário também registrou denúncia contra a vítima.

Técnico de enfermagem de um hospital em São Paulo, um funcionário disse que foi chamado de "bosta" e "palhaço" por Thiago que, ao ser respondido, teria dado um soco nele. O trabalhador registrou um boletim de ocorrência por agressão, mas desistiu do processo por achar que perderia.

Família poderosa

O empresário Thiago Antonio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira, 42, leva o sobrenome de famílias tradicionais de Pernambuco, ostenta uma vida de luxo nas redes sociais, expressa aversão ao Brasil, além de demonstrar ser fã de armas.

Em vídeo publicado recentemente, Thiago afirma que tem casa em quatro países diferentes e que mora fora do Brasil há 27 anos, tendo voltado apenas há dois, pela pandemia da covid-19.

*Com Mateus Araújo, do TAB; e Estadão Conteúdo