Topo

Esse conteúdo é antigo

Morte, multa e famosos: Como a Picanha do Mito acabou em (muita) confusão

Do UOL, em São Paulo

11/10/2022 10h09Atualizada em 11/10/2022 14h50

O que podia ser só uma promoção de um frigorífico de Goiânia gerou tumulto e resultou na morte de uma mulher de 46 anos no dia 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições presidenciais. Na ocasião, o Frigorífico Goiás colocou à venda a "Picanha do Mito", produto em homenagem ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), por R$ 22 — uma referência ao número do político. A peça, no entanto, tem preço médio de R$ 129,99, e já chegou a custar R$ 1,8 mil o quilo.

1º problema: longas filas e tumulto. A ação teve promoção de famosos, como o sertanejo Rodrigo, da dupla com George Henrique.

No dia do evento, uma grande fila se formou na porta do frigorífico. Vídeos mostraram o tumulto gerado entre os clientes, que tentaram forçar entrada na loja.

Cliente morre. Uma das clientes, Yeda Batista, acabou sendo esmagada na fila, segundo o marido dela relatou à Polícia Civil. O caso aconteceu no dia do primeiro turno das eleições.

Yeda tinha problemas circulatórios e nos rins. Diante da situação, decidiu deixar o local e retornar ao carro, onde percebeu que a perna inchava. O casal retornou para casa e o marido dela, Vanderlei de Paula Dias, saiu para votar. Antes que pudesse registrar o voto, ele recebeu a ligação da mulher, informando que as dores persistiam. O homem retornou e levou ela ao hospital, mas Yeda não resistiu.

Causa da morte. O hospital constatou que ela teve um vaso sanguíneo rompido. Segundo Vanderlei, Yeda precisava de cirurgia, chegou a ser transferida do Hospital Santa Mônica para uma UTI do Instituto de Angiologia, mas morreu no fim da tarde.

Um boletim de ocorrência foi registrado como morte acidental. No entanto, foi solicitado um exame cadavérico para apurar as causas da morte da mulher. O caso está sendo investigado pela 4ª DDP de Goiânia.

Yeda também sofreu com uma hemorragia. Segundo a filha dela, Iara Dias, a mãe sofreu uma hemorragia após o tumulto causado pela promoção do frigorífico.

yeda - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Yeda Batista morreu horas após o tumulto
Imagem: Reprodução/Instagram

"Minha mãe tinha problemas nos rins. Ela se machucou durante a 'muvuca' da fila, não tínhamos ideia que o edema ia causar uma hemorragia. E foi essa hemorragia que levou a morte da minha mãe", disse ela ao UOL.

No boletim de ocorrência a família registrou que Yeda tinha Doença de Berger e que a hemorragia fez com que sua perna não parasse de inchar.

mito - Reprodução/Instagram Frigorífico Goiás - Reprodução/Instagram Frigorífico Goiás
Frigorífico Goiás usou foto de Bolsonaro e vídeo com arma para promover a Picanha do Mito
Imagem: Reprodução/Instagram Frigorífico Goiás

A promoção e a venda do produto foram suspensas. Após a repercussão do evento, o juiz eleitoral Wilton Muller Salomão decidiu intervir na ação do estabelecimento, determinando a suspensão dos produtos no dia das eleições. Segundo a GloboNews, a decisão ainda determinou multa de R$ 10 mil por hora em que a promoção ficasse publicada no ar.

Famosos em meio à polêmica: O cantor Gusttavo Lima também virou alvo da Justiça devido à picanha. Ele era um dos sócios do frigorífico e também "o rosto" das campanhas publicitárias. No entanto, em maio deste ano, anunciou ter encerrado os trabalhos de divulgação da marca.

O MPE pediu um inquérito sobre o frigorífico. Na segunda-feira (3) seguinte à morte de Yeda, o MPE (Ministério Público Eleitoral) acionou o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás para que o cantor sertanejo Gusttavo Lima e a Casa de Carnes Frigorífico Goiás sejam condenados ao pagamento de multa de R$ 20 mil por propaganda eleitoral irregular.

A ação está ligada ao uso, em maio, de um helicóptero totalmente adesivado nas cores verde e amarelo, com a mensagem "Bolsonaro Presidente". A representação foi anunciada pela Procuradoria um dia após o primeiro turno das eleições, mas a petição foi apresentada ao TRE na quinta-feira anterior (27).

A "Picanha do Mito" também foi alvo de inquérito. No mesmo dia, 3 de outubro, o Ministério Público Eleitoral em Goiás também determinou que a Polícia Federal abrisse um inquérito sobre o caso do dia das eleições.

procon - Divulgação/Procon GO - Divulgação/Procon GO
Após a confusão gerada pela "picanha do mito", fiscais do Procon de Goiás visitaram o frigorífico em busca de irregularidades
Imagem: Divulgação/Procon GO

Procon autuou estabelecimento. Mais tarde, na quinta-feira (6) daquela mesma semana, o Procon autuou o Frigorífico Goiás após flagrar a comercialização de 50 quilos de carne impróprios para o consumo.

Durante a fiscalização, foram apreendidos mais de 44 quilos de carne refrigerada sem informações sobre a data da embalagem e o prazo de validade, além de 5,5 kg de carne e dez unidades vencidas de tempero e suco de laranja. Os alimentos e bebidas foram descartados no local. Após ser autuada, a empresa pode pagar uma multa que varia de R$ 754 a R$ 11,3 milhões.

Mulher morta vira alvo de ataques. No sábado (8), o perfil no Instagram de Yeda Batista foi bloqueado por determinação da filha dela, após as publicações da mãe serem alvos de ataques nos comentários.

Os usuários diziam que ela "morreu por ser gado" e, diante da situação, a filha optou por bloquear o perfil.