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Mãe de jovem morta a tiros relata ameaças do ex e último pedido da filha

Jenifer, 20, morreu após ser baleada enquanto esperava ônibus para trabalho; ex-marido é suspeito do crime - Reprodução/Redes Sociais
Jenifer, 20, morreu após ser baleada enquanto esperava ônibus para trabalho; ex-marido é suspeito do crime Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Do UOL, em São Paulo

27/10/2022 14h49Atualizada em 28/10/2022 08h40

Uma rotina de ameaças e medo. É assim que a mãe de Jenifer Cristina dos Santos Moreira, 20, morta a tiros a caminho do trabalho na avenida Ragueb Chohfi, zona leste de São Paulo. diz que a filha vivia nos últimos tempos. O ex-marido dela foi preso na sexta-feira (21), como principal suspeito de cometer o crime.

Débora Cristina Victor Dos Santos, mãe de Jenifer, diz que nem uma medida protetiva contra Alessandre Garcia da Silva, 35, interrompeu a violência psicológica cometida contra a jovem. "Ele já ameaçava de matá-la por mensagem de celular. Se ela não voltasse com ele, ele dizia que iria matá-la. E ela já tinha medida protetiva contra ele", contou Débora ao UOL.

Segundo a mãe, o homem não respeitava o mecanismo legal e chegou a ameaçá-la dias antes do crime.

Débora ainda revelou que a filha pediu que ela cuidasse dos filhos caso morresse.

Jenifer era mãe de uma menina de 9 meses, com Alessandre, e de outra de três anos, de outro relacionamento. Débora afirma que tentará manter a guarda da bebê.

Antes da minha filha morrer, ela pediu: 'Caso eu não esteja mais aqui, quem cuida da menina é a senhora'. Eu falei para ela que não era para brincar com isso. Mas esse pedido de uma filha para a mãe não tem preço. Eu vou lutar para ficar com a guarda da minha neta.

A mãe da vítima ainda relatou que a filha não tinha intenção de retomar o relacionamento. "No dia em que ela morreu, ela foi pra minha casa e disse que tinha recebido uma ameaça. E que respondeu dizendo que não queria voltar com ele."

Agressão alertou família

Débora conta que Alessandre era uma pessoa "totalmente diferente" no começo do relacionamento, mas que alguns episódios preocuparam a família.

"Eu recebia ele em casa, nossa família acolheu ele. Então, eles foram morar juntos. Só que teve um dia, há um ano, na casa do meu sobrinho, que percebemos que algo estava errado. Ele pegou uma latinha de cerveja e, do nada, tacou no rosto dela. Foi aí que a ficha caiu. Todo mundo ficou em cima dele e eu nunca mais deixei ele entrar na minha casa."

Segundo a mãe, Jenifer sempre aparecia com roxos pelo corpo, mas tinha medo de contar a verdade sobre a origem dos hematomas. "Ela dizia que tinha caído da escada, que tinha se machucado. Ela nunca falava a verdade, porque ela tinha medo de eu reagir e ele fazer alguma maldade contra mim."

Término e medida protetiva

Há três meses, Jenifer terminou o relacionamento com Alessandre. No entanto, de acordo com a mãe, o ex-marido não aceitava o fim e a família decidiu entrar com um pedido de medida protetiva.

"Ela chegou em casa sem nada. Quando eu a vi, ela estava toda roxa. Ela disse que ele tinha ficado com a filha dos dois e que não iria deixá-la ver a menina até que ela voltasse com ele. No outro dia, eu fui na casa dos pais dele buscar a minha neta. O pai dele pediu para entrarmos em um acordo, para que eles pudessem ver a bebê nos fins de semana. A gente concordou, para não ter briga. E o pai dele era quem buscava a criança. Depois desse episódio, entramos com o pedido de medida protetiva", disse Débora.

Apesar do respaldo legal, Débora diz que Alessandre não cumpria a ordem. "Um dia estávamos na porta de um bar, perto da casa da minha mãe, e quando eu estava passando com a minha neta ele veio para cima. A polícia estava por perto e eu falei para a Jenifer pegar o documento da medida protetiva e mostrar para os policiais. Ela fez isso. O policial disse que ia conversar com o Alessandre, mas depois liberou."

No dia do crime, Débora conta que estava com a neta em casa, enquanto a filha tinha saído para trabalhar. Jenifer aguardava o transporte, quando foi surpreendida pelo ex-marido durante a madrugada da quinta-feira (20). O assassinato foi flagrado por câmeras de segurança da via, que mostraram o momento em ela estava sentada com colegas de trabalho em uma espécie de escadaria. O homem se aproxima por trás e dispara pelo menos cinco vezes contra ela.

"Minha filha sempre foi uma pessoa alegre, trabalhadora, dedicada. Ela era uma menina espetacular, muito meiga. Por isso dói tanto em mim como tudo aconteceu. Quando eles se separaram, ela disse que iria arrumar um emprego para poder estudar. No dia que ela morreu, a chefe dela me contou que eles iriam efetivá-la no emprego, que só estava esperando ela chegar para avisá-la, mas não deu tempo. Tudo o que eu peço agora é Justiça. No túmulo da minha filha, prometemos que a justiça será feita."

A avó vem recebendo doações para cuidar da menina. "É muito dificil porque ele não deixou nada para a neta. Eu só estou forte porque sei que preciso cuidar dela."

Polícia e outro lado

Ao UOL, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que o 49° DP ainda está realizando diligências para a conclusão do inquérito e encaminhamento do caso à Justiça. Alessandre foi preso temporariamente na sexta-feira (21) e a autoridade policial solicitará a previsão preventiva dele posteriormente. "Detalhes serão preservados para garantir a autonomia ao trabalho policial", diz nota.

Segundo o TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), ainda não consta, no inquérito policial, nenhuma informação a respeito da defesa do acusado.