Aluno com autismo é agredido com mata-leão por colega: 'Tortura', diz mãe
Um estudante com autismo foi agredido por um colega de classe em uma escola particular da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, segundo a mãe da vítima relatou em um boletim de ocorrência. O adolescente de 13 anos foi agredido com um "mata-leão" pelo colega, da mesma idade, que depois ainda jogou sobre ele uma garrafa de água fria, dentro da sala de aula.
O garoto foi parar na enfermaria da escola com crise de pânico logo após as agressões. A mãe encontrou o filho com um hematoma no rosto e sem conseguir se expressar.
"Meu filho é autista e sofreu um golpe pelas costas dentro de sala na troca de professores. Ele foi imobilizado, tendo seus braços dobrados para trás e sofreu um mata-leão. A professora do segundo horário entrou, viu a cena, e pediu ao menino para sair de cima do meu filho", disse a mãe.
"Primeiro ele pegou meu filho pelo pescoço, lhe dando um mata-leão e o arremessando com força ao chão, havendo inclusive um forte barulho. Meu filho caiu de costas. Ao tentar se virar, o agressor subiu em cima dele, pegou de novo em seu pescoço, imobilizou seus braços para trás e usou as pernas para imobilizar as pernas do meu filho. Enquanto meu filho estava no chão, imóvel, toda a turma ria da situação, meu filho também ouviu palmas de pelo menos dois alunos. Ele se sentiu extremamente humilhado", acrescentou ela.
Ela conta que o menino se dirigiu até a sua carteira após a agressão, sentou-se e resolveu dormir para que ela não precisasse ser chamada à escola. Quando bateu o sinal do recreio, professor e alunos saíram e ele foi deixado dormindo dentro da sala, sem supervisão de um adulto, segundo ela.
"Nesse momento, o agressor retornou e virou uma garrada de água na cabeça dele, o acordando e molhando todo o material escolar. Ele então entrou em crise e se jogou no chão. Foi encontrado depois sozinho, no chão da sala por alguém, e levado à porta da coordenação, que estava fechada."
A mãe afirma que esta não é a primeira vez que o filho é vitima de abusos por parte do colega. Ela diz que o agressor é reincidente. "Esse adolescente assumiu o papel do ser do mal. É conhecido na enfermaria por chegarem crianças machucadas. Fuma vape. Fica a aula toda no fundo da classe, de fone, ouvindo música. Chama professores de analfabetos. Foi suspenso apenas uma vez, por dois dias, porque bateu na nádega de um professor", afirma ela.
Para ela, a escola vem sendo negligente com o filho e não tem acompanhamento de um professor de apoio, apesar de a lei exigir isso. Para ela, a ausência desse profissional pode contribuir para os constantes casos de violência nos quais o filho é vítima, sempre pelo mesmo agressor — a quem ela pede expulsão da escola.
"Todas a torturas que ele cometeu contra o meu filho e outras crianças e adolescentes foram tratadas apenas com advertência verbal e ele sempre retorna para a sala de aula. Meu filho já me ligou chorando dentro do banheiro porque havia sido cuspido por ele. Todo domingo ele tem crise de pânico porque vai ter que ir à escola na segunda-feira".
Sob medicação
A terapeuta do menino afirmou à mãe que ele estava sofrendo com estresse pós-traumático e ansiedade generalizada, e que ele não terá condições de frequentar a mesma escola que seu agressor.
"Meu filho está medicado desde ontem, além do que tem costume. Hoje acordou tremendo e chorando de novo. E me dizia estar revivendo a cena dele preso no chão, com alguém em cima dele e ele todo molhado", conta a mãe.
Hoje ela esteve na Escola Santo Tomás de Aquino, acompanhada de uma advogada, para discutir as agressões costumeiras contra o filho. Ela quer saber o que de efetivo será feito pela instituição para que as agressões cessem.
"Eu não ia contar, mas irei expor, porque chegou em um nível surreal. Em setembro, meu filho tentou suicídio e ficou dois dias numa CTI. A escola, ciente do diagnóstico, da tentativa de suicídio, das agressões, simplesmente abandonou meu filho. Foi totalmente negligente. Se a escola não expulsar esse aluno, eu irei tomar medidas judiciais e extrajudiciais", afirmou a mãe.
O que diz a escola
Em nota, a escola lamentou o episódio ocorrido na instituição e disse que, em seus 68 anos de serviços, "acolheu outros estudantes neuro diversos e sempre prezou por oferecer o acompanhamento adequado". A escola afirma que "disponibilizou o apoio necessário para seu desenvolvimento pedagógico, e que seguirá oferecendo todo suporte para a família, bem como a manutenção dos canais de diálogo, valor fundamental da Instituição".
"A escola reitera ainda que tomou todas as medidas iniciais necessárias e segue apurando todos os detalhes, acompanhando de perto as rotinas dos alunos a fim de garantir a integridade de todos que convivem sob a sua tutela", declarou.
A Polícia Civil de Minas Gerais informou ao UOL que apura o ocorrido na escola de Belo Horizonte. "Nos próximos dias, os envolvidos serão ouvidos para prestar esclarecimentos. Mais informações serão repassadas em momento oportuno para não atrapalhar os trabalhos investigativos", declarou.
A mãe da vítima e a Polícia não informaram a identidade do agressor, por isso a reportagem não conseguiu contato com os familiares para colher sua versão.
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