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Flordelis disse 'estou livre' após enterro de pastor, relata filho em júri

7.nov.2022 - A ex-deputada federal Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) - Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ
7.nov.2022 - A ex-deputada federal Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) Imagem: Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ

Do UOL, em Niterói

08/11/2022 16h02

Alexsander Felipe Mato Mendes, filho afetivo de Flordelis, afirmou hoje —segundo dia do julgamento da ex-deputada federal no Tribunal do Júri de Niterói (RJ)— que presenciou a mãe falando "estou livre", de braços abertos, após o enterro do marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros em junho de 2019.

A resposta sobre a reação da ex-deputada foi ao advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação. Segundo Alexsander, ele já havia relatado o que viu a Maria Edna do Carmo, irmã de Anderson. Flordelis responde pelo crime junto de três filhos e uma neta.

Convocado pela acusação, Alexsander pediu para depor por videoconferência, pois não queria estar na presença dos réus.

"Choro de crocodilo". Alexsander relatou ao júri que não achava o choro de Flordelis verdadeiro durante o velório e o enterro. "Falo isso com dor na minha alma", disse ele.

Unhas feitas. Ao longo do depoimento, Alexsander contou os momentos em que percebeu sinais de envolvimento da família na morte de Anderson —que no primeiro momento lhe foi contada ser um latrocínio, roubo seguido de morte.

Ele destaca, além do "choro de crocodilo" e do "desabafo" de liberdade, o momento em que Flordelis falou a uma das netas que agora "elas teriam mais tempo para elas".

O filho afetivo também viu com estranheza o fato de a ex-deputada federal ter marcado manicure dois dias após o crime. Inicialmente, Alexsander disse ter acreditado que o cuidado com as unhas era porque Flordelis exercia mandato como deputada e precisava estar arrumada, mas depois juntou o fato a outros elementos observados.

Queturiene. Alexsander reforçou que o apelido de Flordelis era Queturiene —de origem bíblica, o nome fazia menção a como os filhos e netos viam a ex-deputada.

"A gente pensava que ela era um anjo, todo mundo a respeitava", afirmou. O filho afetivo também relatou que ela "tinha muitas experiências com Deus, era notório isso".

Apelidos bíblicos. O apelido de Flordelis não era novidade na família. De acordo com Alexsander, a pastora atribuía nomes bíblicos a todos que entravam na casa. O depoente, inclusive, era chamado de Luan. Hoje, falou que não queria ser chamado assim.

"Não quero mais nada que me lembre esse passado, porque Luan foi o nome que eles me colocaram, a Flordelis [colocou]", disse.

"Anderson tinha um dom". Alexsander também falou sobre como Anderson era visto na família. Ele relata que o pastor "tinha um dom" e que "não tem como falar dele e não se emocionar".

Neste momento, Flordelis, que assistiu a todo o depoimento enrolada em uma manta em razão do ar-condicionado forte na sala de julgamento, também chorava —um choro que começou antes, quando Alexsander relatava como a ex-deputada era vista pela família, "um anjo".

"Não estou dizendo que ele não tinha pecados, ele tinha: às vezes era grosso, era humano. Quando ele ia ler a Bíblia, ele tinha uma facilidade que não era dele, era de Deus. Ele era a escolha de Deus para decifrar e discernir", disse o filho afetivo, que era um ano mais velho que Anderson.

Racha em família. O julgamento expõe um racha na família. Hoje começaram a ser ouvidos filhos adotivos, afetivos, um biológico e netas convocados pela acusação. Uma das noras da ré também será ouvida. Essa é a parte da família que diz acreditar na culpa de Flordelis nos crimes.

Além de Alexsander, são esperados depoimentos dos filhos afetivos Daiane Freires e Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Mizael; o filho biológico Daniel dos Santos de Souza; as filhas adotivas Érica dos Santos de Souza e Roberta dos Santos; a nora Luana Vedovi Rangel Pimenta; e as netas Raquel dos Passos Silva e Rebeca Vitória Rangel Silva.

Tina Turner e Luiza Brunet. A defesa da pastora evangélica com a linha de que ela e algumas de suas filhas e netas foram abusadas sexualmente pelo pastor Anderson do Carmo.

A advogada Janira Rocha comparou hoje sua cliente a artistas como Tina Turner, Luiza Brunet e Xuxa. "Mulheres famosas, poderosas e ricas que sofreram abusos sexuais e só muito tempo depois vieram a público dizer isso. A Flordelis não é uma exceção, as mulheres abusadas têm dificuldades, que são comprovadas, de poder expressar esse abuso", disse a defensora em entrevista à imprensa no segundo dia de julgamento.

A advogada expôs a linha de que Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis que também é ré no processo, foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas de Flordelis.

"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a advogada da ex-deputada.