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Bombeiro sequestrado e morto por traficantes no Rio atuou em Brumadinho

Major dos Bombeiros, Wagner Bonin tinha 42 anos e foi encontrado morto carbonizado na Baixada Fluminense. A identificação do corpo ocorreu nesta quinta-feira (17). - Reprodução/Redes Sociais
Major dos Bombeiros, Wagner Bonin tinha 42 anos e foi encontrado morto carbonizado na Baixada Fluminense. A identificação do corpo ocorreu nesta quinta-feira (17). Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Do UOL, em São Paulo

18/11/2022 04h00

Membro do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (CBMERJ), Wagner Luiz Melo Bonin, 42, encontrado morto e com o corpo carbonizado, na quarta-feira (16), havia atuado nas buscas pelos desaparecidos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). O major dos bombeiros chegou a ser homenageado com uma medalha de mérito, como reconhecimento pelo seu trabalho durante o resgate às vítimas da tragédia em 2019.

Lotado no GOA (Grupamento de Operações Aéreas) desde 2014, ele atuava como enfermeiro especialista em operações aéreas, segundo seu perfil no Facebook. Foi naquele ano, também, que Wagner iniciou o mestrado em Educação em Saúde na Universidade Federal Fluminense (UFF), como compartilhou em sua página.

Profissional dedicado

A última postagem pública feita pelo bombeiro em sua rede social foi para compartilhar a sua participação em um simpósio de urgência e emergência do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

"Simplesmente incrível. Um evento memorável, com muita ciência, informação e competência em transmitir gestão", escreveu Wagner Luiz no dia 10 deste mês.

"Meus olhos brilharam em ver o auditório cheio, em ver tantas autoridades políticas e da saúde. Um trabalho incrível, que foi construído com parceria de tantos amigos", disse o bombeiro, que em sequência agradeceu a vários colegas e profissionais que participaram do evento.

"Agradeço a todos os participantes e apoiadores. Sem vocês não teria sentido este evento. Gratidão!", conclui a postagem.

Wagner durante Simpósio de urgência e emergência do SAMU de Duque de Caxias - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Wagner durante Simpósio de urgência e emergência do SAMU de Duque de Caxias
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Segundo a prefeitura de Duque de Caxias, ele trabalhava como coordenador do Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN). Em uma publicação em meados deste ano, ele compartilhou um "treinamento teórico e prático de embarque e desembarque de pacientes aerotransportados com equipe do HMAPN".

"Finalização com atuação real de recebimento de vítima de aeromédico do CBMERJ. Tudo ocorrido conforme treinamento. Parabéns direção, coordenadores e equipes envolvidas!", concluiu.

Em seguida, um membro do hospital comentou. "A cada dia nos orgulhamos ao perceber no olhar de nossos colaboradores uma alegria ímpar ao ter novas oportunidades de aprendizado e atualizações tão importantes ministradas pelo nosso NEP. Parabéns, Wagner Bonin e Gabriele pelo brilhante trabalho no HMAPN".

Amigo e esposo

Ao comemorar o aniversário da esposa, em julho, Wagner disse que ela lhe surpreendia "todos os dias com força, determinação, coragem, fé e amor. Ganho um presente a cada aniversário seu por ter você ao meu lado". Para finalizar, escreveu: "com Deus ao nosso lado iremos construir juntos todos os nossos sonhos. Creia!"

Após o seu próprio aniversário, ele publicou um agradecimento aos amigos. "Agradeço de coração a todos os amigos que felicitaram palavras de carinho no meu aniversário. Fez o meu dia mais feliz", postou.

O carinho transmitido pelas mensagens de pesar publicadas pela família demonstra o impacto que Wagner deixou para além de suas ações profissionais. Uma prima escreveu que ele era "um menino com coração de ouro. Um ser humano lindo por dentro e por fora. Aquele que lutou bravamente para salvar vidas, teve a sua vida tirada num ato de crueldade", relembrando ainda que o primo havia auxiliado a mulher quando o pai dela sofreu um acidente.

Repercussão

Pelas redes sociais, várias autoridades se manifestaram sobre a morte do major, entre elas, o governo do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.

"É com tristeza e indignação que lamento o assassinato do major BM Wagner Bonin. O CBMERJ está de luto pela perda de um profissional reconhecido pela atuação. Meus sentimentos à família e aos amigos. Determinei às PCERJ e PMERJ celeridade na identificação dos culpados", escreveu o Castro.

A prefeitura de Duque de Caxias também emitiu uma nota de pesar pela morte de Wagner. "A Prefeitura de Duque de Caxias, em nome do prefeito Wilson Reis, manifesta profundo pesar pelo falecimento de Wagner Bonin. Com 42 anos, Wagner era major do Corpo de Bombeiros e coordenador do Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, onde fez grandes amigos e deixará saudades".

A postagem continua: "Wagner deixa uma esposa e uma filha e, neste momento de dor, nos solidarizamos com elas e seus familiares, ratificando nosso voto de pesar pela grande perda. Rogamos a Deus por conforto espiritual neste momento de imensa tristeza", conclui a nota oficial.

Com a repercussão do caso, o perfil do Disque Denúncia Rio pediu que qualquer pessoa que tenha informações sobre o caso fale com as autoridades anonimamente.

Relembre o caso

Segundo a Polícia Civil e os Bombeiros, Wagner Bonin, desapareceu após ser flagrado fotografando barricadas montadas por um grupo criminoso na região onde mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O carro de Bonin e seu corpo carbonizado foram encontrados próximo ao local.

Bonin havia mandado fotos para a Polícia Civil com imagens de uma barricada que teria sido montada por criminosos do Comando Vermelho, que controlam o bairro em que ele mora, dias antes de desaparecer - a corporação não informou precisamente quantos dias antes. O sequestro teria sido, então, uma retaliação pelas ações do major.

Quando os militares chegaram no local, constaram que a placa do veículo era a mesma do carro utilizado por Bonin. Segundo os Bombeiros, o veículo está no nome de uma familiar do major. A Delegacia de Homicídios assumiu as investigações do caso.