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'Meu carro foi parar em cima de um caminhão', diz sobrevivente de Guaratuba

O carro de Constâncio dos Santos Filho  ficou danificado após o deslizamento de terra em Guaratuba - Arquivo pessoal
O carro de Constâncio dos Santos Filho ficou danificado após o deslizamento de terra em Guaratuba Imagem: Arquivo pessoal

Lorena Pelanda

Colaboração para o UOL, em Curitiba

01/12/2022 08h56

"Tudo aconteceu em segundos". É assim que o aposentado Constâncio dos Santos Filho, 72, descreve o deslizamento de terra que deixou ao menos 30 pessoas desaparecidas na BR-376, em Guaratuba, no litoral do Paraná, segundo os bombeiros. Até agora, dois corpos já foram encontrados.

Momentos antes da tragédia, o aposentado tinha levado a esposa para uma consulta médica em Curitiba e seguia de carro na rodovia em direção a Jaraguá do Sul (SC), para deixar a filha e o neto de 4 anos que moram na cidade. Se nada tivesse acontecido, a viagem iria seguir até a residência do casal, que fica Paranaguá, no litoral paranaense.

Bastante abalado, Constâncio disse ao UOL Notícias que durante o trajeto já era possível ver muita água descendo dos morros que ficam próximos da rodovia.

"Quando passamos pelo primeiro pedágio já encontramos um bloqueio, que foi liberado aos poucos, e depois veio outra interdição. Tivemos que parar, desligamos o carro e ficamos esperando a viagem continuar. Foi nessa hora que deslizou tudo. A força do deslizamento jogou o nosso carro contra o guard rail [mureta], passamos para a pista contrária e fomos parar em cima de um caminhão. Foi tudo muito rápido", relembra o sobrevivente.

A família conseguiu sair do carro pela porta do motorista. Os ocupantes de um ônibus de turismo, que passava pelo local e não conseguiu seguir viagem por causa do bloqueio, auxiliaram no resgate.

"A cena é horrível. Muitos carros soterrados e na hora que tudo aconteceu estava muito escuro e chovia muito. Eu só gritava e pedia socorro, mas não ouvia ninguém, nenhum grito, estava tudo em silêncio. Você perde a vida em uma fração de segundo e é inacreditável que estamos bem, sem gravidade. Apenas minha mulher foi encaminhada ao hospital com dores nas costelas por causa do forte impacto".

Desde o dia do deslizamento, a família não consegue voltar para casa e está em um hotel da região.

"Perdemos todas as roupas, tive que comprar sapato, remédio, perdi tudo. Diante de tudo o que aconteceu, isso tudo que perdi foi de menos, já que nem todos tiveram a mesma sorte que eu", finaliza Constâncio.
"Vamos ter que encarar e superar tudo que aconteceu"

Deslizamento na BR-376 arrasta carros e caminhões próximo a Guaratuba (PR)

"Uma avalanche que sai arrastando tudo"

O técnico de panificação, Oswaldo Pagliasi, mora em Mafra (SC) e é um outro sobrevivente. Ele estava sozinho em um carro e seguia de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, para um outro atendimento profissional em Joinville (SC), quando teve a viagem interrompida.

Ao UOL Notícias, ele contou que o trânsito na BR-376 começou afunilar rapidamente até ocorrer o grande deslizamento.

"O fluxo estava em três faixas, virou duas, depois uma pista e veio o desmoronamento em cima de mim. Meu carro foi jogado para a lateral, como uma avalanche que sai arrastando tudo. Quando o veículo parou, consegui sair e procurar um local seguro. Foi a mão de Deus que não deixou meu carro em um lugar pior. Ali, tinha mais chance de dar tudo errado, do que certo", relembra.

Logo que ele saiu do carro, Oswaldo foi surpreendido por um pai desesperado.

"Veio um senhor muito assustado pedindo para ficar com o filho dele, uma criança que parecia ter uns 4 anos, já que ele precisava voltar e tirar mais gente do carro. Peguei essa criança e caminhei uns 300 metros para encontrar um lugar seguro, até que apareceu uma senhora, falando que era a mãe dele. Eles foram embora. Não sei quem são essas pessoas, não sou herói, apenas acolhi, já que estava incapaz de ajudar naquele momento".

Em seguida, ele encontrou um caminhoneiro que também sobreviveu após a carreta tombar.

"Também não sei quem é esse senhor, que pediu ajuda. Saímos juntos até sermos levados ao hospital. Fomos agradecendo por ter sobrevivido de uma catástrofe enorme. Não era nem para estar contando está história para você. Agora é hora de encarar e superar tudo que aconteceu. Vou voltar para a estrada, pois faz parte do meu trabalho", diz Oswaldo.