Topo

Esse conteúdo é antigo

Seguranças torturam 2 homens suspeitos de furtar carne em mercado no RS

A sessão de tortura no depósito do supermercado durou, segundo a polícia, cerca de 45 minutos - Reprodução/Fantástico
A sessão de tortura no depósito do supermercado durou, segundo a polícia, cerca de 45 minutos Imagem: Reprodução/Fantástico

Colaboração para o UOL

05/12/2022 00h51Atualizada em 05/12/2022 00h51

Seguranças de um supermercado espancaram dois homens suspeitos de furtar dois pacotes de picanha, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre (RS). Um dos homens foi hospitalizado com ferimentos graves e teve que ser mantido em coma induzido.

A sessão de tortura, ocorrida no dia 12 de outubro, foi gravada por câmeras de segurança no depósito do local. O vídeo foi revelado pelo "Fantástico", da Rede Globo, na noite deste domingo (4). A polícia só soube do espancamento por causa da internação de um dos homens agredidos. O hospital informou a agressão à polícia, e os agentes procuraram um parente da vítima, que contou que ela havia sido espancada em um mercado da cidade, a 20 km da capital gaúcha.

Durante as investigações, a polícia descobriu que o HD no qual ficam armazenadas imagens de 31 câmeras do supermercado havia sido formatado. O delegado Robertho Peternelli determinou a apreensão do equipamento e o seu encaminhamento à perícia. O perito criminal do IGP (Instituto Geral de Perícia) do RS recuperou os arquivos.

Os policiais se depararam com cenas de tortura contra os dois homens, um deles negro, numa sessão de agressões violentas, com socos, pontapés e agressões com pedaços de madeira, que durou cerca de 45 minutos. A polícia identificou cinco seguranças como suspeitos das agressões, além do gerente e o subgerente do supermercado.

Nas imagens, um homem de casaco azul, conduzido por um segurança, retira dois pacotes que havia escondido sob a roupa e os entrega ao gerente da loja. À polícia ele disse que contou aos seguranças que havia um parceiro esperando fora do supermercado.

Uma das câmeras mostra o segurança, de camisa amarela, voltando do estacionamento com a segunda vítima — esse homem acabou hospitalizado.

"Ele foi o que mais apanhou, e muito na região do rosto", disse o delegado ao "Fantástico".

Até jogam água no rosto dele, porque ele sangrava em abundância. Tivemos ali um tribunal de exceção, constituído naquele momento, com uma pena sendo aplicada sumariamente. Não é possível que trabalhemos nessa ideia da vingança privada"
Robertho Peternelli, delegado

As imagens recuperadas pela polícia mostram que um dos homens é agredido pelo segurança com um soco e uma rasteira. Segundo o delegado, ali tem início a tortura, assistida de perto pelo gerente e o subgerente, que não interromperam as agressões, até surgir um segundo segurança. Ele e o primeiro agridem o homem no chão até chegarem mais dois seguranças e um deles chuta a vítima.

As agressões continuam e os seguranças passam a agredir os homens com tábuas, pedaços de madeira e estruturas feitas com pallets.

Acusação de tortura e ocultação de provas

Segundo Peternelli, os cinco seguranças e o gerente devem ser indiciados sob a acusação de tortura e ocultação das provas. O subgerente deverá ser acusado de tortura e omissão.

A polícia investiga ainda indícios do crime de extorsão mediante sequestro. Isso porque os homens agredidos só teriam sido liberados após o pagamento de R$ 644 — os pacotes que tentaram roubar custavam cerca de R$ 100 cada um

Depois da sessão do espancamento, os cinco seguranças voltaram ao mesmo depósito e posaram para uma foto, tirada pelo gerente do supermercado.

Ao final das agressões, e após ter extorquido R$ 644 dos homens, os seguranças posam para uma foto, tirada pelo gerente - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Ao final das agressões, e após ter extorquido R$ 644 dos homens, os seguranças posam para uma foto, tirada pelo gerente
Imagem: Reprodução/TV Globo

Em nota enviada ao "Fantástico", o supermercado da rede Unisuper, em Canoas, afirmou que repudia veementemente qualquer ato de violência ou de violação dos direitos humanos.

"Estamos integralmente à disposição das autoridades para fornecer todas as informações solicitiadas no intuito de contribuir com as investigações", diz a nota da empresa.

O inquérito é comandado pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Canoas.

Caso Beto

Em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, morreu após ser agredido por dois seguranças no supermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, às vésperas do feriado da Consciência Negra. Os agressores, um deles PM temporário, fora de serviço, foram presos, suspeitos de homicídio doloso.

Em novembro deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul informou que os seis acusados de serem os responsáveis pela morte de Freitas irão a júri popular.