Topo

Luto e pouco movimento: como Hebraica reagiu a tragédia com garoto

Do UOL, em São Paulo

05/02/2023 04h00Atualizada em 06/02/2023 16h58

No dia seguinte a uma tragédia, o movimento no clube Hebraica não chegava a 20% do normal. Para um sábado de verão, o local estava quase vazio, segundo vários funcionários e sócios que conversaram com o UOL.

Na sexta-feira (3), um menino de 14 anos foi comemorar um gol e se pendurou na trave, que se virou e caiu sobre ele. Lesões no tórax provocaram uma parada cardíaca. Alexandre, conhecido como Lelê, não resistiu.

Peritos da Polícia Científica chegaram ao clube no final da manhã deste sábado (4). Os agentes tiraram fotos e fizeram medições na quadra em que ocorreu a tragédia. O trabalho durou horas e acabou no começo da tarde.

A quadra foi liberada para uso após a perícia, disse um funcionário. Uma corrente foi usada para prender a trave.

O garoto morreu em 3 de fevereiro, exatamente um mês depois de completar 14 anos. As lembrancinhas dos primeiros aniversários ajudam a contar o desenvolvimento dele. No primeiro ano, traziam os personagens do Backyardigans. Com dois anos, começou a fase de brincar de carrinho.

As imagens exibiam também o menino vestindo uma camiseta com estampa do Relâmpago Mcqueen, sentado no capô do carro que é personagem principal do filme da Disney.

No ano seguinte, foi a vez de aparecer de macacão de piloto num cenário de Hot Wheels. Lembrancinhas produzidas pela mãe, que trabalha há 20 anos com marketing, design gráfico e comunicação visual.

A criança cresceu, e o gosto pelo futebol apareceu. Ele era frequentador assíduo do clube e gastava muito tempo jogando bola. Isto explica o inconformismo de funcionários do núcleo esportivo do Hebraica.

A morte também interrompeu a criação judaica. Além de exercer a religião, sua família fazia ações para arrecadar dinheiro e permitir que judeus com menos condições pudessem ter mesa farta em data como o Rosh Hashaná (ano novo no calendário judaico).

A criação respeitando a religião ainda inclui estudar na Escola Alef Peretz, que se define como local que forma seres humanos apaixonados pelo saber, com leitura crítica de questões universais a partir de perspectiva judaica.

Na sexta, Lelê se divertia em quadra, e a mãe participava de um encontro com amigas num restaurante do Hebraica. Foi assim até o momento do acidente. Naquela hora, o médico do clube correu para atender o menino ainda na quadra. As pessoas que estavam perto se aglomeraram em volta.

Durante o atendimento, um funcionário ligou para a mãe e a aglomeração se desfez. Não havia mais clima para ficar no clube e as pessoas foram para casa.

Como em escolas, o protocolo do Hebraica determina consulta à família para decidir onde levar o garoto. Os pais escolheram o Hospital Samaritano, mas o quadro do paciente se agravou no caminho.

A ambulância mudou a rota para o Hospital das Clínicas. A chegada coincidiu com uma parada cardiorrespiratória. O velório está marcado para hoje de manhã no Butantã, mesmo local em que o avô foi velado em novembro do ano passado.

Em nota, o clube Hebraica afirmou que está apurando a sequência de acontecimentos e em contato com a família do jovem para prestar apoio e esclarecimentos. O texto diz ainda que a quadra onde aconteceu o acidente foi interditada e toda a agenda comemorativa do clube foi suspensa.