Mulher diz que foi abusada por fisioterapeuta na UTI do hospital São Luiz
Sob efeito da anestesia após uma cirurgia de hérnia de disco, uma publicitária de 28 anos, que não quer ser identificada, diz ter sofrido importunações e abusos sexuais do fisioterapeuta Nicanor dos Santos Modesto Júnior dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital São Luiz Jabaquara, na zona sul de São Paulo. O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 3ª Região abriu um processo ético contra o profissional.
O advogado de defesa do fisioterapeuta, Lucas Simões Ramos de Castro Paixão, afirmou que Nicanor "nega veementemente os fatos". Paixão disse que, em depoimento à polícia, Nicanor contou sua versão por duas horas e apresentou provas. "Nunca houve dentro do São Luiz qualquer tipo de acusação nesse sentido contra ele", disse.
As primeiras abordagens de Nicanor, segundo ela, começaram no dia 18 de janeiro, um dia após o procedimento cirúrgico. Cinco dias depois, na segunda-feira (23), segundo boletim de ocorrência, Nicanor voltou ao quarto e disse: "Soube que você teve uma câimbra no domingo, vou fazer uma massagem na sua panturrilha para soltar a musculatura e melhorar a câimbra". A defesa do fisioterapeuta nega que ele estivesse no hospital nesse dia.
O Hospital São Luiz Jabaquara afirmou que o fisioterapeuta foi afastado no dia 23 de janeiro. Segundo a unidade, ele era funcionário de uma empresa de fisioterapia terceirizada. O hospital disse ainda que uma sindicância interna foi aberta.
A vítima afirma que o fisioterapeuta forjou um protocolo médico para cometer o abuso.
Eu vou puxar a sua calcinha para o lado e vou colocar o dedo dentro de você para soltar a musculatura por dentro da sua vagina"
Quase um mês após o abuso, a jovem relata que não consegue dormir, faz acompanhamento psicológico, teve piora na recuperação da cirurgia e não conseguiu retomar a rotina de trabalho. "Não consigo falar com nenhum fisioterapeuta. Vivi em função de correr atrás de delegacia", afirmou.
"Vítimas de um estupro demoram para cair na realidade. A violência sexual paralisa", diz Luciana Terra, advogada da publicitária e diretora da ONG Me Too. "Ela está com muito medo de sair de casa, com crises de pânico."
Os abusos
Segundo o boletim de ocorrência, na primeira vez que entrou no quarto, Nicanor pediu que a enfermeira retirasse o soro da jovem para que ela pudesse se levantar e caminhar pelo quarto. Neste momento, ele teria abaixado o roupão que a publicitária usava e deixado seus seios à mostra.
Ainda no dia 18 de janeiro, a jovem conta que Nicanor continuou no quarto quando ela foi tomar banho acompanhada da mãe e da enfermeira. Já no dia 23, ao forjar o protocolo de fisioterapia para cometer o estupro, a publicitária lembra que sentiu uma espécie de "espasmo" durante o abuso. Nicanor teria perguntado se ele estava a machucando. A jovem diz que, mesmo afirmando que estava sentindo dor, o fisioterapeuta não parou.
Sem conseguir contar à mãe o que havia ocorrido, a jovem continuou na UTI até que o fisioterapeuta voltou ao quarto dela à tarde. A jovem afirma que, quando a mãe estava de costas, Nicanor teria pedido para ela ficar em pé com a mão apoiada na janela. Nesse momento, ela diz que, agachado simulando massagear a panturrilha da jovem, a violentou sexualmente mais uma vez.
À noite, Nicanor teria voltado, mas a mãe da jovem disse ao fisioterapeuta que a filha já estava cansada.
Trauma e recuperação
A jovem afirma que deixou a unidade do Hospital São Luiz Jabaquara no dia 25 de janeiro. "Me expulsaram do hospital, saí da UTI para casa, não me ofereceram uma transferência para outra unidade, nem para o quarto, nada. Tive muita dor na cirurgia, saí do hospital tomando morfina, tive que ir para outro hospital", diz a publicitária.
Questionado, o hospital afirmou que "acolheu a denúncia e ofereceu suporte médico e psicológico à paciente. Ela recebeu alta direto para casa no dia 26 pois recusou a alta para o quarto no dia anterior."
A publicitária afirma que enfrenta dificuldades para voltar à rotina. "Estou totalmente dependente da minha mãe, não consigo tomar banho, não tenho forças nos braços e tomo remédio controlado para a dor", diz. A jovem está afastada do trabalho e vai ter de adiar o início em um curso de pós-graduação.
A defesa trabalha pela condenação do fisioterapeuta pelo crime de estupro de vulnerável, cuja pena varia de oito a 15 anos de prisão, pela suspensão da atividade do profissional e pela responsabilização do hospital sobre uma possível omissão dos profissionais responsáveis.
Outras acusações
Nicanor é acusado de abusar de uma mulher grávida em um hospital maternidade de Guarulhos, em outubro de 2021. A Associação Beneficente "Jesus, José Maria", que administra o hospital, informou que "foi uma ocorrência lamentável" e que atendeu "imediatamente" a vítima. "Desligamos o referido profissional e acionamos a autoridade policial."
O Hospital São Luiz Jabaquara informou que a empresa que o contratou para a unidade "não tinha conhecimento de seus antecedentes criminais".
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