Mais de 400 morreram após tromba-d'água em 1967: 'vi o morro descer'
Chovia forte há meses em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, quando uma tromba-d'água atingiu a cidade e matou mais de 400 pessoas em 18 de março de 1967. Nas primeiras horas, o aposentado Rodoaldo Graciano Fachini, hoje com 80 anos, não imaginou que o barulho era de um desmoronamento.
Estava em casa e quando ouvi o barulho achei que era trovão. Depois veio um volume muito alto de vozes. Quando saí, vi o morro descendo."
Rodoaldo Fachini, aposentado
Caraguatatuba fica a 20 km de São Sebastião, que registrou no último domingo (19) mais de 600 mm de chuva —o que foi considerado um "evento climático extremo". É o volume de chuvas recorde anotado em um só dia no Brasil. Até a tarde de sexta-feira (24), a cidade somava 53 mortos.
"O que aconteceu na Vila Sahy [área mais atingida em São Sebastião] aconteceu em Caraguá inteira", diz Fachini. De acordo com dados da época, somente no dia 18, quando houve a tromba-d'água, o município acumulou 420 mm de chuva.
Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, tromba-d'água é como um funil de água caindo em uma mesma área. É um fenômeno relacionado a nuvens do tipo cumuliforme, que atinge uma região mais específica.
Apesar de as autoridades confirmarem "ao menos 437 mortes" na tragédia de Caraguatatuba, moradores afirmam que o número passou de 500.
Calcula-se extraoficialmente que desapareceram cerca de 4 mil pessoas. Também desapareceram cerca de 400 casas sob a lama e as árvores que foram arrastadas pelo deslizamento da serra."
Prefeitura de Caraguatatuba
A casa de Fachini não foi destruída —como não perdeu bens, ele foi às ruas para visitar os locais mais afetados e ajudou como guia no helicóptero para mostrar os lugares mais afetados.
Um dos bairros foi o Caputera, onde a dona de casa Cecília Ribeiro, 69, morava com sua família. Na época com 13 anos, ela conta que voltava de um mercadinho quando viu o deslizamento e só não morreu "por um milagre".
Cheguei e falei para minha mãe que o morro estava descendo. Se a gente não tivesse saído de lá, teríamos morrido, porque a nossa casa inteira foi destruída."
Ela e sua família se abrigaram no alto de um barranco. Depois que o deslizamento cessou, foram para a casa de uma mulher que também acolheu outras famílias. "Lembro de ver uma senhora morrer abraçada na árvore e dias depois encontrar uma moça morta no chão. Era difícil", afirma Cecília.
Só com a roupa do corpo, ela e outros desabrigados buscavam as doações no centro de Caraguatatuba. "A ponte tinha sido engolida, então a gente passava pelo rio segurando em uma corda para chegar até o local que tinha roupa, alimento e água."
Fachini também cita a "ponte" improvisada e os estragos em diferentes pontos. "Depois de um ano você ainda encontrava bastante madeira na cidade", diz o aposentado.
Para ele, no entanto, o que mais o impressionou foi o "grande gesto de solidariedade" dos moradores de Caraguá e outras cidades. "Recebemos doações de muitos lugares e isso que ajudou a cidade a se reerguer", defende o aposentado.
No último fim de semana —com as fortes chuvas—, Caraguá não registrou mortos. Ao menos dez bairros ficaram alagados.
*Com informação de reportagem publicada em 08/01/2022
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