Família fica ilhada após chuvas no litoral norte: 'Medo de morrer'
O gerente de trade compliance Rodrigo Baroni, 47, ficou ilhado com a família e os amigos após as chuvas do último fim de semana em São Sebastião (SP). Hospedado na Praia Preta, Rodrigo só conseguiu deixar o local após fazer uma trilha, guiado pela Defesa Civil.
"Na hora, eles pediram para a gente colocar o tênis, mas não tínhamos mais tênis. Os sapatos foram levados pela lama. Tivemos que ir de chinelo", contou Rodrigo ao UOL.
Ele estava hospedado com a mulher e os dois filhos, de 3 e 9 anos, na casa de um amigo em um condomínio na Praia Preta. "Por volta das 7h da manhã do domingo o dono da casa me chamou pela janela dizendo que não dava para sair pela porta porque tava bloqueado pela lama. A sala, a cozinha e o estacionamento inteiro tinham sido atingidos. A rodovia Rio-Santos tinha virado uma floresta porque desceu muita árvore."
Rodrigo conta que a primeira preocupação foi em relação ao filho adolescente do dono da casa. O menino havia passado a noite em Boiçucanga e, devido à falta de sinal e internet, a família não sabia se ele estava bem.
"Ele andou 40 min com a lama na cintura na rodovia e voltou dizendo que a Rio-Santos não existia mais. Que era impossível de acessar. Então, ele resolveu ir pelo caminho das pedras até Boiçucanga, um trecho de 20 km. Ele saiu por volta das 8h e só tivemos notícia dele às 18h, informando que o filho estava bem. Foi muita angústia."
Enquanto o amigo procurava pelo filho, Rodrigo disse que os que ficaram decidiram limpar a casa e tentar obter informações sobre o que estava acontecendo na cidade.
"Um dos vizinhos, de um condomínio ao lado, chegou dizendo que a casa não tinha sido afetada e ofereceu de irmos lá comer. Depois que tivemos sinal e soubemos que nosso amigo e o filho dele estavam bem, fomos para a casa do vizinho. O acesso era pela praia e estava muito complicado porque tinha muita lama, galhos de árvores e a maré estava alta. Tinha lama até o joelho."
Rodrigo diz que permaneceu na casa do vizinho com a família e os amigos, ilhados. Eles chegaram a tentar contato com os barqueiros para ir embora, mas foi informado que não havia como navegar naquele momento.
"Senti medo de morrer ali. Não tinha dimensão do que estava acontecendo ao meu redor. Ao mesmo tempo, precisava manter uma estrutura emocional para os meus filhos. Achei que não ia conseguir sair de lá."
Rodrigo conta que, no dia seguinte, a Defesa Civil apareceu, guiando-os para fora do local. "Era uma trilha que eles abriram passagem. A lama ia até o joelho e tínhamos que passar por umas árvores. Estávamos com medo, mas tínhamos o apoio deles para se equilibrar."
A família chegou até uma van onde foram encaminhados para Juquehy. De lá, se deslocaram para Riviera, onde foram acolhidos por outro amigo. Mais tarde, o dono da casa em que estavam hospedados e o filho adolescente também chegaram a Juquehy com apoio das autoridades.
Agora, estamos tentando manter a cabeça erguida. Deixamos lá o carro, a mala, todas as nossas coisas, mas não estamos pensando nesses bens materiais. O trauma posterior que gerou está bem significativo. Sempre que vejo as notícias, tenho vontade de chorar. A possibilidade de morrer mexeu muito com a gente.
Ao menos 57 pessoas morreram após as chuvas que ocorreram no litoral norte paulista. Às 18h40 de ontem, a Defesa Civil divulgou que há "chuva persistente" na região de São Sebastião e Caraguatatuba, com vento e raios — com risco para novos deslizamentos.
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