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Radical e a 200 km/h: quais os riscos do salto que matou paraquedista no ES

Jonathas Cotrim

Colaboração para o UOL

28/02/2023 12h51

A paraquedista norte-americana Kali Turner morreu no domingo após fazer um salto com traje planador da Rampa do Cabrito, na área rural de Castelo (ES). A atleta caiu de uma altura de aproximadamente 800 metros.

Ela praticava a modalidade de wingsuit (no inglês, traje com asas). O salto é feito com um macacão que faz a pessoa planar, também chamado "traje de morcego".

Como funciona o wingsuit?

* O traje planador funciona seguindo conceitos da aerodinâmica, ao proporcionar queda horizontal, diferentemente da queda vertical, como acontece no salto de paraquedas convencional.

* A roupa especial, quando aberta, cria uma resistência no ar, provocando um retardo na queda e permitindo que o praticante plane no ar.

* O salto torna-se um deslocamento lateral, com velocidade média de queda livre reduzida de 200km/h para 60km/h. A velocidade lateral, porém, alcança mais de 200 km/h.

* O tempo de voo é maior nessa modalidade do que em saltos de paraquedas convencionais.

A cada metro que vamos para baixo, vamos dois ou até três metros para frente
Flávio Jordão, instrutor de wingsuit da Escola FlyBrothers

* O traje é composto de materiais resistentes, como o kevlar e nomex, o que aumenta a segurança da prática. O praticante carrega um paraquedas nas costas, que permite termina a descida de forma mais tranquila e pode ser acionado em caso de emergência.

Kali - Reprodução/Instagram; e Reprodução/Instagram/notaer.es - Reprodução/Instagram; e Reprodução/Instagram/notaer.es
Kali Turner teria saltado de uma pedra de cerca de 800 metros de altura na Rampa do Cabrito, no Espírito Santo
Imagem: Reprodução/Instagram; e Reprodução/Instagram/notaer.es

Quem pode praticar?

  • É necessário bastante experiência com saltos de paraquedas, com no mínimo 200 saltos. Com esse requisito, o atleta já pode realizar saltos com o traje planador partindo de avião.
  • Caso queira avançar, o praticante então passa a treinar o base jump (salto de lugares com bases estáticas). Somente depois, os atletas estão preparados para saltos de wingsuit de montanha.
  • Os saltos com o traje planador exigem conhecimento corporal para manter a estabilidade do traje. Nos cursos preparatórios também é ensinado noções de física, aerodinâmica, meteorologia e teoria de voo -- conhecimentos necessários para o praticante realizar saltos com climas seguros e ventos favoráveis.

Quais os riscos do wingsuit?

  • É uma modalidade radical e envolve queda livre: são diversos os riscos de acidentes.
  • O risco muitas vezes está nas pessoas que praticam, pois querem pular etapas, diz Flávio Jordão.
  • Muitas mortes nessa modalidade são provocadas por pessoas que tentam fazer saltos para os quais não estão aptas ou prepraradas, segundo Jordão.
  • Os saltos feitos de montanhas são mais perigosos do que os realizados de avião e exigem muito mais cuidados e perícia, afirma o especialista.
  • Na montanha, o salto é de uma altura menor e dá menos tempo para possíveis correções. Também é feito em uma área sem muito locais para pouso.
  • O atleta carrega apenas um paraquedas, usado para a finalização, enquanto no salto de avião, é possível carregar até dois paraquedas.
  • Todos esses perigos tornam o wingsuit uma atividade radical de alto risco, em que até mesmo os praticantes mais experientes estão sujeitos a acidentes.

Como evitar acidentes?

É necessário ter uma boa preparação e respeitar os próprios limites, segundo Jordão. Ele elaborou uma cartilha com dicas para a prática do wingsuit seguro:

  • Fazer voos apenas quando estiver devidamente preparado, com total confiança e segurança;
  • Na dúvida, não saltar;
  • Ter muito tempo de voo com a asa que escolheu usar;
  • Praticar com frequência;
  • Nunca usar dois componentes do traje novos em um mesmo salto;
  • Usar a asa correta para o jump que realizará;
  • Seguir um passo de cada vez sem pular etapas;
  • Respeitar e entender as condições climáticas;
  • Respeitar e entender as próprias condições físicas antes de um salto;
  • Estar emocionalmente estável;
  • Ter bons professores, tutores e companheiros de salto.

O caso de Turner

Turner era uma paraquedista experiente e já havia saltado no Espírito Santo em janeiro de 2022, de acordo com publicações em suas redes sociais. Ela era praticante de wingsuit.

Em outras postagens do Instagram, é possível ver Turner saltando de um balão e praticando outras modalidades de paraquedismo, como o base jump.

Ela possivelmente teve problemas com seu equipamento e caiu praticamente em queda livre na mata que circunda a localidade —bastante fechada e de difícil locomoção em seu interior, de acordo com o Notaer (Núcleo de Operações e Transporte Aéreo).

O perfil do atleta Diego Pimenta compartilhou há alguns dias que Kali fazia o seu "primeiro wingbase". "Ainda me colocou no lugar perfeito pra esse que foi um dos mais maneiros voos entre árvores que já fiz", escreveu.

No vídeo é possível ver a paraquedista saltando de um ponto muito alto.