Radical e a 200 km/h: quais os riscos do salto que matou paraquedista no ES
A paraquedista norte-americana Kali Turner morreu no domingo após fazer um salto com traje planador da Rampa do Cabrito, na área rural de Castelo (ES). A atleta caiu de uma altura de aproximadamente 800 metros.
Ela praticava a modalidade de wingsuit (no inglês, traje com asas). O salto é feito com um macacão que faz a pessoa planar, também chamado "traje de morcego".
Como funciona o wingsuit?
* O traje planador funciona seguindo conceitos da aerodinâmica, ao proporcionar queda horizontal, diferentemente da queda vertical, como acontece no salto de paraquedas convencional.
* A roupa especial, quando aberta, cria uma resistência no ar, provocando um retardo na queda e permitindo que o praticante plane no ar.
* O salto torna-se um deslocamento lateral, com velocidade média de queda livre reduzida de 200km/h para 60km/h. A velocidade lateral, porém, alcança mais de 200 km/h.
* O tempo de voo é maior nessa modalidade do que em saltos de paraquedas convencionais.
A cada metro que vamos para baixo, vamos dois ou até três metros para frente
Flávio Jordão, instrutor de wingsuit da Escola FlyBrothers
* O traje é composto de materiais resistentes, como o kevlar e nomex, o que aumenta a segurança da prática. O praticante carrega um paraquedas nas costas, que permite termina a descida de forma mais tranquila e pode ser acionado em caso de emergência.
Quem pode praticar?
- É necessário bastante experiência com saltos de paraquedas, com no mínimo 200 saltos. Com esse requisito, o atleta já pode realizar saltos com o traje planador partindo de avião.
- Caso queira avançar, o praticante então passa a treinar o base jump (salto de lugares com bases estáticas). Somente depois, os atletas estão preparados para saltos de wingsuit de montanha.
- Os saltos com o traje planador exigem conhecimento corporal para manter a estabilidade do traje. Nos cursos preparatórios também é ensinado noções de física, aerodinâmica, meteorologia e teoria de voo -- conhecimentos necessários para o praticante realizar saltos com climas seguros e ventos favoráveis.
Quais os riscos do wingsuit?
- É uma modalidade radical e envolve queda livre: são diversos os riscos de acidentes.
- O risco muitas vezes está nas pessoas que praticam, pois querem pular etapas, diz Flávio Jordão.
- Muitas mortes nessa modalidade são provocadas por pessoas que tentam fazer saltos para os quais não estão aptas ou prepraradas, segundo Jordão.
- Os saltos feitos de montanhas são mais perigosos do que os realizados de avião e exigem muito mais cuidados e perícia, afirma o especialista.
- Na montanha, o salto é de uma altura menor e dá menos tempo para possíveis correções. Também é feito em uma área sem muito locais para pouso.
- O atleta carrega apenas um paraquedas, usado para a finalização, enquanto no salto de avião, é possível carregar até dois paraquedas.
- Todos esses perigos tornam o wingsuit uma atividade radical de alto risco, em que até mesmo os praticantes mais experientes estão sujeitos a acidentes.
Como evitar acidentes?
É necessário ter uma boa preparação e respeitar os próprios limites, segundo Jordão. Ele elaborou uma cartilha com dicas para a prática do wingsuit seguro:
- Fazer voos apenas quando estiver devidamente preparado, com total confiança e segurança;
- Na dúvida, não saltar;
- Ter muito tempo de voo com a asa que escolheu usar;
- Praticar com frequência;
- Nunca usar dois componentes do traje novos em um mesmo salto;
- Usar a asa correta para o jump que realizará;
- Seguir um passo de cada vez sem pular etapas;
- Respeitar e entender as condições climáticas;
- Respeitar e entender as próprias condições físicas antes de um salto;
- Estar emocionalmente estável;
- Ter bons professores, tutores e companheiros de salto.
O caso de Turner
Turner era uma paraquedista experiente e já havia saltado no Espírito Santo em janeiro de 2022, de acordo com publicações em suas redes sociais. Ela era praticante de wingsuit.
Em outras postagens do Instagram, é possível ver Turner saltando de um balão e praticando outras modalidades de paraquedismo, como o base jump.
Ela possivelmente teve problemas com seu equipamento e caiu praticamente em queda livre na mata que circunda a localidade —bastante fechada e de difícil locomoção em seu interior, de acordo com o Notaer (Núcleo de Operações e Transporte Aéreo).
O perfil do atleta Diego Pimenta compartilhou há alguns dias que Kali fazia o seu "primeiro wingbase". "Ainda me colocou no lugar perfeito pra esse que foi um dos mais maneiros voos entre árvores que já fiz", escreveu.
No vídeo é possível ver a paraquedista saltando de um ponto muito alto.
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