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Rachaduras, vazamentos, estalos: 5 sinais de que uma casa pode cair

Vários deslizamentos são vistos na Barra do Sahy, em São Sebastião - AMANDA PEROBELLI/REUTERS
Vários deslizamentos são vistos na Barra do Sahy, em São Sebastião Imagem: AMANDA PEROBELLI/REUTERS

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

26/02/2023 04h00

O temporal que deixou centenas de vítimas e desabrigados no litoral Norte de São Paulo acendeu um alerta para o risco de novos desabamentos na região. Ao UOL, Gerardo Portela, engenheiro especialista em riscos e segurança, pontuou cinco sinais visuais que podem ser percebidos antes da queda de uma casa.

Segundo o especialista, não é necessário esperar um temporal para perceber os indícios de queda.

O ser humano tem uma tendência de achar que a sua casa é sempre o local mais seguro do mundo, então existe uma dificuldade em sair, mas na realidade ele nem deveria ter ido para aquele local devido aos riscos.
Gerardo Portela, engenheiro especialista em riscos e segurança

  • Área de risco

Antes de construir, é preciso observar se há encostas, as casas que estão ao redor e o custo para a construção. O local onde se vive e a documentação do imóvel — ou a falta dela — são sinais de alerta. Para Gerardo Portela, uma obra pode dar sinais de queda até mesmo antes de ser construída e, morar em áreas consideradas de risco é outro grande indício.

Se a sua casa está em um local de risco, é questão de tempo.

"Se o imóvel não foi construído com rigor, ele vai cair. Pode ter certeza que o custo de construir de forma segura é altíssimo. Quando o terreno plano é ruim, e se é de encosta, é sinal de muitos problemas e pode desmoronar", alerta o especialista.

Muitas vezes, um imóvel até parece estar em boas condições, mesmo com uma documentação desregularizada. Para o engenheiro, isso por si só já é um risco, porque acaba disseminando a ideia de que viver em áreas proibidas é bom e seguro, quando, na verdade, não é:

"Na maioria dos casos no Brasil, as pessoas não têm recursos. Elas moram em um imóvel que não tem projeto e vivem numa área não autorizada. Essa área só cresce e os moradores acabam disseminando a informação de que ali está tudo bem, é seguro. Muitas vezes aparece alguém capitaneando isso de forma ilícita, como é o caso de milicianos, que ocupam áreas extremamente perigosas e vendem os imóveis com aparências de prédios normais, mas na realidade são prédios completamente irregulares e com risco de colapso".

  • Desalinhamentos

Pisos, paredes, portas e janelas tortas são sinais de alerta de que tem algo errado. Esses "pequenos" sinais acabam sendo normalizados. Na maioria das vezes, no entanto, é preciso deixar o local para evitar o pior.

"Uma porta que você instala, uma janela, que no início abre e fecha bem, passa a não movimentar direito, passa a não fechar mais, é um risco. Inclinação de piso ou pisos que cedem também são sinais de perigo", explica Gerardo.

  • Vazamentos

Rompimentos frequentes de tubulações, instalações elétricas e vazamentos também são indicações de riscos e colapso na estrutura.

"O vazamento pode ser causado por um dano estrutural ou pode causar um problema na estrutura. Às vezes a estrutura está íntegra, mas um vazamento, uma infiltração, pouco levada a sério, entra pelo concreto e alcança a armação, que são os vergalhões de aço que dão a sustentação. Chegando ali, começa o processo corrosivo e nisso vai tendo menos capacidade de resistir aos esforços naturais", expõe.

  • Rachaduras

Rachadura em uma casa nunca é um bom sinal, mas diferenciar uma fissura superficial de uma estrutural é algo que só um profissional pode fazer com segurança, segundo Gerardo. O engenheiro ainda explica que rachaduras estruturais são aquelas que envolvem pilares, vigas e as lajes.

"Não é recomendável conviver com uma rachadura como se fosse algo normal. Até mesmo a superficial pode ser indício de algum problema que você não está vendo, mas que seja algo de influência estrutural", alerta o especialista.

  • Barulhos

Por último, Gerardo alerta para os barulhos vindos da construção. Normalmente, isso significa que o risco de desmoronamento é altíssimo.

Nesses casos, a atenção deve ser voltada para sinais visuais, como, por exemplo: fissuras em pisos e paredes; elementos estruturais como pilares, vigas e lajes; instalações íntegras; janelas e portas fechando livremente; telhados alinhados; e qualquer coisa que saia de esquadro, cria fissuras e possa ser um sinal de desmoronamento.

Os barulhos, estalos, já são condições limites. Quando chega a estalar é porque a situação está muito próxima de colapsar.

Ao perceber esses sinais, ele alerta que sair da casa é o melhor a ser feito para evitar uma tragédia. Embora seja difícil, pensar no pior cenário pode ajudar na tomada de decisão.

O especialista ainda reforça que o problema maior não são as chuvas, mas sim a falta de políticas públicas para as pessoas que vivem em áreas de risco.

"O peso dos elementos de concreto, alvenaria, é terrível, é um cenário de terror. Quando a gente pensa realmente no perigo é que a gente se prepara para ele. Falar isso com a população de baixa renda é muito difícil, porque muitas dessas pessoas estão trabalhando e conseguem montar sua casa, adquirir seus bens através do fruto de um trabalho de carteira assinada, mas vivem em um local de risco por falta de opção dada pelo poder público".