Ei, olha para baixo! Tampas de bueiros guardam memórias incríveis do Rio
A história de uma cidade pode ser registrada de diversas maneiras, além da forma documental. Postes, praças, viadutos são carregados de detalhes repletos de significado histórico. Mas foram os bueiros da cidade do Rio de Janeiro que chamaram a atenção do estudante de direito carioca Thiago Süssekind, 23.
Fascinado com os registros que colecionou ao longo de três meses, o jovem resolveu publicar nas redes sociais um vídeo com informações relacionadas aos bueiros da cidade, com foco nos equipamentos da região central da cidade.
Não deu outra. Ele acabou aguçando a curiosidade de milhares de internautas e atraiu pessoas interessadas em conhecer a história desses equipamentos.
Somente no TikTok, o vídeo "A História pelos Bueiros do Brasil" já teve mais de 157 mil visualizações e 34 mil curtidas.
Ao UOL, Süssekind conta que teve a ideia de iniciar a pesquisa após observar uma boca de lobo localizada em frente à sua residência, no bairro do Jardim Botânico.
"Eu fiquei curioso quando vi a inscrição na grelha: 'Prefeitura do Districto Federal'. Primeiro porque o Rio de Janeiro deixou de ser capital do Brasil há muito tempo. E, segundo, pela grafia da palavra, com a inclusão da consoante 'c' em 'districto'. A partir daí, comecei a pesquisar e não parei mais".
Süssekind logo deduziu que aquela boca de lobo deveria ser anterior a 1960. Afinal, o Rio de Janeiro foi capital do País entre 1891 e 1960.
Mas o detalhe da consoante a mais o fez pesquisar na internet por informações, até que se deparou com o acordo ortográfico publicado em 1931.
Descobri que nessa data as consoantes 'mudas', como eram chamadas, caíram em desuso por conta do acordo. Então, esse bueiro em frente à minha casa tem que ser do período entre 1891 e 1931. Eu achei isso muito interessante"
Ao todo, o estudante já mapeou cerca de dez tampas de bocas de lobo (aberturas laterais nas guias das calçadas, por onde a água da chuva escorre) e poços de visita (que são aberturas redondas, com cobertura de ferro fundido, que ficam no meio das vias e servem para a inspeção e manutenção da rede coletora de esgoto).
Anotando no celular
Süssekind começou registrando em vídeo os equipamentos que mais lhe chamavam a atenção —seja por um desenho diferente ou pelas inscrições gravadas neles.
Depois, anotava no bloco de notas do celular a localização e os detalhes que poderiam ser usados para estudo na internet.
Ele cita, por exemplo, a tampa de um poço de visitas que encontrou na região central da cidade, com as letras "RIC" gravadas. Ele descobriu que a sigla pertencia à antiga City (The Rio de Janeiro City Improvements Company Ltda.).
"Um nome chique para a empresa inglesa que operou no Rio, naquela que foi a primeira concessão de serviços de saneamento da cidade", conta Süssekind. "Assinada pelo então imperador Dom Pedro 2º, e que durou de 1862 a 1947".
Companhia de Telégrafos
Outro achado interessante do estudante foi a tampa de outro poço de visita no centro do Rio, com a sigla RGT (Repartição-Geral de Telégrafos), que atuou no Brasil de 1881 a 1931.
"Isso é muito antigo, a gente nem usa mais telégrafo, tem muito jovem que nem sabe o que é um telégrafo", comenta o estudante.
Süssekind diz que sua intenção com os vídeos foi estimular outros jovens a procurar em suas cidades detalhes da história brasileira.
Ele é um apaixonado pelo tema, apesar de estar se formando em direito, e atua como professor voluntário de história do Brasil em um curso pré-vestibular social que atende moradores de comunidades como a Rocinha.
"O Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma história muito rica e isso está presente nas ruas, nas esquinas. É muito legal receber mensagens com pedidos por mais informações, de gente que quer conhecer e aprender um pouco da história do nosso país", diz.
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