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O que leva tantos tubarões a PE e por que banhistas seguem entrando no mar?

Tubarão-tigre é uma espécie comum no litoral de Pernambuco - Wikimedia Commons
Tubarão-tigre é uma espécie comum no litoral de Pernambuco Imagem: Wikimedia Commons

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

07/03/2023 09h33Atualizada em 07/03/2023 14h13

Impactos ambientais e geológicos provocados pela construção do Complexo Portuário de Suape, no litoral sul da Região Metropolitana do Recife, são um dos motivos apontados por especialistas para a frequência de ataques de tubarões na costa pernambucana.

Os acidentes com tubarões na costa de pernambuco começaram a aumentar de forma descontrolada a partir da construção do porto em Suape, no início dos anos 1980. Houve aterramento de alguns estuários de rios, que serviam tanto para espécies de tubarões desovar quanto para tubarões maiores se alimentar. Esses estuários são berçários naturais para diversas espécies marinhas. Com a construção do porto de Suape, os tubarões perdem uma cozinha e uma maternidade
Andrey Freire, professor de biologia e especialista em ciências ambientais, em entrevista ao UOL

Os casos mais recentes foram registrados em menos de 24 horas. Nesta segunda (6), uma adolescente de 15 anos foi mordida no braço esquerdo. No domingo (5), um jovem de 14 anos foi mordido na perna e precisou amputar o membro. Eles se recuperam no Hospital da Restauração, onde passaram por cirurgia.

Ambos foram atacados na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE), onde já foram registrados 16 incidentes com tubarão desde 1992.

Nas faixas da Região Metropolitana, principalmente na praia de Piedade, que fica no município de Jaboatão dos Guararapes, e em Boa Viagem, em Recife, passam canais perto das águas mais rasas. Esses canais vão de 6 a 8 metros de profundidade. Os animais ficam todos ali. Quando a maré sobe, os animais desses canais se aproximam das águas rasas, ficam próximos da faixa de areia e que acontecem esses acidentes
Andrey Freire

Ao longo de 20 anos desde o primeiro acidente, possivelmente a população de tubarões já aumentou por ali.

O banho naquele trecho do mar é proibido desde julho de 2021, quando um turista morreu próximo ao ponto conhecido como "igrejinha". A adolescente é a 77ª vítima de tubarões na costa pernambucana desde o início da contabilização, incluindo 10 ocorrências em Fernando de Noronha (PE) — ao todo, 26 pessoas morreram

O professor de biologia lista duas espécies de tubarão predominantes na costa pernambucana, segundo dados de monitoramentos mais atuais: os tubarão-tigre e os cabeça-chata.

"Essas espécies ficam no top 3 das mais agressivas do mundo, junto com o tubarão-branco
Andrey Freire

Ele confirma que a região conhecida como "igrejinha", na praia de Jaboatão dos Guararapes, e a praia de Boa Viagem, no Recife, são os locais sob maior risco de ataques. Surfistas também estão temendo os ataques.

'Falta de educação ambiental'

Embora aponte a construção do porto de Suape como a principal causa para o impacto geológico naquele entorno, o especialista diz que a maioria dos ataques ocorre por culpa da população. Segundo ele, não há respeito às sinalizações nas praias.

Há inclusive registro de banhistas entrando na água poucos minutos após um dos ataques. Bombeiros tiveram de tirar a força um homem que estava no mar.

Nós somos o litoral que tem mais sinalização contra-ataques de tubarão em todo o mundo onde acontecem esses ataques. Não é por falta de sinalização, de orientação, que as pessoas são mordidas. Longe disso. Hoje em dia a gente pode dizer que 100% dos ataques são provocados por falta de respeito do ser humano. Todo mundo aqui sabe que é proibido. Entra-se por teimosia e ignorância. O animal não é culpado

Os ataques vão aumentar?

Freire defende que, além das sinalizações, é preciso que os órgãos ambientais voltem a fazer o monitoramento de tubarões nos mares pernambucanos.

"Essa população de tubarão vem aumentando. Faz um tempo que não temos monitoramento. Com certeza, com o número maior desses animais, e a teimosia de alguns banhistas, esses ataques tendem só a aumentar.

Em parceria com universidades, os monitoramentos sugeridos pelo especialista devem apontar:

  • Se as espécies atuais são as mesmas que tínhamos há 20 anos.
  • Se a população de tubarão de fato aumentou.
  • Caso tenha aumentado, descobrir quais espécies se instalaram e se são mais agressivas.

O ambiente está desequilibrado, e esse equilíbrio que provoca a incidência de ataques não voltará ao normal. Os ataques vão aumentar? Vai depender da população. Se a população respeitar, vamos ter ataque zero. Se desrespeitar, sempre vamos ter acidentes
Andrey Freire

Errata: este conteúdo foi atualizado
A foto usada inicialmente na matéria e na Home do UOL mostrava um tubarão-touro, e não um tubarão-tigre. O conteúdo foi corrigido.