Topo

Batismo e veto a Rivotril: como é o Sindicato do Crime, rival do PCC no RN

20.jan.2017 - Na porta de Alcaçuz, um pequeno grupo de mulheres mostra uma faixa e cartazes pedindo a saída de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) da unidade - Beto Macário/UOL
20.jan.2017 - Na porta de Alcaçuz, um pequeno grupo de mulheres mostra uma faixa e cartazes pedindo a saída de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) da unidade Imagem: Beto Macário/UOL

Do UOL, em São Paulo

15/03/2023 15h20Atualizada em 15/03/2023 15h50

Apontada como a responsável pela série de ataques no Rio Grande do Norte, o Sindicato do Crime é uma facção criminosa fundada há cerca de dez anos, como uma dissidência do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Como surgiu?

  • O Sindicato do Crime começou a ser montado ainda em 2012 e cresceu sua influência atuando no RN;
  • Na época, presos ligados ao PCC questionavam a obrigação de seguir ordens e enviar recursos arrecadados com o crime para São Paulo;
  • Com o racha, as duas facções passaram a disputar o crime organizado no Rio Grande do Norte;
  • No entanto, o Sindicato do Crime foi ganhando mais força na região;
  • O grupo tem o lema "Humildade, paz e liberdade".
O PCC é mais organizado, mas o Sindicato tem mais integrantes [no RN]. E eles são mais violentos, estão envolvidos com os crimes de varejo. Diria que o PCC opera no atacado [das drogas]." Eliabe Marques Da Silva, subtenente da PM.

O grupo foi descoberto com as investigações da operação Alcatraz, em 2014. O grupo e o estatuto foram definidos por conversas no WhatsApp e veio à tona após apreensão de celulares. Uma primeira denúncia contra cinco membros do grupo foi feita em 18 de dezembro daquele ano. Nela, promotores informam detalhes de como a facção passou a dividir o poder do crime junto ao PCC.

Aliados a facções como o Comando Vermelho e Família do Norte, os integrantes do Sindicato do RN fazem parte de uma rede de grupos que tentam impedir o monopólio do PCC.

Como funciona?

  • Com 16 "artigos", prevê itens inusitados, como a proibição do uso de crack e do calmante Rivotril;
  • Em gravações telefônicas, os promotores também descobriram que todos os integrantes da organização passam por um rito de batismo;
  • Os integrantes do Sindicato são obrigados a pagar mensalidades ao grupo;
  • Esse pagamento dá direito a alguns "benefícios", como acesso a advogados e assistência a familiares, em caso de prisão;
  • Os ataques contra o Estado costumam ser planejados pelas lideranças do Sindicato dentro do sistema prisional;
  • As ordens então são repassadas aos criminosos nas ruas em grupos de WhatsApp;

A facção já foi responsável por outros momentos de terror. Em agosto de 2016, atentados geraram um prejuízo de R$ 4 milhões ao setor de transportes. Na época, 32 veículos foram incendiados em um intervalo de sete dias no Rio Grande do Norte.

Em junho de 2018, a facção foi responsável por ataques a uma base do Corpo de Bombeiros em Mossoró. Homens atiraram contra o prédio e atearam fogo em dois veículos da corporação.

Um dos supostos líderes está preso desde janeiro deste ano. José Kemps Pereira de Araújo, 44, apontado pelas autoridades como mentor intelectual dos ataques desta semana, estava foragido por romper a tornozeleira eletrônica quando cumpria regime semiaberto.

Ele é conhecido pelas autoridades há mais de dez anos. Em setembro de 2011, ele foi preso por suspeita de integrar uma quadrilha especializada em roubos de caixas eletrônicos. Na ocasião, a quadrilha tinha carro roubado, armas e até coletes da PM.