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'Tive crise de ansiedade': jovem narra 8 horas de sequestro em carro de app

De UOL, em São Paulo

18/03/2023 04h00

Uma jovem de 19 anos viveu momentos de terror ao ser sequestrada por uma quadrilha de motoristas de aplicativo na Grande São Paulo. A modelo Giovanna Pacheco contou ao UOL que ficou cerca de 8 horas nas mãos dos sequestradores. O caso ocorreu no dia 2 de março, por volta das 4h da manhã. Nesta segunda (13), três homens de 26, 27 e 29 anos, foram presos suspeitos de integrar o esquema especializado em extorquir mulheres.

Entrei no carro, estava tudo normal. Depois de uns 10 minutos, outro carro parou ao lado e dois meninos entraram e colocaram um pano preto na minha cabeça. Eles disseram: 'a gente não quer te matar nem te machucar, só queremos dinheiro'. Giovanna Pacheco.

Segundo câmeras de segurança, o outro carro já estava seguindo ela desde a porta de casa. A vítima afirma que eles exigiram R$ 40 mil. No entanto, ela só conseguiu transferir R$ 10 mil para os criminosos.

"Eles levantaram a minha saia e bateram na minha bunda. Eles pegaram as minhas fotos do celular e compartilharam com eles. Disseram: não tem problema pra você, né? E eu ia falar o que? Eles estavam armados. Mas é claro que eu não queria isso."

Giovanna ainda relatou que foi chamada de "gostosa" e que, em posse do celular, os criminosos começaram a enviar mensagens para outros contatos dela pedindo por mais dinheiro. No entanto, segundo ela, ao envolver mais pessoas, os criminosos ficaram apreensivos e resolveram liberá-la.

Giovanna Pacheco ficou cerca de 8 horas nas mãos dos sequestradores - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Giovanna Pacheco ficou cerca de 8 horas nas mãos dos sequestradores
Imagem: Reprodução/Instagram

"Eles pediram um Uber para eu voltar porque queriam logo se livrar de mim. Entrei nesse outro carro e o motorista não queria fazer a corrida comigo porque tive uma crise de ansiedade. Ele falou: 'ouvindo sua história, tá bem estranha, eu não vou conseguir fazer essa corrida pra você' e me deixou no posto de gasolina. E fiquei meia hora até que apareceu uma outra mulher, que me salvou pedindo um novo carro para mim."

Ao chegar em casa, a jovem disse que queria prestar queixa na polícia, mas estava com medo de sair de casa. Uma viatura foi até a residência dela para levá-la à delegacia.

Fiquei com medo de sair porque eu não dirijo e teria que pedir um outro carro por aplicativo.

A vítima ainda relatou que, dias depois, começou a receber ameaças pelas redes sociais. Segundo ela, os criminosos pediram para que ela não denunciasse o caso.

Eles disseram que sabiam meu endereço, começaram a fazer pressão psicológica. Eu tô bem agora, mas fiquei com trauma. Eu só queria não ter medo de sair na rua, ainda mais utilizando aplicativo. Eu não tenho carro e dependo muito disso. Agora, quando eu vou sair, eu peço para algum conhecido vir me buscar porque eu tô com medo.

Os suspeitos foram presos por organização criminosa, extorsão, roubo e tentativa de homicídio durante uma ação. Uma mulher de 46 anos estava sendo mantida refém dentro de um VW/Voyage, que era acompanhado por um HB20. A mulher foi libertada e os três conduzidos à delegacia.

Ao todo, a Polícia Civil registou sete vítimas, incluindo Giovanna. Todas elas eram mulheres, segundo a polícia. Os aplicativos utilizados pelos homens eram Uber, 99 e inDrive. As investigações continuam em andamento.

O que dizem as empresas

Em nota, a Uber lamentou o ocorrido e informou que colaborou com as investigações do caso. "A Uber possui uma equipe especializada, formada por ex-policiais, que está sempre à disposição das autoridades", diz comunicado.

A empresa ainda afirmou que "defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro" e que, por isso, elabora desde 2018 diversos projetos no enfrentamento da violência contra a mulher.

A Uber também informou que os motoristas cadastrados passam por checagem de apontamentos criminais, além de fazer rechecagens periódicas dos motoristas ativos na plataforma. "De toda forma, sabemos que os esquemas de fraude estão em constante evolução e é por isso que a Uber está comprometida em atualizar e fortalecer seus processos internos para se proteger deles", conclui a nota.

A inDrive Brasil também lamentou o ocorrido e disse que bloqueou permanentemente os envolvidos assim que tomou conhecimento dos fatos. "Desde o início das investigações, a empresa vem prestando suporte direto às operações policiais. A inDrive preza pela segurança e bem-estar dos seus usuários e continua em contato com as autoridades e vítimas para dar todo o auxílio", diz nota.

A 99 disse que repudia ações criminosas e que segue colaborando com as investigações da polícia. A empresa ainda afirmou que fiscaliza junto ao Detran o cadastro dos motoristas, além de fazer reconhecimento facial periódico de cada um deles antes de se conectarem.

"Além das verificações, a 99 analisa, durante o processo de cadastro, o histórico público de cada um a partir dos documentos enviados e faz uma consulta de antecedentes criminais em mais de 40 fontes públicas e consultamos com o Denatran se o carro é roubado ou se possui algum sinistro", finaliza nota.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.