Sahy: 'Peguei corpo de criança, tentei salvar vidas e não tenho mais casa'
Moradores da Vila Sahy, em São Sebastião, viram de perto a tragédia que arrasou a região e deixou dezenas de mortos em fevereiro. Eles perderam parentes, amigos e suas casas. E dizem lidar, agora, com a incerteza sobre onde vão morar.
A Vila Sahy foi uma das áreas mais atingidas pelo temporal. Casas desabaram em meio à correnteza de lama e moradores narraram cenas de terror.
Construções que resistiram terminaram com rachaduras e sob risco de novos deslizamentos. Para evitar mais mortes, aqueles que viviam em áreas de risco foram retirados de suas casas.
Parte dos moradores foi às ruas no último fim de semana para cobrar soluções das autoridades depois que tiveram suas casas destruídas. Eles dizem estar inseguros em relação às novas moradias prometidas.
Hoje, estão vivendo de favor ou em hotéis e pousadas contratados pela prefeitura. Segundo a Defesa Civil estadual, há 2,2 mil desalojados e 1,8 mil desabrigados.
Sabrina Barbosa de Almeida, 29, é uma das moradoras que teve a casa condenada na Vila Sahy. Hoje, ela mora com o marido e a filha em um apartamento em Juquehy, graças à ajuda de uma amiga que conseguiu o local para a família ficar por um mês.
"Tínhamos comprado a casa há 8 meses na vila [do Sahy]. Reformamos ela inteira e agora não temos mais casa porque não podemos voltar para lá, já que está em zona de risco", disse ela, ao UOL.
A minha casa fica em frente ao local onde a maioria das pessoas morreu. Vi tudo da minha varanda, peguei corpo de criança no meu colo. Eu e os vizinhos nos desdobramos para tentar salvar vidas. A minha dor é enorme. Nunca vou esquecer
Sabrina Barbosa
Segundo Sabrina, mesmo com iniciativas como transferir pessoas para hotéis da região, os moradores ainda vivem uma situação de insegurança. Ela afirma, ainda, que a oferta de locais temporários em Bertioga dificulta a rotina do trabalhador.
Estamos sendo expulsos. As pessoas moram aqui, têm emprego aqui. Elas estão ficando na casa de patrão, de familiares, de alguém que resolveu ajudar da mesma forma que me ajudaram. Só que não dá para essas pessoas ajudarem para o resto da vida
Sabrina Barbosa
"Precisamos ter para onde voltar. Querem derrubar as casas que estão lá, mas a população não deixa. Como vão derrubar a casa das pessoas sem dar uma garantia de que elas terão para onde ir? Estamos pedindo socorro e com o psicológico abalado", diz Sabrina.
Construção de novas casas
O governo de São Paulo informou que já foram identificados terrenos para construir novas moradias. Na última quinta-feira, dois terrenos particulares que somam 39,3 mil metros quadrados no bairro Baleia Verde foram desapropriados para o programa habitacional.
No dia 25 de fevereiro, outro decreto desapropriou um terreno particular de 10.632 metros quadrados na Vila Sahy.
As unidades construídas, segundo o governo, serão destinadas ao atendimento de moradores de áreas de risco e famílias que perderam as casas na tragédia, que deixou 64 mortos.
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Além dos terrenos desapropriados, ainda há outros dois de cerca de 20 mil metros quadrados. Eles são conveniados com a Prefeitura de São Sebastião e receberão empreendimentos habitacionais: um no bairro da Topolândia e outro em Maresias.
Todos eles, segundo o governo, não estão em uma área de inclinação e não foram atingidos pelas chuvas.
O total das moradias será definido após a finalização dos estudos da região, informou a SDUH (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação) ao UOL.
A pasta estadual também disse que "segue prospectando novos terrenos para atendimento habitacional definitivo".
Sobre a previsão de prazo de entrega das casas definitivas, o governo estadual ainda não detalhou. O governador Tarcísio de Freitas chegou a estimar o prazo de 180 dias para a entrega das casas, após a liberação dos terrenos.
Ele também informou a criação de "vilas de passagem", moradias para as pessoas aguardarem a finalização das casas definitivas, em um dos terrenos. Não foram informados mais detalhes sobre isso.
Com a ajuda da iniciativa privada já oferecida, viabilizaremos em áreas seguras o que chamamos de Vilas de Passagem, de construção rápida. São moradias geminadas, temporárias, para abrigar essas pessoas enquanto aguardam as casas definitivas. Quando essas 100 pessoas forem para as moradias definitivas, outras 100 ocuparão as Vilas de Passagem. E assim sucessivamente
Governador Tarcísio de Freitas, em 23 de fevereiro
Banco de imóveis
Sobre as reclamações dos moradores, o UOL questionou a Prefeitura de São Sebastião e a Secretaria de Desenvolvimento Social, do governo do Estado. A pasta estadual não respondeu até a publicação desta reportagem.
Já a Prefeitura de São Sebastião informou que 1.096 desabrigados foram encaminhados a pousadas e hotéis da região.
Disse ainda que vai implantar um "banco de imóveis-auxílio aluguel" para incentivar proprietários de imóveis desocupados e casas de temporada a alugar as propriedades aos desabrigados.
Os atingidos devem receber, por seis meses, um auxílio-aluguel de até um salário mínimo (R$ 1.302) para o pagamento da moradia.
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