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'Pai, por que ele fez isso?', perguntou sobrevivente de creche em Blumenau

Diego Correa Ribeiro com a filha Heloísa, 5, uma das sobreviventes do ataque a uma creche de Blumenau (SC) - Arquivo pessoal
Diego Correa Ribeiro com a filha Heloísa, 5, uma das sobreviventes do ataque a uma creche de Blumenau (SC) Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

07/04/2023 15h47

Uma das sobreviventes do ataque a uma creche de Blumenau (SC) que deixou quatro crianças mortas nesta quarta-feira (5) questionou o pai sobre o atentado.

Ela perguntou: 'pai, por que ele [autor do ataque] fez isso com as crianças?'. Eu só respondi dizendo que ele é do mal
Diego Correa Ribeiro, pai de Heloísa

Como foi o caso

Pai contou ter "furado" bloqueio em frente à creche para ver filha. O soldador Diego Correa Ribeiro, 34, disse que ficou sabendo do ataque ao receber uma ligação da esposa. Como trabalha a 150m da creche, foi um dos primeiros a chegar no local.

Heloísa sofreu ferimento na parte de trás do pescoço e lesão no ombro. Após sentir o impacto do golpe por trás, a menina de 5 anos contou aos pais que saiu correndo. Foi quando foi levada por uma professora da creche para uma sala, onde estavam as outras crianças.

Sobrevivente disse ter visto o ataque às outras crianças. A família foi orientada no hospital por uma psicóloga a deixá-la falar sempre que quiser falar sobre o ataque.

Cinco crianças sobreviveram ao ataque e já tiveram alta hospitalar.

Minha esposa ligou aos prantos, falando que era para eu correr até a creche e ver se o ataque tinha sido ali. Vi a movimentação de policiais e me identifiquei como pai. Aí, fiquei sabendo que havia óbitos. Consegui furar a barricada e corri para dentro da creche. Quando olhei para o lado, vi a minha filha na ambulância. Ela estava aos prantos e suja de sangue. Mas estava viva
Diego Correa Ribeiro, pai de Heloísa

O ferimento no pescoço está suturado e ela já não sente tanta dor. De vez em quando, ela fala [do ataque]. A psicóloga disse que é para deixar ela falar, para que ela não guarde para ela. Em alguns momentos ela voltava no assunto. A gente tem que prestar a atenção, responder e conversar

Crianças sobreviventes no hospital

Profissionais do hospital choravam ao ver os sobreviventes, conta Diego. "São profissionais que estão acostumados a ver pessoas feridas, mas estavam bem abalados. Vi profissionais chorando quando viram as crianças feridas", diz o pai de Heloisa.

Pai diz ter se emocionado ao ouvir relato da filha. "Ela disse que sentiu um golpe atrás e pensou que fosse soco ou chute. Caiu no chão, levantou e saiu correndo. Aí, sentiu que estava sangrando. O agressor a atingiu de mau jeito. Se o golpe fosse certeiro, ela não estaria aqui".

Pais de outra sobrevivente são padrinhos de Heloísa. A outra menina também se feriu. "Ela [Heloisa] ficava perguntando pela amiga".

Flores na creche e viagem para a praia

Família viajou para o litoral catarinense, a pedido de Heloisa. "Quis tirá-la desse ambiente, porque as pessoas acabam nos visitando. E queremos evitar de falar desse assunto perto dela".

Antes de pegar a estrada, a menina e os pais deixaram flores na frente da creche, em homenagem às vítimas.

Deixamos flores na creche e oramos pelas crianças. Mas não tive coragem de ir aos enterros. Poderia ser a minha filha ali. Prefiro lembrar daqueles anjinhos brincando
Diego Correa Ribeiro

Filha acalma os pais

A mãe de Heloisa chorava muito quando a viu no hospital, segundo o pai da criança. "Mas ela [Heloisa] disse: 'calma, eu estou bem'. Ela estava assustada no início. Depois, parecia estar mais preocupada com a gente do que com ela", diz Diego, pai da menina.

Pais de sobreviventes se consolaram no hospital. "O contato com os outros pais foi de carinho e de buscar o lado positivo porque os nossos filhos estão vivos. Mas também há o sentimento de tristeza pelas crianças que não tiveram a mesma chance".