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'Não consegui fazer exame pelo plano de saúde porque sou uma pessoa trans'

O jornalista Caê Vatiero teve exame ginecológico negado pelo plano de saúde - Divulgação/Nadja Kouchi
O jornalista Caê Vatiero teve exame ginecológico negado pelo plano de saúde Imagem: Divulgação/Nadja Kouchi

Do UOL, em São Paulo

20/04/2023 04h00

O jornalista trans Caê Vatiero, 23, teve um exame ginecológico negado pela Bradesco Saúde. Ele conta que, ao chegar a uma clínica na zona leste de São Paulo, foi informado de que seu plano de saúde não havia liberado o procedimento. A Bradesco Saúde nega a versão do jornalista.

O que diz o jornalista

Vatiero tinha um ultrassom transvaginal, solicitado por sua ginecologista. O exame foi marcado com mais de 15 dias de antecedência na CDB Inteligência Diagnóstica, unidade da Mooca, e estava previsto para acontecer na última terça-feira (18) às 11h30.

A clínica conseguiu a liberação imediata para o ultrassom de mamas, mas não para o transvaginal. Esse exame, crucial para analisar possíveis doenças no útero, ficou em análise pelo plano.

Quase uma hora depois, Vatiero começou a questionar a clínica pela demora. "Em nenhum momento eu falei que era uma pessoa trans porque eu não acho que tenho a obrigação de falar isso", afirma o jornalista.

A atendente, então, ligou para um setor interno, segundo Vatiero. "Ela ficava repetindo 'ele é trans, ele é trans, ele é trans'."

Eu não consegui fazer o exame pelo plano porque sou uma pessoa trans. Isso ficou nítido. A justificativa [do plano] foi que na minha carteirinha constava o gênero masculino e o exame é para mulheres cis."
Caê Vatiero, jornalista

Exames como esse são aprovados rapidamente para mulher cisgênero (que se identifica com o seu gênero biológico), segundo pessoas com conhecimento no funcionamento de clínicas.

guias - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Guia com negativa de exame
Imagem: Arquivo pessoal

A clínica ligou para a Bradesco Saúde e foi informada de que o exame poderia demorar até duas horas para ser aprovado. Mas isso não aconteceu.

Vatiero pagou para fazer o exame. Somente às 14h o jornalista conseguiu realizar o ultrassom transvaginal, depois de fazer o pagamento particular no valor de R$ 100.

Outro lado

A Bradesco Saúde informou ao UOL que "não houve negativa de cobertura para o procedimento em questão".

A Companhia reitera que entrou em contato com o beneficiário para prestar os devidos esclarecimentos e o caso está em tratativa."
Bradesco Saúde em nota

O UOL também procurou a clínica. Em nota, o laboratório CDB informou que "foram apresentados dois pedidos de exame, sendo um liberado imediatamente pela Bradesco Saúde e realizado no próprio dia".

Em relação ao outro pedido, a Bradesco Saúde não respondeu de imediato ao pedido de liberação."
CDB em nota

O que mais diz o jornalista

É um exame sensível de se fazer, porque ficamos completamente vulneráveis, expostos. Fazia anos que eu não fazia esse exame justamente por essa complexidade enquanto uma pessoa trans."
Caê Vatiero

É muito dolorido passar por uma situação dessa quando tudo que queremos é nos cuidar fisicamente. Como um plano de saúde não tem protocolos pensados para pessoas trans? Não temos nenhuma proteção de acesso ao direito básico que é a saúde. Transfobia é crime, não se pode negar o atendimento de saúde para uma pessoa trans."
Caê Vatiero

cae - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Clínica respeitou nome e gênero do jornalista
Imagem: Arquivo pessoal