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Dançarina negra relata abordagem racista da PF em aeroporto de Rondônia

Do UOL, no Rio

01/05/2023 18h30

A dançarina Marcelly Batista denunciou, por meio de um vídeo em seu perfil no Instagram, o que considerou uma abordagem racista de agentes da Polícia Federal durante embarque de passageiros em seu voo em Rondônia, no último sábado (29).

O que aconteceu

Marcelly fez uma transmissão ao vivo ao sair da abordagem no aeroporto. Ela disse que foi a única passageira chamada pelos agentes.

A dançarina, uma jovem negra, tem passagens por programas de TV como o Faustão na Band, no qual integrou o balé em 2022.

Estava aqui sentada no aeroporto de Rondônia sozinha. E aí, do nada, os caras da Polícia Federal vieram e me pararam. Me levaram para uma sala sozinha, me revistaram, mandaram eu soltar a trança. Me levaram pra sala sozinha, revistaram minha bolsa. Me mandaram tirar a trança. 'Solta aí a trança.' Pediram o cartão [de embarque] e tiraram foto.
Marcelly Batista, dançarina

Mano, isso é muito chato. De verdade, é muito chato. Estou fazendo isso para deixar registrado. Qualquer coisa... Vamos fazer conexão em Cuiabá para depois ir para São Paulo. Eles pegaram meu celular e ainda pediram para eu passar a senha. E eu na minha inocência, nunca tinha sido abordada... Eles pediram a minha senha e eu dei. A menina me revistou, mandou eu soltar a trança e ele [o policial] com meu celular. Viu a mensagem do meu namorado, viu a mensagem do grupo. Ele olhou várias coisas nada a ver para ver se eu estava fazendo alguma coisa errada.

No seu perfil no Instagram, a dançarina também escreveu sobre o episódio:

Constrangimento hoje no aeroporto de Rondônia. 'Abordagem sem motivo' a única escolhida para abordagem deles.

É isso que passamos, sem motivo nenhum eles me pararam e eu já tinha passado pelo RAIO X e tudo ok.

O UOL questionou a Superintendência da PF em Rondônia e o comando da corporação sobre a abordagem, mas ainda não houve resposta.

Segundo caso no feriado

A denúncia de Marcelly é o segundo caso de racismo cometido contra passageiras em viagens aéreas nesse feriado prolongado do Dia do Trabalho.

Na noite de sexta (28), a pesquisadora Samantha Vitena Barbosa foi retirada pela Polícia Federal de um voo que seguiria de Salvador a São Paulo.

Não houve justificativa para a ação. A pesquisadora ouviu dos agentes apenas que seria "determinação do comandante".

Antes de ser removida, Samantha se dirigiu aos demais passageiros para explicar que o problema começou por quererem obrigá-la a despachar uma mochila com seu notebook.

O transporte de bagagens de mão com eletrônicos é permitido, mas a companhia teria alegado falta de espaço na aeronave.

Ela explica que temia avarias ao aparelho e, por isso, alocou a mochila no bagageiro, com ajuda de outros dois passageiros.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) recomenda que eletrônicos como notebook ou carregador portátil sejam levados no compartimento de mão —a ideia seria evitar avarias e "ativação não intencional".

A abordagem gerou revolta em outros passageiros, que publicaram vídeos do flagrante nas redes sociais. Uma das passageiras mostra que foi questionar o motivo da abordagem e o agente a "convida" a também ir à sede da Polícia Federal. "É um absurdo, isso não pode acontecer. Levaram a mulher à força, gente", é possível ouvir no registro.

Outro vídeo mostra o discurso de um dos policiais. "Se a senhora não puder sair, eu vou mandar todo mundo sair da aeronave e a senhora vai sair. (...) Então acho melhor a senhora por bem acompanhar a gente tranquilamente", disse um dos agentes. Em outro trecho, uma passageira lamenta dizendo: "Isso é racismo".

Os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos notificaram a Anac para adotar providência sobre o episódio de racismo.

A PF abriu uma investigação para apurar o caso.

Ao UOL, a Gol informou que Samantha acomodou a bagagem em local que obstruía a passagem, "o que trazia risco a segurança do voo". A companhia disse ter oferecido a ela despacho gratuito da bagagem; que o computador fosse retirado da mochila e troca de assento para acomodação da bagagem. "A companhia informou, por fim, que ela teria que desembarcar para que o avião pudesse partir. A impossibilidade de chegar a um acordo e a necessidade de se reestabelecer a ordem fez com que a Polícia Federal fosse acionada."