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'Viu traje e lançou olhar de ódio': mulher denuncia Uber por intolerância

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, do Rio

02/05/2023 16h50Atualizada em 02/05/2023 18h58

Uma mulher, a sogra dela e as filhas, de 8 e 13 anos, foram impedidas de entrar em um carro de aplicativo por estarem vestidas com trajes religiosos, segundo afirmam.

O caso aconteceu no centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento que elas se preparam para entrar no carro, mas o motorista pede para se retirarem.

O que aconteceu?

As mulheres saíram de casa no último sábado (29), por volta de 12h40, e aguardavam o carro de aplicativo. Elas estavam indo para uma festividade em um terreiro.

A comerciante Tais Fraga, 43, disse que o motorista se recusou a fazer a corrida depois de ver a mulher e as filhas com os trajes religiosos. Tais frequenta o mesmo centro de candomblé há 32 anos e nunca havia passado por situação semelhante.

A mulher pediu para que o motorista cancelasse a corrida, mas o homem se negou. Ele teria afirmado, ainda, que, se ela quisesse, que corresse atrás de seus direitos. Minutos depois que deu a partida no carro, ele fez o cancelamento.

Foi bem constrangedor, nunca tinha passado por isso. Ele primeiro viu minha sogra, que estava com roupa branca normal. Quando ele viu que eu e minhas filhas estávamos com o traje, já veio com olhar de ódio. Falou que a gente não ia embarcar e que não poderíamos entrar no carro dele

A filha mais nova de Tais ficou assustada com a situação e chegou a chorar.

Logo em seguida conseguimos um outro carro, mas minha filha não queria embarcar. Estava chorando muito, disse que o moço também não ia querer levar a gente. Foi muito triste passar por isso. Estamos muito abaladas com essa situação.

Tais fez uma denúncia na 59ª DP no dia seguinte. O caso foi encaminhado para a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).

A comerciante vai prestar um novo depoimento na tarde de hoje, no centro do Rio.

Ela descobriu que muitas pessoas passaram e passam por situações como essa diariamente após compartilhar o caso com os amigos do centro.

Recebi muitas mensagens de pessoas que já passaram por isso. Dói muito. Eu ainda sou uma mulher branca, loira, de olhos claros, imagina o que uma mulher negra não passa? Ninguém é igual a ninguém, as pessoas têm o livre arbítrio de seguir a religião que quiser e precisam ser respeitadas por isso

Agentes da Decradi ouviram as duas vítimas adultas. O motorista foi identificado e será intimado a prestar depoimento. As crianças devem ser ouvidas nos próximos dias e a investigação continua para esclarecer todos os fatos.

O que diz a Uber?

A Uber afirmou que a conta do motorista foi temporariamente desativada até que o caso seja esclarecido:

A Uber não tolera qualquer forma de discriminação. Em casos dessa natureza, a empresa encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei. A conta do motorista parceiro já foi temporariamente desativada, enquanto aguardamos pelas apurações. A Uber busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos. A empresa reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app.