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Como caso da capivara Filó virou briga política e envolveu até Luisa Mell

O jovem Agenor com a capivara Filó - Arquivo pessoal/Agenor Bruce Tupinambá
O jovem Agenor com a capivara Filó Imagem: Arquivo pessoal/Agenor Bruce Tupinambá

Do UOL, em São Paulo

02/05/2023 14h39Atualizada em 02/05/2023 18h01

O destino de uma capivara no Amazonas acabou em polêmica e briga política.

No centro da discussão, estão o influenciador Agenor Tupinambá, que se diz o "fiel depositário" da capivara Filó, e a deputada estadual Joana Darc (União Brasil), que tomou partido do tiktoker depois que ele foi autuado pelo Ibama.

A polêmica incluiu ainda a ativista da causa ambiental Luisa Mell.

O que aconteceu?

Agenor Tupinambá, influenciador digital, publicava vídeos e fotos com animais silvestres em suas redes sociais. As publicações alcançavam milhares de curtidas. Entre os vídeos de maior repercussão, estavam os que ele fazia com uma capivara, chamada por ele de Filó. O animal era visto passeando, dormindo e tomando banho de rio com Agenor.

A capivara Filó teria sido dada por indígenas ao primo do influenciador, segundo afirmou Agenor em março.

O influenciador tem 23 anos, mora na cidade de Autazes (AM) e cursa engenharia agronômica em Manaus. Ele também convivia com búfalos, porcos, bezerros e outros bichos da fazenda, que foram apelidados por ele.

O Ibama tomou conhecimento sobre o caso após a morte de um bicho-preguiça que Agenor criava em sua propriedade. O tiktoker alega que fez tudo o que podia para salvar o animal.

O Ibama explicou que animais silvestres não são domésticos, como cães e gatos, e que capivara e bicho-preguiça, como mostrado por Agenor nas redes, não podem ser criados ou mantidos em casa, segundo a legislação brasileira.

O influenciador foi multado em mais de R$ 17 mil pelo Ibama por suspeitas de abuso, maus-tratos e exploração dos animais. Ele também foi acusado de matar um deles — o que Agenor nega. E obrigado a apagar vídeos e fotos de suas redes sociais. O Ibama também constatou que havia um papagaio na residência do rapaz e, segundo o órgão, ele não tinha autorização para manter animais em sua posse.

Agenor organizou uma vaquinha para pagar a multa imposta pelo Ibama. O montante ultrapassou a meta de R$ 17 mil, e a vaquinha foi encerrada com arrecadação de R$ 84 mil.

A deputada estadual Joana Darc (União Brasil) saiu em defesa de Agenor. Ela disse em suas redes sociais que ele estava sendo "perseguido". Ela foi eleita deputada estadual com 87 mil votos e se denomina "protetora dos animais e pessoas".

Já a ativista da causa animal Luisa Mell acusou Agenor de maus-tratos contra um porco e postou um vídeo, do ano passado, em que ele aparece em um rodeio. O influenciador se defendeu: "Não sou mais essa pessoa".

Vídeo ao vivo e guarda

O influenciador entregou Filó ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Ceta), vinculado ao Ibama, na última quinta-feira, 27. Agenor fez uma publicação de despedida da capivara no Instagram e disse, no texto, que nenhum vídeo com o animal trouxe qualquer resultado financeiro. "Era apenas eu com um celular na mão, registrando a minha própria vida ribeirinha."

Joana Darc foi até o Ceta no sábado e fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais, chorando e acusando o Ibama de manter Filó em uma gaiola em cativeiro.

Joana disse que ela e Agenor "agiram de boa-fé" ao entregar o animal, sendo que poderiam ter "escondido" a Filó.

O caso repercutiu em redes bolsonaristas, segundo a Folha. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que a história da capivara tem sido usada como reação às operações de combate à madeira e gado ilegal no Amazonas. "A rede bolsonarista está usando essa situação para atacar a gente."

A guarda provisória da capivara Filó foi concedida a Agenor no domingo após uma decisão da Justiça Federal do Amazonas. Agenor foi obrigado a garantir o transporte do animal por "meios seguros e adequados", comprovados por um veterinário ou biólogo.

O influencer também deverá apresentar à Justiça as condições de saúde da capivara e dar livre acesso para fiscalização por parte de órgãos ambientais. Ele alega que a atuação da deputada Joana Darc foi "fundamental" no processo.

Um agente do Ibama foi às redes sociais na segunda-feira e criticou Agenor e a última decisão judicial. Ele afirma que o rapaz não é um ribeirinho, mas um "fazendeiro, peão de boiadeiro" e diz que a decisão da Justiça prejudica a reintrodução do animal.