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Golpe dos nudes: Vídeos usavam delegacia, clínica, velório e família falsas

Do UOL, em São Paulo

29/05/2023 18h41Atualizada em 29/05/2023 18h41

O grupo criminoso que aplicava o chamado "golpe dos nudes" usava delegacias e até clínicas psiquiátricas falsas nas encenações usadas para extorquir vítimas, que eram ameaçadas com denúncias por suposta pedofilia.

Como eram os vídeos

Por mensagens, os golpistas fingiam ser adolescentes ou mulheres jovens para atrair homens com dinheiro nas redes sociais. O objetivo era conseguir fotos íntimas das vítimas para extorsão.

Depois, começava a encenação que envolvia falsos pais e mães, delegados de polícia, e até funerárias. A encenação deixava as vítimas desesperadas ao ponto de fazerem depósitos — alguns em valores superiores a R$ 50 mil, segundo alguns registros.

Em um dos vídeos na falsa delegacia, uma suposta mãe aparece depondo a um policial, também falso, dizendo que a filha menor de 18 anos teria recebido nudes de um homem. No local, havia inclusive um banner da Polícia Civil. O depoimento dura 23 segundos. Em outra gravação, um suposto pai de uma adolescente filma a entrada de uma "delegacia" e diz que vai "resolver esse negócio".

Na sequência, um falso delegado de polícia do Rio Grande do Sul entrava em contato com a vítima dizendo que a jovem com quem ele trocava mensagens seria adolescente. Na sequência, ele ameaçava expedir um mandado de prisão e expor o caso. Um papel, com a logo da polícia, e dados de vítima, mãe e "agressor", trazia a determinação do pagamento de R$ 12 mil para pagar parte do "tratamento em clínica psiquiátrica particular" como forma de evitar processos cíveis ou criminais.

Em outro momento, uma mulher grava corredores do que seria uma clínica psiquiátrica, e onde a filha seria internada por estar traumatizada. Na gravação, que seria enviada às vítimas, ela chama o homem de "sem vergonha" e "safado". Em outro, a "família" afirmava que a adolescente não aguentou a situação e se matou, com direito a imagens de uma falsa funerária, exigindo custos de sepultamento.

Uma criança, imagina. Ele pede foto. Abre esse telefone e vai ver as porcarias que esse cara fez com a minha filha. Eu estou em uma situação, apavorada, porque a gente nunca passou por isso, entende? A gente pensa que acontece com a família dos outros e nunca vai acontecer com a gente. A gente trabalha e não tem tempo de ficar cuidado da menina
Falso depoimento gravado e enviado a vítima

Polícia prende 33 envolvidos

33 pessoas foram presas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O dinheiro obtido pelo golpe era pulverizado entre laranjas até que voltasse para o grupo criminoso, aponta investigação da Polícia Civil.

Na operação de hoje, a Polícia Civil prendeu duas mulheres e dois homens suspeitos de aliciar adolescentes. Elas recebiam dinheiro e, em alguns casos, eram ameaçadas para tirar fotos íntimas, mandar áudios e vídeos. As imagens eram enviadas para as vítimas que seriam extorquidas.

Apenas no período investigado, o grupo fez pelo menos 80 vítimas, em 12 estados, e movimentaram cerca de R$ 450 mil, segundo a polícia. Ainda conforme a investigação, parte do lucro retroalimentaria o tráfico de drogas e de armas.

Os suspeitos podem responder por lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, organização criminosa, porte ilegal de munições e armas de fogo, extorsões e corrupção de menores.