Além do Bonde do Magrelo: quais facções já desafiaram o PCC?
A recente prisão de Anderson Ricardo de Menezes, 48, o Magrelo, pela PM (Polícia Militar), trouxe à tona a rivalidade da facção comandada por ele, o Bonde do Magrelo, contra o PCC (Primeiro Comando da Capital) pelo domínio do tráfico de drogas.
O Bonde do Magrelo é mais uma das organizações criminosas que duelam contra o PCC na concorrência por territórios ao nível regional. Nesse caso, pela região de Rio Claro (SP).
De acordo com Marco Alan Ferreira, professor que estuda facções criminosas na UFPB (Universidade Federal da Paraíba), a maior parte das disputas entre o PCC e organizações criminosas têm abrangência local. A única rivalidade nacional é a travada contra o CV (Comando Vermelho), oriundo do Rio de Janeiro.
"Em caráter nacional, o rival do PCC é o Comando Vermelho, especialmente pelo controle das fronteiras. As outras são ao nível regional, como é o caso recente do Bonde do Magrelo. E essa relação é muito fluida, pois tem facções que se unem ou rivalizam com o PCC pelo mercado de drogas", comentou o pesquisador.
Quem mais já desafiou o PCC?
Comando Vermelho
Abrangência: Com disputas pelo poder em 11 estados, PCC e CV travam uma rivalidade antiga, mas que se acirrou na última década. O PCC atua sem a presença do CV em outros 13 estados. Os cariocas estão em dois, sem a presença dos paulistas.
A disputa: o aumento da animosidade entre as duas facções ocorreu a partir de 2016 após a morte de Jorge Rafaat Toumani, que controlava as rotas do tráfico entre Brasil e Paraguai. O PCC assumiu a lacuna deixada pelo narcotraficante na fronteira, acirrando ainda mais a disputa por territórios com o CV, que por sua vez, passou a se aliar a facções locais para enfrentar a organização paulista.
Mais recentemente, PCC e CV passaram a brigar pelo domínio do "narcogarimpo", em terras indígenas yanomamis, em Roraima.
Família do Norte
Abrangência: com origem em Manaus, a FDN (Família do Norte) é a facção que rivaliza contra o PCC na região Norte, sobretudo no Amazonas e Roraima em razão das rotas do tráfico nas fronteiras com os países da Amazônia.
A disputa: o conflito mortal entre as organizações iniciou em julho de 2015 no episódio que ficou conhecido como "Fim de Semana Sangrento", em Manaus. Na ocasião, três lideranças locais do PCC foram degoladas, começando ali um massacre que resultou em 38 homicídios entre membros das duas facções em apenas três dias.
O auge da disputa entre as duas organizações aconteceu no dia 1º de janeiro de 2017, quando 56 presos — a maioria do PCC — morreram em uma disputa interna com membros da FDN, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus.
Dias depois do massacre, o PCC respondeu desencadeando o massacre de 33 presos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista.
Sindicato do Crime
Abrangência: o conflito entre as duas facções ocorre no Rio Grande do Norte, tanto na região metropolitana de Natal quanto no interior do estado.
A disputa: o primeiro grande conflito entre o Sindicato do Crime e o PCC aconteceu em 2017, quando 26 presos morreram no presídio de Alcaçuz, com briga campal entre os detentos — as imagens rodaram o mundo.
Aliado do CV, o Sindicato do Crime surgiu de dissidentes do PCC após divergências financeiras e agora disputa o domínio dos presídios potiguares e do mercado local do tráfico de drogas contra a facção paulista.
PGC x PCC
Abrangência: no Sul, o PCC lida com a rivalidade contra o PGC (Primeiro Grupo Catarinense), facção que surgiu no início dos anos 2000.
A disputa: a batalha entre as duas facções ocorre por dois motivos. O primeiro pela aliança entre o PGC e o CV, em Santa Catarina. O outro seria pelo controle dos portos clandestinos catarinenses para envio de drogas via rotas marítimas.
Uma reportagem de 2017 do Diário Catarinense mostra que aquele ano foi o mais sangrento decorrente do conflito entre as facções, com 145 assassinatos somente em Florianópolis — a cidade concentra a disputa.
CRBC
Abrangência: formada por dissidentes do PCC, o CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) surgiu em 1999 e, desde então, protagoniza com os rivais paulistas o comando do tráfico na região metropolitana de São Paulo, principalmente o de Guarulhos.
A disputa: atualmente liderado por Edson de Souza e Silva, que se encontra foragido, o CRBC se concentra em Guarulhos após não conseguir se expandir para outros lugares do estado, plano interceptado depois da megarrebelião do sistema prisional paulista ocorrida em 2001, quando o PCC tomou 29 presídios. Atualmente, os membros da facção se concentram na Penitenciária José Parada Neto, de Guarulhos, e no CDP III (Centro de Detenção Provisória) III de Pinheiros.
Não houve até então um conflito direto entre os membros das facções, como os ocorridos na última década dentro de presídios. Apesar disso, grande parte dos homicídios em Guarulhos é atribuída pela Polícia Civil à disputa entre as duas facções.
Em artigo publicado no site Ciências Criminais, o agente penitenciário paulista Diorgeres Victório relata que a rivalidade do CRBC está no estatuto da organização criminosa.
Onde quer que o CRBC estiver não poderão existir integrantes do PCC, pois os mesmos, através da ganância, extorsão, covardia, despreparo, incapacidade mental, desrespeito aos visitantes, estupros de visitantes (sic), guerra dentro de seus próprios domínios, vem colaborando para a vergonhosa caotização do aparato penal do Estado de São Paulo". Artigo 7º do estatuto.
Por que é difícil derrotar o PCC?
Para Marco Alan Ferreira, professor da UFPB, a dificuldade das rivais do PCC está na falta de estrutura e na desarticulação interna.
"Uma coisa que o PCC avançou em comparação com as outras é a criação de criar uma governança própria. As outras não são tão organizadas assim", avaliou o pesquisador.
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