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'Cabeça de empresário e de guerra': quem é Johnny Bravo, 'dono' da Rocinha

Johnny Bravo, tem 35 anos, e é chamado como o atual "dono do morro", expressão utilizada para designar o chefe do tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro. - Reprodução/Redes Sociais
Johnny Bravo, tem 35 anos, e é chamado como o atual "dono do morro", expressão utilizada para designar o chefe do tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL

04/07/2023 04h00

Considerada por muito tempo como a maior favela da América Latina e situada na zona sul do Rio de Janeiro, a comunidade da Rocinha virou um território cobiçado por grupos armados ao longo das décadas. O caso de grande repercussão mais recente pelo seu domínio ocorreu em 2017, resultando em 20 mortos e na ascensão do foragido John Wallace Viana, o Johnny Bravo, do CV (Comando Vermelho).

"Os moradores são gravemente prejudicados, porque a cada guerra dessas, eles vivenciam experiências de horror. Além de os traficantes guerreando entre si, a polícia também soma para agravar ainda mais essas guerras, fazendo operações extremamente violentas", comentou a pesquisadora Carolina Grillo, do Geni-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).

Fluente em inglês e neurótico por academia: o dono do morro na Rocinha

Johnny Bravo, de 35 anos, o chamado atual "dono do morro", expressão utilizada para designar o chefe do tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro.

Ele assumiu o controle do morro em 2017 após uma desavença entre dois personagens bem conhecidos da polícia do Rio: Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157 — ambos estão condenados e presos em presídios federais.

De acordo com o Portal Procurados, do Disque-Denúncia, em 2014, Johnny Bravo saiu do Brasil para a Suíça por desavenças com o CV, mas retornou à facção. O exterior, aliás, seria um dos principais destinos do foragido, pois é fluente em inglês.

Uma fonte da polícia revelou sob anonimato ao jornal Extra, em 2020, que o chefe do tráfico tem "cabeça de empresário e de guerra", é avesso a fotos e "neurótico com o corpo". "Em cada um dos seus esconderijos há uma mini academia de ginástica".

Em raros registros de Johnny Bravo, ele aparece em fotos na internet cercado de seguranças camuflados com fuzil. Um vídeo de sua escolta que viralizou em 2020 o teria irritado ao ponto de prometer "caçar" o autor das imagens.

Contra Johnny Bravo existem seis mandados de prisão por tráfico de drogas, associação para o tráfico e homicídio.

Uma das mortes atribuídas a ele é de Ana Cristina da Silva, assassinada aos 25 anos, enquanto estava a caminho do trabalho com o filho de 3 anos. Ela ficou em meio a um tiroteio e acabou atingida com bala de fuzil ao tentar proteger a criança.

Qual é a facção que domina a Rocinha?

Por muito tempo a Rocinha foi considerada a favela mais populosa do país. Seus 67.199 moradores foram ultrapassados pela Sol Nascente, em Brasília, segundo a prévia do Censo de 2022, do IBGE.

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Vista panorâmica da favela da Rocinha, a maior do Brasil
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Atualmente, a Rocinha é dominada pelo CV, facção na qual Johnny Bravo faz parte.

Apesar de ser considerado o "dono do morro", ele ainda divide o controle com Rogério 157, seu aliado. Johnny apareceu portando anéis com o nome "Rogério 157" em suas raras imagens que circulam nas redes sociais.

Por que a Rocinha é cobiçada?

A sua população abundante, posição estratégica e falta da presença do poder público tornaram o morro um dos territórios mais disputados ao longo do tempo, no Rio. O resultado disso é o alto lucro ao comando da favela.

"Trata-se de um bairro com cerca de 70 mil habitantes que, por ser considerado uma favela, não está submetido às práticas rotineiras de patrulhamento por parte da polícia e de fiscalização por parte de demais órgãos estatais. Assim, os mais diversos e lucrativos mercados operados na Rocinha acabam sendo regulados e taxados pelos grupos de traficantes que controlam o território", analisa Carolina Grillo.

A pesquisadora pontua que o lucro aos donos do morro não são oriundos apenas do tráfico de drogas.

"Não me refiro apenas ao mercado ilegal de drogas que é, sim, responsável pela maior parte dos rendimentos desses grupos, mas também ao mercado imobiliário, serviços de internet, TV a cabo, transporte etc", ratifica.

No que se refere especificamente ao tráfico, a Rocinha ocupa uma posição geográfica bastante estratégica tanto do ponto de vista geopolítico dos conflitos armados entre grupos criminais, quanto do ponto de vista econômico, por ser de fácil acesso para os moradores da Zona Sul. Ainda assim, boa parte do mercado consumidor atendido é interno à própria favela. Carolina Grillo, pesquisadora do Geni-UFF

Procurada, a Polícia Civil confirma que ainda busca pelo paradeiro de Johnny Bravo e que tem inquéritos abertos para investigar o tráfico de drogas na Rocinha.