Nem da Rocinha e Rogério 157 são condenados por "guerra do tráfico"
Os traficantes Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, foram condenados ontem pela Justiça, a 15 e 37 anos e seis meses de prisão, respectivamente, pelo episódio que ficou conhecido no Rio de Janeiro como a guerra da Rocinha, termo usado na própria sentença.
Eles foram acusados de serem os responsáveis pelos confrontos por domínio de território que começaram na comunidade da zona sul do Rio em setembro de 2017. O Exército precisou atuar na região para conter a disputa do tráfico na favela. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, 20 pessoas morreram por causa do confronto.
Nem, que foi preso em 2011 e na época dos confrontos estava no Presídio Federal de Porto Velho, foi condenado por associação ao tráfico e Rogério 157, por associação e tráfico de drogas.
De acordo com a sentença, o desentendimento entre Nem e Rogério 157, seu braço direito que o sucedeu no cargo de chefe do tráfico, começou após os dois discordarem sobre valores oriundos do tráfico que estavam sendo repassados a Nem.
Posteriormente, três assassinatos de pessoas ligadas a Nem da Rocinha e a expulsão de outras pessoas da favela fizeram com que Nem ordenasse a invasão da facção ADA (Amigo dos Amigos), mesmo com o traficante estando preso. Rogério 157 se opôs a Nem, aliou-se ao grupo rival CV (Comando Vermelho), dando início a uma guerra na comunidade.
"Antônio Francisco Bonfim Lopes (Nem da Rocinha), ex-chefe do tráfico de entorpecentes da Rocinha, inconformado com os valores dos repasses financeiros que estavam lhe sendo destinados por seu sucessor - Rogério Avelino da Silva (Rogério 157) -, planejou a mudança de comando, com a retirada de Rogério 157 da chefia do tráfico local. Para tal finalidade obteve o apoio de outras lideranças da organização criminosa A.D.A (Amigo dos Amigos)", diz um trecho da sentença.
Em sua defesa, Nem negou envolvimento no caso, alegando que havia mais de 11 dias que não recebia visita no presídio na época dos fatos.
"(Nem alegou) que não tinha mais envolvimento nenhum com as pessoas da Rocinha; que não conhecia os jovens denunciados; que alguns jovens denunciados eram crianças na época em que foi preso; que somente conhece uma pessoa denunciada, pois esteve com ele no presídio", afirmou a defesa, de acordo com o processo.
No entanto, a juíza da 19ª Vara Criminal, Tula Corrêa de Mello, decidiu pela condenação. "Não há dúvidas de que o acusado [Nem] arregimentou aliados a fim de realizar audaciosa empreitada criminosa, na tentativa de retomar o controle do tráfico de drogas na comunidade da Rocinha".
Quanto a Rogério 157, a juíza afirmou que o traficante "exercia a função de destaque no grupo criminoso destinado à exploração do tráfico de drogas na comunidade da Rocinha, uma vez que, até a ocorrência de desavenças com o acusado Antônio Francisco Bonfim Lopes, era o homem de confiança deste naquela localidade". Rogério 157 optou por ficar calado no julgamento.
Outros condenados pela "guerra do tráfico"
A decisão sobre os envolvidos na guerra da Rocinha também levou a condenação de Celso Luiz Rodrigues, conhecido como Celsinho da Vila Vintém. Ele e outros dez traficantes foram condenados a 15 anos de prisão. Segundo a juíza, Celsinho da Vila Vintém prestou apoio à quadrilha de Nem ao ceder bandidos para a invasão da comunidade.
Em um trecho da decisão, a juíza enfatiza ainda a prisão de traficantes de morros de outros pontos da cidade que estariam dando suporte à ação da ADA na Rocinha na ocasião.
"A testemunha dr. Delegado de Polícia Antônio Ricardo Lima Nunes, ouvida em juízo, afirmou (...) ter chamado a atenção o fato de ter ouvido de uma pessoa autuada que não sabia onde ficava a praia na zona sul, o que reforçou a tese de que pessoas saíram de outros lugares para realizar a invasão à Rocinha", explicou a juíza.
Rogério 157 e Celsinho da Vila Vintém estão presos.
Ao aplicar as penas, a magistrada destacou o clima de terror que se espalhou pela cidade na ocasião da invasão. "As consequências do delito foram especialmente gravosas, uma vez que a tentativa de retomada da comunidade da Rocinha deu ensejo a confronto de magnitude jamais vista na cidade do Rio de Janeiro, cuja violência se assemelhou a uma verdadeira guerra, aterrorizando os moradores de todo o estado, em especial os inúmeros moradores daquela comunidade", alegou.
"A repercussão de tais atos criminosos manchou a imagem do Rio de Janeiro internacionalmente, gerando impactos em eventos turísticos e institucionais", encerrou.
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