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Russa acusa Brennand de forçá-la a se tatuar com marca dele: 'Se gabava'

Thiago Brennand; e a tatuagem que a jovem europeia diz ter sido pressionada a fazer com um desenho da marca do empresário - Reprodução; e Reprodução/TV Globo
Thiago Brennand; e a tatuagem que a jovem europeia diz ter sido pressionada a fazer com um desenho da marca do empresário Imagem: Reprodução; e Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

09/07/2023 23h16Atualizada em 10/07/2023 07h01

Uma mulher russa, que preferiu não se identificar, disse que o empresário Thiago Brennand (réu em nove processos) a forçou a se tatuar com a marca dele e se "gabava" da situação. Uma reportagem do Fantástico (TV Globo) mostrou as acusações de duas estrangeiras contra o empresário.

O que aconteceu

As duas estrangeiras já deram suas versões às autoridades brasileiras. Ambas contam que viveram com Brennand, em períodos diferentes, em um flat em um bairro nobre da capital paulista e eram impedidas de sair e entrar em contato com as suas famílias.

"Me sentia um brinquedo na mão dele", disse a russa. Ela relatou que conheceu Brennand há 5 anos em uma academia de Moscou, na Rússia, e que ele era "perfeito" no início, mas tudo mudou rapidamente, pois o brasileiro controlava todas as situações: reclamava do peso dela e de outras características e afirmava que ela era uma péssima dona de casa.

A russa revelou que foi forçada a se tatuar em um lugar íntimo com um desenho que seria o símbolo da família de Brennand. "Não queria fazer, me senti carimbada", disse ao Fantástico.

Ela contou que ao menos uma dezena de mulheres foi marcada com tatuagens que remetem ao investigado. Assim como outras vítimas, também relatou que era estuprada e agredida por ele.

Ele gostava de se gabar disso [das tatuagens]. Quando vinha gente em casa, ele me pedia para mostrar a tatuagem, dizendo que eu era mais uma mulher marcada. Ele tinha até uma pasta no computador dele com as tatuagens, uma para cada menina. Não me lembro quantas exatamente, mas eram mais de dez."
Russa vítima de Brennand, ao Fantástico

Outra europeia diz ser vítima de Brennand

Uma ex-funcionária de Brennand contou que conheceu outra europeia que também foi tatuada pelo homem, três anos antes da russa. Ele teria dito: "A minha assinatura ali vai ser para marcar território. Se alguém for ali, sem ser eu, vai saber que eu já passei por ali". A mulher ainda comentou que as agressões físicas e psicológicas contra a estrangeira eram comuns.

"Pressão era tão grande" que se tatuar pareceu a melhor opção para deixá-lo mais calmo, disse a jovem. Hoje com 26 anos, ela explicou que conheceu Brennand com 19 anos. Largou o ensino médio na Europa e aceitou se mudar para São Paulo com o empresário, em 2016.

O aspecto psicológico "era extremo", diz a vítima. "Em certo ponto, o que acontecia com o meu corpo não era tão importante assim porque havia coisas muito maiores. Eu estava, literalmente, temendo pela minha vida. Ele me estuprou, me bateu, me chutou, atirou objetos, me sufocava, batia na minha cabeça, no meu peito", relatou.

Ela diz que conseguiu fugir para o aeroporto após cinco meses. Deixou o Brasil com uma viagem comprada pela irmã. "Não sei o que teria acontecido se tivesse ficado com ele por mais tempo."

A jovem espera que Brennnand siga preso. E comentou que ele costumava chamar os outros de covarde, mas "é o maior covarde de todos, sem admitir o que fez". As entrevistadas também citaram que o filho do investigado era agredido pelo pai.

Brennand ainda não é réu no caso das duas estrangeiras ouvidas pela TV Globo. O relato da russa é investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em Sorocaba (SP), e a Procuradoria-Geral da Justiça foi informada do caso e pediu cooperação internacional para acionar as autoridades russas. O caso da outra europeia é investigado pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Europeia mostra fotos com as marcas das agressões que teriam sido provocadas pro Thiago Brennand - Reprodução; e Reprodução/TV Globo - Reprodução; e Reprodução/TV Globo
Europeia mostra fotos com as marcas das agressões que teriam sido provocadas pro Thiago Brennand
Imagem: Reprodução; e Reprodução/TV Globo

O que diz a defesa de Brennand?

O advogado Roberto Podval declarou, em nota enviada ao Fantástico, entender que "a Justiça é o local adequado para se tratar das denúncias apresentadas contra ele, com base na lei e nos fatos."

Sabemos que o pré-julgamento midiático destrói a vida de uma pessoa."
Defesa de Thiago Brennand, em nota enviada à TV Globo

Entenda o caso Brennand

Brennand é réu em nove processos — e em seis deles já teve sua prisão decretada. Contudo, o UOL mostrou casos de mulheres que acusam o empresário de ameaças e intimidações, mas foram desencorajadas a denunciá-lo. Uma ex-modelo, que não quer se identificar, afirmou que ele usava palavras ofensivas e tom ameaçador. "Pelo menos por essa sorte aí, você escapou", teria dito ele em áudio.

Autoridades públicas também relatam terem sofrido ameaças e perseguições. A delegada da 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM Oeste) de São Paulo, Dannyella Pinheiro Gomes, disse que o empresário começou a persegui-la após ela ter cancelado um encontro. A ex-promotora do MP-SP Gabriela Mansur protocolou uma queixa-crime contra ele após ataques feitos contra ela em vídeos.

O empresário passou na última terça (4) pelo primeiro dia da segunda audiência de instrução e julgamento na 1ª Vara de Porto Feliz (SP). Desta vez, o caso se refere ao suposto crime de sequestro e cárcere privado e está em segredo de Justiça.

A audiência se refere a uma mulher que acusa o empresário de mantê-la em cárcere privado e obrigá-la a tatuar as iniciais dele no corpo. Segundo o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), ocorreram os depoimentos da vítima e de quatro testemunhas de acusação, mas o empresário não foi ouvido. A continuação da audiência será no dia 17.

Essa foi a segunda audiência de instrução e julgamento da qual o empresário participa. A primeira começou em maio e se referia a um caso em que Brennand é acusado de estuprar uma mulher norte-americana. Os advogados do empresário alegaram que não houve estupro. As partes pediram a continuidade das investigações e do processo.