Viúva de morto pela PM no Guarujá diz que não pôde ver o corpo no IML

A viúva de um dos 16 mortos na ação policial na Baixada Santista disse que não pôde ver o corpo marido e que precisou fazer o reconhecimento com base em uma foto no IML.

Não pude ver o corpo do meu marido. Me mostraram uma foto do pescoço para cima só para eu reconhecer mesmo.
Viúva de Cleiton Barbosa Moura

O que aconteceu

Cleiton, de 24 anos, estava em casa, com a filha de 10 meses no colo, quando teria sido arrastado por policiais para fora de casa e morto em uma área de mangue, segundo parentes. Ele foi morto no último sábado à noite na comunidade de Sítio Conceiçãozinha, no Guarujá (SP).

A polícia tem outra versão para o caso. Segundo o boletim de ocorrência, Cleiton correu para os fundos de um beco e teria atirado na direção dos policiais militares, que atiraram nele.

Eles [policiais] não escutaram a gente. O boletim de ocorrência foi feito só por eles. Nós só temos que dar a nossa versão. Eu não quero só paz. Quero justiça pelo que fizeram com o meu marido. Ele foi executado.
Viúva de Cleiton Barbosa Moura

Preso por tráfico em 2020. Cleiton trabalhava como ajudante de pedreiro, mas já havia sido preso por tráfico em 2020, segundo informações confirmadas pela família.

PM combina versão de legítima defesa em mortes na Baixada Santista, diz OAB. A Comissão de Direitos Humanos da entidade acompanha o caso no Guarujá e acusa a polícia de combinar uma narrativa única de "legítima defesa" nos registros que terminaram em morte. Segundo sete BOs obtidos pelo UOL, três dos mortos dispararam contra os agentes e outros quatro teriam apontado a arma para os PMs.

O que diz o governo de SP

Secretário contesta denúncias de tortura. Questionada sobre o caso, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) encaminhou o áudio da entrevista de terça-feira (1ª) com o secretário Guilherme Derrite, que questiona as denúncias de tortura apresentadas por OAB, Ouvidoria das Polícias e Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).

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Não passam de narrativas dizendo que o indivíduo foi torturado. Todos os exames até agora realizados pelo IML não apontam nenhum indício de qualquer singelo hematoma, muito menos de uma tortura dos indivíduos que trocaram tiros com os policiais.
Guilherme Derrite

Marca de sangue em muro na Vila Baiana, no Guarujá, após morte no local
Marca de sangue em muro na Vila Baiana, no Guarujá, após morte no local Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

O que se sabe sobre o caso

A operação policial na Baixada Santista teve início após a morte de um policial da Rota na última quinta-feira (27). O soldado Patrick Bastos Reis, 30, foi atingido enquanto estava em patrulhamento. Um colega dele foi baleado na mão.

Moradores passaram a denunciar casos de abuso de autoridade e assassinatos em operações no Guarujá. "Estamos abrindo as portas para eles, mas estão vindo para nos matar", disse uma moradora da Vila Baiana.

Erickson David da Silva, o Deivinho, se entregou no último domingo. Ele é suspeito de ter dado o tiro que matou o soldado da força de elite da PM paulista. Deivinho está preso e nega que tenha atirado.

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Segundo fontes ligadas ao caso, ele temia ser morto pelo PCC, já que a ação policial teria prejudicado a movimentação do tráfico local.

PM diz que prendeu 58 pessoas, apreendeu 400 kg de drogas e 18 armas, nos primeiros dias da Operação Escudo, como foi batizada a ação policial na região. O balanço, feito até ontem, inclui 38 prisões em flagrante e outras 20 de procurados pela Justiça. Também houve apreensão de quatro adolescentes por infração análoga ao tráfico.

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