Vende-se escrava: cartaz gera reações em MG; universidade cita 'arte'
Cartazes espalhados por Ouro Preto (MG) e no campus da UFOP (Universidade Federal de Minas Gerais) sobre a suposta venda de uma escrava geraram reações negativas entre a população local, mas, segundo a instituição de ensino, trata-se de um trabalho de arte com teor crítico.
O que aconteceu:
As peças espalhadas por Ouro Preto trazem a foto de uma mulher negra e jovem com a palavra "escrava" em destaque, acompanhado pela legenda: "Vende-se uma preta, muito moça e com cria (filhos), sabendo lavar perfeitamente e bem desembaraçada para o serviço doméstico. É sadia. O motivo da venda é não querer mais servir aos seus antigos senhores."
O trabalho foi promovido pelo Ninfeias (Núcleo de Investigações Feministas) da UFOP, a fim de promover debates sobre o racismo estrutural, questões de identidade e opressão.
Após a repercussão negativa, ao UOL, a UFOP disse que os cartazes compõem um "trabalho artístico antirracista", desenvolvido pela artista Marcinha Baobá, que entre seus objetivos "desnaturalizar o olhar das pessoas sobre as violências que acometem mulheres e meninas".
Nas redes sociais, o Ninfeias se posicionou, por meio de um texto escrito por Marcinha Baobá, no qual a artista diz que, embora "feliz" pelo "reconhecimento", sentiu-se "desrespeitada" por ver seu trabalho "se tornar um espaço para disseminação de discursos sensacionalistas".
"De forma alguma estou vendendo pessoas escravizadas. Muito pelo contrário, estou rememorando um passado que me cabe como mulher negra", afirmou Baobá, que é Mestra em Artes Cênicas pela UFOP e se dedica aos estudos sobre feminismo descolonial e feminismo comunitário.
Passado que o Brasil revive silenciosamente em cada cozinha de pessoas brancas da elite de cada estado do nosso país, em cada empresa de produção de soja, tabaco, cana, laranja, carvão, em cada supermercado e obra, em cada festival de música com mão de obra precarizada. Já se perguntaram o que é trabalho análogo à escravidão? Para mim, cada acontecimento atual, em que corpos pretos são explorados de maneira desumana, é lugar de grandes incômodos e até inventamos termos novos para práticas sociais antigas, que tem raízes coloniais.
Marcinha Baobá
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