Influencer presa por tortura com maçarico tem transtorno mental, diz laudo
A defesa da influencer Vitória Guarizo Demito anexou ao inquérito laudos médicos que indicam que ela sofre de transtorno mental. Vitória é suspeita de atrair um homem para um encontro em um flat na zona sul de São Paulo e participar de uma sessão de tortura por 30 horas com auxílio de um maçarico para obter os dados bancários dele.
O que aconteceu
Com 1,1 milhão de seguidores no Instagram, a influencer de 25 anos sofria de transtorno mental, agravado pelo uso de drogas e substâncias psicoativas, segundo o laudo. O diagnóstico consta em um relatório médico da Clínica Camila Magalhães assinado em 31 de julho deste ano, quando Vitória já estava presa.
Vitória Guarizo estava em tratamento psiquiátrico e psicológico havia mais de dois anos na clínica, de acordo com o laudo. O relatório informa que ela "comparecia irregularmente às consultas" e tinha "dificuldades para lidar com a transfobia". A influencer relatou como foi o seu processo de transição de gênero aos 18 anos em seu canal no YouTube.
É possível afirmar hoje, com base nas consultas realizadas, que a paciente apresenta Transtorno de Personalidade Borderline grave (...), transtorno mental e comportamental devido ao uso de múltiplas drogas e ao uso de substâncias psicoativas em padrão provável de dependência.
"A paciente tem gravidade elevada, devendo manter consultas psiquiátricas regulares, sem qualquer previsão de alta médica, bem como seguimento psicoterápico e suporte emocional", complementa o laudo. O documento ainda alerta para a necessidade de ajuste nos medicamentos ministrados e cita os relatos dados pela própria influencer.
Presa há três semanas com o namorado, o garoto de programa Gabriel Duarte Meneses, ela também foi acusada de dopar a vítima com um "boa noite, Cinderela".
Procurada, a defesa da influenciadora disse que não vai se manifestar.
Histórico de internações
A defesa anexou laudos de quatro internações da influencer no Hospital Albert Einstein nos últimos dois anos. Nelas, ela recebeu medicamentos de uso controlado para a ansiedade e citou uso de drogas.
Em uma das internações de Vitória Guarizo, em novembro de 2021, ela negou usar cocaína "embora tenha pó branco na narina", citou o médico no prontuário.
Em uma internação de seis dias entre o fim de julho e o começo de agosto de 2022, ela admitiu fazer uso de drogas sintéticas e disse receber acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico. "Refere estar incomodada com a abordagem da equipe por estar sendo questionada de forma repetida a respeito das medicações de uso contínuo", relatou o laudo médico.
O relatório citou "transtorno de uso de múltiplas substâncias" e que ela estaria ciente que não poderia usar medicamentos trazidos pelo empresário dela ao hospital. A influencer ainda se recusou a entregar esses remédios à equipe médica, citou o documento.
A última internação ocorreu entre 26 e 29 de maio deste ano. Na ocasião, Vitória foi internada com dor lombar, febre, náusea e vômitos. A mãe dela, que a acompanhou no hospital, citou ainda a acentuada perda de peso dela sem uma causa específica.
O que se sabe sobre o caso
Um empresário de 46 anos disse ao UOL ter sido torturado e agredido com pontadas de faca na sola do pé. Ele contou ter perdido a consciência com um "boa noite, Cinderela" ao ser obrigado a ingerir quatro comprimidos e um copo de suco amargo para ficar desacordado.
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Quero receberQuando nos encontramos, ela [Vitória] foi me levando para a cama. Aí, chegaram dois caras e começaram a me agredir. Fiquei amarrado por 30 horas e obrigado a permanecer na mesma posição, enquanto era ameaçado, queimado com um maçarico e levava pontadas com faca na sola do pé. A Vitória dizia que não queria ver sangue no apartamento e tapou a minha boca com uma fita.
Empresário de 46 anos vítima da tortura
O empresário tinha no corpo a mesma substância entorpecente apreendida no imóvel da influencer e do modelo, presos por suspeita de participação no crime. A confirmação veio de um exame toxicológico enviado na sexta-feira (28) para a Polícia Civil.
O exame que comprova a presença no sangue da mesma substância encontrada no imóvel é mais uma prova de que houve roubo qualificado com tortura e de que a vítima foi dopada. Além das agressões, o 'boa noite, Cinderela' também é uma forma de violência para deixar a vítima impossibilitada.
Eduardo Luís Ferreira, delegado do 27º DP, que investiga o caso
Depois de ser mantida em cárcere privado, a vítima contou ter acordado no banco traseiro do próprio carro na zona sul de São Paulo. O empresário ficou com marcas de queimadura por maçarico em um dos braços, sofreu uma fissura no nariz, deslocamento na retina e ficou desidratado após ser mantido refém.
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