Análise: Escolas precisam de segurança física, psicológica e social
Colaboração para o UOL, em São Paulo
23/10/2023 13h56
Os alunos e professores precisam de apoio psicológico para ficarem saudáveis no ambiente escolar, explica Carolina de Oliveira Campos, fundadora da Vozes da Educação, durante entrevista ao UOL News desta segunda-feira (23).
O adolescente suspeito de cometer o ataque que matou uma pessoa e feriu outras duas em Sapopemba, na zona leste de São Paulo. Segundo dois alunos com quem o UOL conversou, ele sofria bullying e avisava "havia semanas" que praticaria um atentado contra seus agressores.
O objetivo da escola é fazer com que a criança aprenda, mas, para a criança aprender, ela precisa estar saudável, do ponto de vista físico e mental. Não só a criança, mas também o adolescente e o educador.
Todas as vezes em que a escola identifica que alguém não está bem, o encaminhamento precisa ser feito. A rede de ensino, nesse caso, vem com o apoio de psicólogos. Cadê os psicólogos? Há uma lei desde 2019 que fala da necessidade de psicólogos e assistentes sociais na escola. Não preciso ter um em cada escola, seria ideal, mas preciso ter uma rede que possibilite esses profissionais dentro de um ambiente escolar.
Ele não vai fazer terapia dentro da escola, mas vai identificar e encaminhar para a rede de apoio para fazer monitoramento. Saúde mental não se resolve tomando remédio pontual, você precisa de acompanhamento, é um processo terapêutico.
Ela destaca o cuidado para com os professores, que já estão exaustos.
Nossos professores estão absolutamente exaustos. Olhamos os dados de antes e depois da pandemia, vemos que 30% dos nossos professores estão adoecidos.
Existe uma condição chamada fadiga por compaixão. Normalmente utilizamos esse termo para profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. É o custo do cuidado, é quando fico exausto porque já tive tanta compaixão que exauri.
Um dos sintomas que essa condição traz é a dessensibilização, é quando o médico fala que 'morreu mais um'. Quando o professor fala que 'é mais um menino', 'é mais um atentado', 'só venho aqui para buscar meu dinheiro' e 'meu sonho é me aposentar'. Isso é porque eles estão na condição da soma de burnout com o trauma secundário, ou seja, estou esgotado, já dei tudo que eu podia e fiz tudo que conseguia.
Ataques contra escolas
Esse é o 11º ataque em escolas do Brasil em 2023. Pelo menos cinco deles deixaram pessoas mortas.
Na capital paulista, a professora de uma escola estadual foi morta por um estudante de 13 anos no bairro da Vila Sônia, zona oeste da capital. Em Poços de Caldas (MG), um ex-aluno matou um adolescente a facadas. Em Blumenau (SC), o ataque com uma machadinha ocorreu em uma creche e matou quatro crianças entre 5 e 7 anos. Já em Cambé (PR), dois adolescentes morreram.
Em abril, o governo federal anunciou um investimento de R$ 3 bilhões para combater os ataques em escolas. A ideia é que o dinheiro seja revertido em projetos de incentivo à paz nas escolas, de desenvolvimento psicológico, além da infraestrutura.
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