Policial morta por empresário era conhecida por resolver homicídios em SP
A policial civil Milene Bagalho Estevam, 39, que morreu na tarde do sábado (16) após ter levado um tiro do empresário Rogério Saladino, no Jardim América, zona oeste de São Paulo, era conhecida por resolver homicídios e latrocínios.
'Muito homenageada'
Milene e um colega, que investigavam um furto ocorrido na região, foram recebidos a tiros por Saladino após irem pedir imagens das câmeras de segurança da residência para averiguação. A troca de tiros tirou a vida de Milene, do empresário e de um funcionário da casa.
O velório de Milene ocorreu na tarde deste domingo (17) em São Paulo e foi marcado por homenagens da corporação à investigadora. "Não sabia que ela era tão querida assim. Isso que me consola agora", disse ao UOL Shirley Bagalho Stevam, 75, mãe de Milene.
Antes de ser policial, Milene trabalhava como advogada. "Depois de um tempo ela foi prestar concurso porque começou a namorar uma pessoa que prestou e se entusiasmou em fazer também", diz a mãe.
Shirley lembra que não queria que a filha fosse policial por saber dos "riscos" que estaria sujeita. "Mas ela dizia: 'eu amo a polícia'."
Além de se dedicar à resolução de crimes de homicídios e latrocínios, Milene fazia bolos. A mãe conta que ela tinha um ateliê na casa dela e chegou a "ganhar muito dinheiro" com a atividade.
A mãe da policial lembra que ela costumava chegar tarde em casa depois do trabalho. "Chegava de madrugada, 2h ou 3h. Ela era muito responsável", diz. Shirley conta que tinha medo de que a visibilidade da filha na televisão desencadeasse algum tipo de vingança. "Quando ela aparecia na TV, eu tinha muito medo de vingança. Mas, ela dizia: 'mãe, eu sei me defender, não se preocupa".
Ela amava o que fazia. O diretor do Deic [Departamento Estadual de Investigações Criminais] disse que entre dez investigações que ela e o parceiro pegavam, resolviam oito (...) Era era uma filha exemplar, uma mãe exemplar. Fizemos uma tatuagem juntas no braço. Onde ela ia, eu estava junto. Era uma pessoa muito especial.
Shirley Bagalho Stevam
Investigadora de homicídios e latrocínios
Policiais que trabalharam com Milene afirmaram ao UOL que ela era "uma profissional dedicada às investigações". Milene começou na Delegacia Seccional de Polícia, em Guarulhos, depois foi para o 20º DP.
Em 2020, foi para o DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e no inicio de 2022, para o Deic. Um dos casos mais conhecidos que Milene atuou foi a ocorrência em que um motoqueiro se passou por entregador e, durante um assalto, matou o jovem Renan Silva Loureira, 20, com um tiro na cabeça, na zona sul de São Paulo. O caso, que ocorreu em abril de 2022, teve repercussão entre autoridades estaduais e federais.
Colegas dizem que ela e o policial que participaram da ação no bairro Jardim América eram empenhados em elucidar casos de homicídios e latrocínios. No sábado, segundo informações apuradas pela reportagem, ela e o colega estavam identificados como policiais ao chegarem à casa do empresário.
Um motorista de aplicativo que estava na frente da casa do empresário reconheceu que Milene e o colega estavam identificados como policiais no momento em que acionaram o morador da casa.
A investigação que Milene e o colega trabalhavam não tinha relação com o empresário proprietário da casa. Tratava-se de um furto na região e, para a apuração, ela e o outro agente precisavam obter mais imagens das câmeras de segurança.
No velório, colegas dizem que o clima era de tristeza e consternação. Um dos policiais ouvidos pela reportagem afirma que já esteve em cerimônias de outros colegas, mas, no caso de Milene, havia um "sentimento de que a morte ocorreu por um motivo inconsequente".
A filha de 5 anos da policial estava na cerimônia. Acompanhada das avós e do pai, a menina deixou uma boneca para a mãe. "Era uma investigação sobre um crime corriqueiro. Ela foi morta por uma pessoa totalmente alterada. O empresário não precisava ter saído atirando", disse um policial.
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Quero receberColegas de Milene disseram que ela mantinha contato com muitos familiares de vítimas dos homicídios que investigava. Isso porque, segundo eles, dedicava-se por muito tempo às apurações.
Segundo relatos de policiais que participaram do velório, o colega de Milene está muito abalado por ter visto o momento em que a policial morreu. Um policial do Deic disse ainda que ambos trabalharam juntos por muito tempo nas investigações.
Agora, o caso será investigado pelo DHPP. No momento das mortes, havia mais pessoas na casa que estariam em um almoço. Segundo informações, o empresário teria consumido bebida alcoólica.
Por meio de nota, a família de Rogério Saladino afirmou: "Agradecemos as manifestações que temos recebido nas últimas horas e pedimos que a intimidade da família seja preservada diante da tragédia ocorrida ontem. Rogério Saladino era um empresário de sucesso, empreendedor que confiava no Brasil. A tragédia ocorrida ontem ceifou a vida de uma competente policial civil, de um profissional que trabalhava na residência e do próprio Rogério Saladino".
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