PMs da Baixada foram acionados a cada 3 minutos durante Operação Escudo
A cada três minutos, o 190 da Polícia Militar recebeu uma chamada para atender a uma ocorrência da Baixada Santista durante os 40 dias da Operação Escudo, que começou no final de julho e terminou no começo de setembro de 2023 após a morte de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) no Guarujá.
Os dados estão em relatório da PM obtido com exclusividade pelo UOL por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação).
Policiais militares mataram a tiros 28 pessoas e balearam outras três no Guarujá, Santos e São Vicente durante a operação. Trata-se da segunda ação mais violenta da história da PM paulista, atrás apenas do massacre do Carandiru, quando PMs da capital paulista mataram pelo menos 111 detentos em outubro de 1992.
De acordo com relatório, a PM recebeu 24.733 chamadas na região do CPI-6 (Comando de Policiamento do Interior de Santos) durante a Operação Escudo. Isso equivale a 618 ligações por dia.
Entre os casos relatados no documento está a localização de 113 encontros cadáveres. A PM explicou em nota que essas ocorrências "se referem a óbitos diversos, como afogamento, morte natural, morte suspeita, entre outros".
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) sugeriu à reportagem que fizesse um novo pedido via LAI para detalhamento das ocorrências.
Outras ocorrências chamam a atenção, como 466 agressões e 99 ameaças. Ainda foram registrados 34 pedidos de socorro, 18 maus-tratos contra pessoas e 22 estupros durante o período da operação, que teve presença massiva de policiais militares das tropas de elite da corporação, como Rota e Baeps (Batalhões de Ações Especiais) de diversas cidades de São Paulo.
A região teve 37.330 boletins de ocorrência registrados no terceiro trimestre de 2022, mesmo período do ano anterior à operação. 4.294 inquéritos foram instaurados, de acordo com dados da transparência da SSP.
Quanto custou a Operação Escudo?
O estado de São Paulo não revela valores. Em resposta, via LAI, a SSP afirmou que, "na proteção da identificação do porte das Operações Táticas realizadas pelo estado, verifica-se que dados sobre recursos empregados, seja em pessoal, seja em recursos materiais, levam à identificação do planejamento concreto da Operação".
"Sobretudo, porque podem ser associados a outros dados, também ofertados em razão das disposições da LAI, que acabam, unidos, traçando a logística e empenho de recursos das operações policiais de grande porte, complexidade e relevância. Por isso, não há razoabilidade e/ou proporcionalidade na sua publicização irrestrita."
A secretaria, contudo, disse que o emprego de recursos públicos tem constante fiscalização dos órgãos de controle interno e externo das polícias, tais como Ministério Público, Poder Judiciário e Tribunal de Contas do Estado.
A pasta também se recusou a informar a relação e a quantidade de armamentos e munições utilizados por PMs durante a Operação Escudo. "A informação solicitada possui acesso restrito, pois expõe o planejamento operacional e a segurança da população", justificou o órgão.
A SSP afirma que "todos os casos de morte decorrente de intervenção policial no âmbito da operação são investigados pelo Deic [Departamento Estadual de Investigações Criminais] de Santos, com apoio do DHPP [Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa], e pela Polícia Militar por meio de Inquérito Policial Militar. O conjunto probatório apurado nas investigações, incluindo imagens das câmeras corporais, foi compartilhado com o Ministério Público e o Poder Judiciário".
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