Viúva de Anderson Gomes diz que prisão de delegado foi um 'tapa na cara'
A viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Arnaus, disse que a prisão do delegado Rivaldo Barbosa foi um "tapa na cara". Ele assumiu a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes do assassinato de Anderson e da vereadora Marielle Franco.
O que aconteceu
"É um tapa na cara, é pisotear ainda mais, você saber que está envolvido e olhar no nosso olho e fazer promessas", disse Agatha. Rivaldo foi preso hoje por suspeita de obstruir as investigações. "É tão profundo e tão doloroso", afirmou ela.
Agatha e a viúva de Marielle, Monica Benício, falaram com a imprensa na saída da PF. "Faltam ainda respostas, falta muita gente. Não foram só os três [presos hoje], nem os dois que estão presos, tem mais gente que colaborou, que contribuiu de alguma forma. Falta muita coisa para a gente ter paz", disse Agatha.
Os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal, e Domingos Brazão, conselheiro do TCE-RJ, também foram presos hoje pela Polícia Federal. Eles são suspeitos de serem os mandates do caso.
Rivaldo teria dado aval para o assassinato da vereadora com a promessa de não investigar o crime. A informação consta na delação do ex-policial militar Ronnie Lessa.
Monica afirmou que Rivaldo foi a primeira autoridade a receber a família de Marielle e de Anderson após o crime. "[Ele falou] que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso e hoje saber que o homem o qual nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu, hoje tem envolvimento é para nós entender que a Polícia Civil não foi só negligente", disse a viúva.
A Polícia Civil não foi só negligente, não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. A Polícia Civil não apenas errou, mas também foi cúmplice desse processo.
Monica Benício, viúva de Marielle
Um passo decisivo foi dado, mas a luta por justiça que nossas famílias travam nesses longos seis anos não termina na manhã de hoje. Não descansaremos até que haja, enfim, uma sentença. E iremos além. Não descansaremos até que todos os sórdidos poderes que dominam este Estado sejam, enfim, derrotados.
Trecho de nota divulgada por Agatha e Monica
Operação após delação
Delação de Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do crime, apontou Chiquinho como mentor. A citação motivou a mudança do caso do Superior Tribunal de Justiça para o Supremo Tribunal Federal.
Chiquinho negou envolvimento após ser apontado por Lessa. Após a delação do ex-PM, ele afirmou que "tinha a mesma posição política que Marielle". Ele também questionou a delação afirmando que era o "relato de um criminoso".
Domingos, por sua vez, disse que não lembrava quem era Marielle. "Não conhecia e não me lembro da vereadora, nem como assessora do Freixo", informou.
O advogado da Associação dos Delegados, Alexandre Dumans, disse que a prisão de Rivaldo foi recebida com "surpresa". Ele não foi constituído para fazer a defesa do ex-chefe da Polícia Civil, mas afirmou que será assim que tiver contato com Rivaldo.
"Minha função é tentar ver o que está acontecendo e tentar obter a liberdade em um momento oportuno", afirmou Dumans. Ele disse à imprensa que não teve contato com Rivaldo por ordem da PF.
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