Delegado é afastado de inquérito de colisão com Porsche após criticar PM
Do UOL, em São Paulo
19/04/2024 15h17Atualizada em 19/04/2024 15h28
O delegado Nelson Alves foi afastado da investigação da colisão envolvendo um Porsche que matou um motorista de aplicativo na zona leste de São Paulo no fim de março. Alves já cobrou a PM paulista pela entrega de imagens das câmeras corporais dos agentes que liberaram o motorista do veículo de luxo.
O que aconteceu
Delegado cobrou agilidade na entrega das imagens. Nelson Alves chegou a questionar a PM sobre o que motivou a liberação do empresário logo após o acidente. A própria PM apura possível erro no caso. Normalmente, agentes da Polícia Civil e da Militar evitam trocar críticas sobre atuação publicamente.
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Fontes ligadas à investigação informaram ao UOL que os agentes seriam indiciados por prevaricação. A previsão é de que eles fossem interrogados nos próximos dias, após conclusão de uma sindicância interna da Corregedoria da PM, em um inquérito aberto apenas para apurar a participação deles no caso, de acordo com solicitação do MP.
Delegado queria ouvir PMs. Segundo apurou o UOL, a intenção de Nelson Alves era saber o que motivou a liberação do empresário Fernando Sastre Filho, 24, logo após o acidente. "Eu vou querer saber sobre isso aí. Eu vou querer saber por que liberaram", disse. A reportagem tentou contato com Alves nesta sexta (19), mas não teve retorno.
SSP nega relação entre troca no comando de delegacia e investigação sobre colisão com Porsche. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse que investigação está em fase final para ser relatada à Justiça. "Não houve afastamento. Ocorreu uma mudança administrativa", disse a pasta. Nelson Alves vai do 30º DP para o 81º DP.
O delegado Milton Burguese foi para o 30° DP por ter experiência em apurações de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. A unidade vem desenvolvendo investigações complexas contra membros de uma facção criminosa que atua em várias regiões do Estado, motivo pelo qual se faz necessária a experiência do delegado citado.
Nota da SSP
O que se sabe sobre o caso
A mãe de Fernando nega fuga e diz que saiu do local do acidente com autorização da PM. Ela disse ter argumentado que levaria filho ao hospital, o que acabou não ocorrendo. Em depoimento, disse ter ido antes para casa e que dormiu após tomar um relaxante muscular.
Motorista foi indiciado por homicídio doloso, quando o autor assume o risco de matar, diz a Polícia Civil. Fernando também deve responder por embriaguez ao volante, fuga do local do acidente e lesão corporal, devido aos ferimentos sofridos pelo passageiro que estava ao lado dele. Ele admitiu que estava dirigindo acima da velocidade permitida, mas negou ter ingerido bebidas alcoólicas — versão contestada por testemunhas.
A Justiça de São Paulo negou dois pedidos de prisão temporária de Fernando feitos pela Polícia Civil. Na última decisão, no dia 8 deste mês, o magistrado argumentou que prisão foi negada em razão da ausência dos requisitos e fundamentos autorizadores "da custódia cautelar".
Defesa de motorista diz ser "prematuro" julgar as causas do acidente. Em nota, os advogados Carine Acardo Garcia e Merhy Daychoum defendem que suposições não devem ser realizadas, já que os laudos periciais não foram concluídos, e afirmam que o homem não fugiu do local do acidente.