Policial no RS: 'Saques são generalizados, não conseguimos combater'
A permanência de muitos moradores em áreas alagadas de Porto Alegre e em outras cidades da região metropolitana tem pelo menos uma explicação: o medo de saques. O UOL conversou com um policial civil que está atuando na linha de frente dos resgates. Ele confirmou que há saques a casas e apartamentos vazios, enquanto as forças de segurança estão ocupadas resgatando os desabrigados.
O que aconteceu
"Barqueiros começaram a relatar saques no meu primeiro dia de trabalho nos resgates." O policial, que pediu para não ser identificado na reportagem, começou a atuar na linha de frente no domingo (5), no bairro Mato Grande, em Canoas. Os pilotos dos barcos, diz, pediam que policiais fossem junto por medo de assaltos. No final do dia, o grupo se dirigiu à zona norte de Porto Alegre, no entroncamento da avenida Benjamin com a rua Dom Pedro 2º. Até as 4h de segunda, os policiais atuaram como seguranças também para as equipes que estavam embarcando nos barcos. "Ali já estavam acontecendo os saques. Os relatos já tinham chegado a Porto Alegre", conta.
Na segunda-feira (6), os policiais atuaram nas proximidades da Arena do Grêmio, no bairro Humaitá, na capital.
Como a missão eram os resgates, a gente não conseguia combater os saques, que já eram generalizados. Os barqueiros já não queriam mais embarcar para fazer os resgates por causa dos saques. Não vi um único estabelecimento comercial aberto que não tivesse sido saqueado. Inacreditável
Policial Civil que atua em Porto Alegre
No Humaitá, muitos moradores não quiseram sair por medo de seus apartamentos serem invadidos. Para o policial, eles correm risco de ficar no escuro e sem água e comida, porque a previsão é que a água demore 10 dias para descer para 3 metros, que é o nível de transbordamento do cais do porto.
Sempre entra um barco para fazer a segurança, mas a área é muito grande, toma muito tempo. Estamos tentando na maneira do possível
"Estava no meio de um resgate quando recebi uma ligação da minha esposa: os alagamentos chegaram à minha vizinhança", diz policial. O desligamento de uma casa de bombas no bairro Menino Deus afetou a região do seu prédio, no bairro Cidade Baixa. "Segundo a minha esposa, a Defesa Civil passou pelo bairro pedindo para a população evacuar a região"
Eu disse: 'amor, estou num resgate'. E ela respondeu: 'mas a gente está precisando de resgate também'. E me caiu a ficha. A cena que ela descreveu eu não consigo imaginar. Todo mundo descendo com o que tinha em sacos de lixo e malas, com cachorros, crianças, bens de valor. Era carro na contramão. Uma coisa de guerra
"Virei segurança do meu próprio condomínio", diz. Quando o policial conseguiu ir para casa, na segunda à noite, estava tudo às escuras. Apanhou algumas roupas e foi para o bairro onde estava sua família. Na terça, ficou pensando no prédio de 94 unidades vazio e no risco de saques.
Pensei: 'vou para lá, pelo menos eu sou policial e vou fazer a segurança do meu próprio prédio'. Fiquei a noite em claro na portaria, com um vizinho. Ontem à noite, a energia voltou só na minha quadra. A água começou a encher as caixas d'água hoje de manhã, mas está suja.
O fornecimento de água no prédio do policial foi interrompido no domingo, relata. Mas a debandada dos vizinhos contribuiu para a água durar até ontem.
Estou há 24 horas sem tomar banho, mas chego tão cansado em casa que essa é a menor das preocupações. As roupas que estou usando são as mesmas que vesti nos resgates na segunda-feira. Não temos macacão emborrachado para entrar na água. Estou usando ao máximo essas roupas para depois jogar fora —todo dia eu entro na água.
Trinta e dois presos. Procurada pelo UOL, a Brigada Militar afirmou que está reforçando o policiamento nas áreas afetadas pela enchente para evitar furtos e saques, além de manter a segurança da população e dos voluntários.
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