RS: 'Saio quando morrer', diz idosa de 97 anos que se nega a deixar imóvel

A idosa Almira de Souza Schultz, de 97 anos, se recusou a sair do apartamento onde mora na rua dos Andradas, uma das mais tradicionais vias do centro histórico de Porto Alegre, mesmo após a enchente invadir o prédio, a apenas 500 m do Guaíba.

Dos 96 apartamentos no prédio de 12 andares, apenas 15 permaneceram abertos. Mas os moradores começaram a retornar desde ontem, quando a energia elétrica e a água foram religadas.

Dona Almira não se intimidou nem quando a água tomou os primeiros degraus do térreo, trazendo também ratos e peixes mortos. Ela mora com a filha, a aposentada Janice Schultz, 64, que tentou convencê-la a sair do prédio por segurança. Mas não teve sucesso. "Eu queria deixar o prédio, mas não consegui convencê-la."

Não fiquei com medo de nada, eu rezo muito. Nunca vou deixar o prédio. Só saio daqui quando eu morrer.
Almira Schultz

Almira Schultz mora no imóvel próximo ao Guaíba há quase 50 anos
Almira Schultz mora no imóvel próximo ao Guaíba há quase 50 anos Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Nem a falta de luz e água fez com que ela perdesse a tranquilidade. Aí, tudo foi no improviso, com iluminação a luz de velas e até um radinho de pilha para que dona Almira pudesse acompanhar as notícias. "Quando a água acabou, eu passava um perfume", disse uma sorridente dona Almira, que mora há quase 50 anos no local.

Sobrou para a filha dela, que precisava subir e descer do apartamento no sexto andar todos os dias para levar mantimentos. "Confesso que foi uma dificuldade passar esses dias todos subindo e descendo escadas, mas passou", disse Janice, filha de dona Almira.

A idosa disse inclusive ter recordações da enchente de 1941, até então, a enchente mais trágica da história de Porto Alegre. Na época, ela tinha apenas 14 anos e morava em uma fazenda em São Jerônimo, no interior do Rio Grande do Sul.

E, ao ver o rio baixar e os moradores retornando aos poucos, preferiu falar com otimismo dos próximos dias após o período mais tenso das enchentes. "Só sinto felicidade e alegria de ver o sol voltando a brilhar. O mau cheiro está aí, mas a gente tem que suportar."

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