Vizinhos do Guaíba voltam para casa: 'Prejuízo maior foi dano psicológico'
Com o recuo do alagamento no centro histórico de Porto Alegre, as pessoas começam a voltar para casa gradativamente. No edifício Georgina, um prédio de 12 andares com 96 apartamentos localizado na rua dos Andradas, a apenas 500 m do Guaíba, os moradores começaram a retornar nos últimos dias após a religação da energia elétrica e do fornecimento de água.
Pela primeira vez desde a madrugada de 3 de maio, o nível do Guaíba voltou à marca dos 4 metros no Cais Mauá.
O contador André Camargo Fernandes, 51, só decidiu sair de casa quando viu que a água começava a avançar pela rua.
"Já estava pela cintura", lembra. Ele voltou para o seu apartamento no último domingo (19). "Tô mais tranquilo agora que voltei e posso tomar o meu chimarrão em casa. Agora, é esperar que a situação se restabeleça o mais rápido possível".
O funcionário público Raul Fernandes, 38, também voltou para o seu apartamento, no mesmo prédio.
"Como voltou luz e água, voltei para começar tudo de novo", disse ele, que permaneceu na casa da mãe durante o período mais crítico do alagamento.
A securitária Nedi Closs, 59, síndica do prédio, acompanha o retorno dos moradores com a sensação do dever cumprido. Só ela e outros 15 moradores se recusaram a deixar o imóvel, mesmo após a água invadir o prédio. Entre os moradores que permaneceram, estava a idosa Almira Schultz, de 97 anos. "Nunca vou deixar o prédio. Só saio daqui quando eu morrer", disse ela.
Tinha peixe morto, tinha rato e a gente não tinha nem bota de borracha para sair no meio da água suja. Como sou síndica, não podia abandonar o prédio. Tivemos muitos prejuízos. Mas o prejuízo maior foi o dano psicológico. Essa situação abalou muita gente.
Nedi Closs
Nedi contou com a ajuda da vizinhança para enfrentar os dias mais difíceis. Ela precisava escalar um muro nos fundos do edifício, entrar pela janela no apartamento de outro prédio para conseguir acessar a rua General Vasco Alves, que não havia sido atingida pela água.
Assim, podia ir atrás de mantimentos. Pelo mesmo muro, pôde usar uma extensão para carregar os celulares de quem havia ficado por ali. Sem iluminação elétrica, os moradores precisaram usar velas e lanternas para não ficar no escuro. "A gente sofreu bastante", lembra o professor Charles Salvador Carvalho Damaceno, 63, marido de Nedi.
A água teve recuo de 90 metros de extensão em apenas 48 horas em frente ao mercado público, também no centro histórico de Porto Alegre. Com uma vassoura nas mãos, o comerciante Rogério Gelatti, dono de uma lancheria, passou o dia todo retirando a sujeira deixada pela enchente. O comércio de estava debaixo d'água até domingo. "A situação está horrível. A gente veio pra limpar e pra organizar. Assim que tiver luz, a gente abre".
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