'Mais uma vez a água alagou minha casa', lamenta moradora de cidade gaúcha

Com o avanço do rio Caí, que chegou a 14,66 m nesta segunda-feira (17) e superou a cota de inundação em quatro metros, ao menos 400 moradores de São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul, foram obrigados a sair de casa.

De 2023 para cá, foram registradas 12 enchentes na cidade. As duas últimas ocorreram após as chuvas desde o começo de maio no Rio Grande do Sul. Mais uma vez, as pessoas precisaram deixar as suas residências em barcos, que têm auxiliado as vítimas das enchentes desde o começo de maio.

O guarda municipal Antônio Daniel da Rocha, 53, era um dos voluntários que participava dos resgates com a sua própria embarcação desde a noite de domingo (16). Na tarde desta segunda-feira, ele continuava ajudando as vítimas da enchente e fazendo um ronda pelas ruas. "Estou ajudando o pessoal em todas as enchentes", disse, enquanto levava um casal de barco até a casa para tentar retirar pertences de lá.

Ele ajudou a resgatar a cozinheira Isaura Jesus da Silva, 55, que chorou ao narrar a rotina nas últimas semanas. "Eu nem consegui limpar o porão e mais uma vez a água alagou a minha casa. A gente trabalha e luta para ter as coisas. Aí vem a água e leva tudo embora. Mas o que importa é que nós estamos vivos", destacou.

Voluntários com barcos fazem resgate de moradores ilhados em São Sebastião do Caí (RS)
Voluntários com barcos fazem resgate de moradores ilhados em São Sebastião do Caí (RS) Imagem: Herculano Barreto Filho

Os "ilhados" pela nova enchente

Houve quem decidiu ficar nos imóveis, mesmo com a inundação. O UOL acompanhou uma das rondas de barco para conversar com os ilhados após a inundação.

A água chegou a inundar o primeiro piso das casas nas áreas mais afetadas. Em um quintal, era possível ver apenas o capô de um carro submerso. Havia moradores que ficaram ilhados nos pontos onde a água estava mais baixa.

"Já está baixando a água? Eu estou aqui presa", disse a aposentada Rosalina da Silva Parodi, 79, da janela do segundo piso de casa ao perceber a aproximação do barco. "Fiquei porque o meu guri disse que a água não iria subir. Não posso sair e deixar os meus bichos aqui", comentou, ao se referir aos três cachorros e ao papagaio.

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Vizinho de Rosalina e também em uma área de alagamento, o funcionário público Alex Meirelles, 55, estava sentado em uma cadeira na porta de casa com um cãozinho no colo. "Estou aguardando. Se a água subir mais, eu vou sair", disse.

Já o industriário Adriano Finkler, 51, varria a lama que atingiu a garagem do seu imóvel enquanto a esposa dele aguardava a água baixar no segundo piso da casa da cunhada, no outro lado da rua.

Houve quem decidiu ficar nos imóveis, mesmo com a inundação em São Sebastião do Caí
Houve quem decidiu ficar nos imóveis, mesmo com a inundação em São Sebastião do Caí Imagem: Herculano Barreto Filho

Danos pela chuva e inundações

As aulas da rede municipal foram canceladas. A ERS-124, no trecho entre São Sebastião do Caí e Pareci Novo, foi bloqueada pelas águas.

O município ainda tinha 150 desabrigados por causa das chuvas de maio. Essas pessoas, que perderam as casas há mais de um mês, estão alocadas em abrigos municipais, informou a prefeitura.

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Pelo menos 19 municípios reportaram danos relacionados às chuvas à Defesa Civil. Em São Luiz Gonzaga, 400 pessoas ficaram desalojadas e uma ficou ferida devido a inundações e deslizamentos.

Bloqueio de estradas deixou duas mil pessoas ilhadas. A ocorrência foi no distrito de Barra do Ouro, em Maquiné, onde as ERS-484 e ERS-239 foram bloqueadas, informou a Defesa Civil do estado.

Regiões da Serra e do Litoral Norte também registraram deslizamentos, sem feridos. Entre as cidades afetadas, estão: Arvorezinha, Bento Gonçalves, Boqueirão do Leão, Canela, Capão da Canoa, Caxias do Sul, Coqueiro Baixo, Dom Pedro de Alcântara, Igrejinha, Mampituba, Maquiné, Pareci Novo, Parobé, Roca Sales, São Luiz Gonzaga, Rio Pardo, São Vendelino, Três Coroas e Vale Real.

Previsão é de mais chuva. A região norte do estado deve ter chuvas fortes, com até 300 milímetros acumulados, entre esta segunda e a quinta-feira (20).

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