Conteúdo publicado há 4 meses

Mulher diz que foi estuprada por motorista de app no RS: 'Quero justiça'

Uma mulher de 27 anos denunciou ter sido vítima de estupro praticado por um motorista de aplicativo, na manhã do domingo (14), em Porto Alegre. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul confirmou o registro da ocorrência e diz que investiga o caso.

O que aconteceu

Vítima relatou que havia saído do trabalho quando solicitou corrida pelo aplicativo da 99. Ao UOL, a mulher, que pediu para não ser identificada, explicou que trabalha na parte da noite e, ao sair do expediente na manhã de domingo, encontrou com uma amiga e, pouco tempo depois, por volta das 8h40, pediu a corrida para ir para casa.

Abusos duraram cerca de três horas, período em que a mulher diz ter sido mantida dentro do carro em uma rua deserta. Segundo contou, ela começou a desconfiar após perceber que o motorista fez um trajeto diferente e, ao questioná-lo, ele teria dito que aquele seria o percurso correto. Pouco tempo depois, o suspeito teria parado o carro em uma rua sem movimento e iniciado os abusos.

Vítima foi submetida a exames no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, além de ter passado por exame de corpo de delito — o laudo ainda não foi liberado. Ela explicou que os médicos prescreveram medicamentos profiláticos para evitar possível infecção pelo vírus HIV, porque o abusador não usou preservativo.

Polícia Civil do Rio Grande do Sul disse investigar o caso. A delegada responsável, Fernanda Campos Hablich, informou que mais detalhes não serão repassados no momento, mas confirmou que foi instaurada investigação para apurar o ocorrido e que aguarda o resultado dos exames ao quais a vítima foi submetida. O órgão ressaltou que, até agora, não houve novos relatos de denúncias contra o motorista.

Suspeito alega ser vítima de difamação. Em postagem nas redes sociais, ele disse que "estão postando mentiras" sobre ele e que também registrou B.O. "contra a pessoa que fez isso". Ele também negou que tenha abusado de outras passageiras. "Trabalho há anos com isso e nunca tive problema", postou nos stories do Instagram. O UOL tentou contato com ele via Instagram, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

Em nota ao UOL, a 99 disse "lamentar profundamente o ocorrido" e que bloqueou "preventivamente" o perfil do motorista na plataforma. "A empresa está disponível para colaborar com as autoridades na apuração do caso. Além disso, a equipe especializada da empresa realizou contato com a passageira para oferecer o acolhimento e suporte, incluindo informações sobre o acionamento do seguro, com auxílio para despesas médicas e apoio psicológico".

Mulher se preocupou após mudança de rota

"Em vez de ir reto, ele dobrou uma rua antes. Eu falei: 'não é o meu trajeto, moço'. Ele olhou para trás e falou: 'é o seu trajeto'", disse. "Eu falei: 'não, não é'. Daí não passaram dois minutos e ele encostou o carro. Eu falei: 'moço, esse não é o meu lugar, preciso ir embora'", destacou.

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Suspeito teria travado as portas do carro para impedir que a mulher escapasse. Ela relatou que, após estacionar o veículo, o homem foi para o banco traseiro, onde ela estava. Em seguida, acendeu um cigarro, tirou a roupa e a forçou a fazer sexo oral nele.

Vítima disse que implorou para ele não a estuprar, falou que precisava voltar para casa para cuidar do filho, mas o homem teria dito que "precisava dela". "Eu falei: 'moço, não faz isso, preciso ir embora, ver meu filho, por favor, me leva para minha casa'. Ele falou: 'não, eu preciso de ti hoje, tu é muito linda, muito gostosa'. Eu: 'moço, não faz assim, não é assim que funciona'".

A mulher contou que o suspeito ficou mais violento após fazer uso de drogas dentro do automóvel. O homem a teria forçado a tocá-lo intimamente, tirado sua roupa e a estuprado. Ela disse que ficou com a boca "toda dormente" porque ele a beijou no momento em que consumia cocaína. "Eu empurrava ele e ele vinha novamente para cima de mim, me penetrava, fazia o que tinha que fazer. Eu botava minha roupa, pedia pelo amor de Deus para ir embora e ele falava 'daqui a pouco tu vai'", relatou.

Vítima destacou que ficou presa no carro, com as portas e os vidros fechados, e que chegou a temer por sua vida, por isso conversava com seu abusador. "Pedi pelo amor de Deus para pelo menos pegar um ar. Fiquei três horas e pouco dentro do carro e ninguém passou para eu pedir ajuda, gritar. O que eu pude fazer para ele não me agredir, eu fiz, porque meu pensamento era que eu precisava muito vir para minha casa".

'Eu não queria expor', diz vítima

Cerca de três horas após o início do abuso, o suspeito permitiu que a vítima fosse embora. "A gente saiu do carro, eu me acalmei o máximo que pude. Eu fiquei com medo de sair correndo e ele fazer o que quisesse comigo, me matar. Chegou na esquina eu falei: 'posso pegar um ônibus ou um carro'. Ele falou é: 'pode ser'. Eu disse: 'vai lá pegar tua gasolina que eu vou descer'. Desci e olhava para trás desesperada para ver se ele vinha atrás de mim".

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Após conseguir escapar, ela ligou para a mãe e registrou boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher de Porto Alegre.

A mulher disse ter relutado em expor a violência sofrida por sentir vergonha. Porém, afirmou querer justiça e que após denunciar o caso nas redes outras pessoas disseram ter passado pela mesma situação com o mesmo motorista. "Nunca tive contato com ele, nem o vi na vida. Infelizmente aconteceu tudo isso. Outras duas pessoas me procuraram e disseram ter passado por algo parecido. Eu não queria expor porque para mim isso é uma vergonha, minha dignidade como mulher, mãe, e passar por isso. Só que eu sei que não fui culpada disso, não tive culpa disso. Muitas meninas passam por isso e não vão dar queixa. Agora a gente vai até o fim e eu quero que a justiça seja feita".

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.

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