Uma pipa e milhares sem luz: como isso é possível e o que fazer para evitar
Uma pipa foi a responsável pelo apagão que afetou diversos bairros da capital paulista e da Grande São Paulo no sábado (31). Ela caiu nas instalações da subestação Guarulhos, segundo a Eletrobras, deixando 942 mil imóveis sem luz.
Já existe uma opção para evitar incidentes do tipo: as subestações abrigadas, montadas dentro de edifícios, que evitam que as estruturas que levam energia à população sejam atingidas por fatores externos.
Como a pipa causou o problema?
A queda do corpo da pipa provocou o primeiro curto-circuito. Em seguida, houve o acionamento dos sistemas de proteção que impedem danos maiores aos equipamentos. A subestação onde a pipa caiu não era abrigada —por isso, a queda teve consequências maiores para a região.
Rabiola da pipa construída com linha metálica caiu 12 segundos depois. Isso causou um novo curto-circuito e o segundo acionamento de equipamentos de proteção que, conforme previsto, levou ao desligamento total da subestação de Guarulhos, composta por dois barramentos. Isso atingiu a rede das distribuidoras Enel, que atende a capital paulista, e EDP, que atua em Guarulhos.
Como evitar
Nas subestações abrigadas, toda a estrutura fica enclausurada. Os fios e cabos são protegidos pelo gás SF6 —ou hexafluoreto de enxofre— que é um isolante, dissipando o calor muito bem e não reagindo com outras substâncias à temperatura ambiente.
Um dos maiores ganhos desse tipo de subestação, além da redução de acidentes com balões, pipas e raios, é a redução do espaço necessário. "A estação fica mais compacta, é cada vez mais difícil ter terrenos em cidades grandes. Então você tem um terreno pequeno, faz um edifício ali e coloca a estação dentro", explica Edval Delbone, professor de engenharia elétrica no Instituto Mauá de Tecnologia, ao UOL.
A cidade de São Paulo já tem várias subestações abrigadas. Uma das mais famosas está na região do rio Pinheiros, próximo à usina da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) onde antes estava uma subestação aberta.
O custo inicial desse tipo de obra é maior do que o das construções abertas, mas a manutenção é mais barata. "Ela fica livre de raios, balões, pipas, de oxidações devido à poluição do ar. Além disso, tem menos manutenção, e quando for fazer manutenção é mais prática, porque é mais fácil de isolar o que está defeituoso. Ao longo do tempo, o valor se paga."
O incidente em São Paulo teve uma série de coincidências que pioraram a situação, diz o engenheiro. "Os barramentos podem ser cabos ou tubos de cobre ou alumínio —é por onde circula a energia elétrica. Uma subestação tem de ter no mínimo dois barramentos, porque se a barra 1 desligar por algum motivo, a barra 2 é redundante. Você transfere toda a energia da barra 1 para a 2. O azar dessa estação é que a pipa caiu em um circuito e a rabiola caiu em outro. Tem um fogo inicial e outro 12 segundos depois."
A situação piorou pelo fato de que a rabiola era feita de linha metálica. "Esse material é um condutor, dá uma descarga elétrica. É uma coisa para pensar, especialmente em São Paulo, em que é difícil proibir a pipa. Até mesmo a pessoa que está empinando também está em risco", alerta Delbone.
O especialista reforça o alerta para que as pessoas evitem manusear objetos que voam nos arredores de redes elétricas. "Se for um balão de 60 metros de altura a cair em uma subestação como essa, estraga tudo."
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