Caso Giovana: Justiça autoriza quebra de sigilo de empresário e caseiro

A Justiça de São Paulo autorizou a quebra de sigilo telefônico do empresário Gleison Luis Menegildo e do caseiro Cleber Danilo Partezani, suspeitos de envolvimento na morte da adolescente Giovana Pereira, de 16 anos. O corpo da vítima foi encontrado enterrado no sítio de Gleison, na zona rural do município de Nova Granada, no interior de São Paulo.

O que aconteceu

O pedido foi feito pela polícia. O Ministério Público concordou com a representação e a 1ª Vara Criminal de São José do Rio Preto deferiu o pedido.

A investigação foi transferida para São José do Rio Preto (SP). Inicialmente, a Delegacia de Nova Granada, cidade onde o corpo da adolescente foi encontrado, estava à frente do caso. Mas por determinação da Justiça, a investigação foi transferida para a 3ª Delegacia de Homicídios da Deic de São José do Rio Preto.

Os dois suspeitos chegaram a ser presos em flagrante, mas foram soltos após pagamento de fiança, no dia 28 de agosto. O corpo da adolescente, que foi dada como desaparecida em dezembro de 2023, foi encontrado pela Polícia Militar no dia 27 de agosto após uma denúncia anônima.

A mãe de Giovana, Patrícia Alessandra Pereira, prestou depoimento na sede do Deic nesta quinta-feira (5). Ela esteve na delegacia acompanhada de um advogado.

Ontem, familiares e amigos fizeram um protesto em frente à empresa de Gleison Luís Menegildo, em São José do Rio Preto. Grupo pediu justiça e cobrou que caso seja investigado. Eles foram ao local vestindo camisas estampadas com o rosto de Giovana e com cartazes. Familiares também levaram flores e brinquedos ao local.

O corpo da adolescente ainda não foi liberado e segue no Instituto Médico Legal. A família aguarda a liberação para realizar o sepultamento.

A defesa do empresário e do caseiro informou que concordou com a determinação da Justiça. O advogado Carlos Sereno também pediu que a quebra de sigilo do Tinder. Segundo o depoimento de Gleison, ele e a vítima se conheceram por meio do aplicativo de relacionamento.

Empresário conheceu vítima em app de relacionamento

Gleison Luís Menegildo disse que conheceu a adolescente 15 meses antes de ela ser morta. Ele detalhou que foi até o aparamento onde ela residia com uma amiga e de lá foram até um motel no município de Mirassol, no interior de São Paulo. Segundo o suspeito, os dois tiveram relação sexual, mas não houve consumo de drogas.

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O empresário disse à polícia que não sabia que ela tinha 16 anos. No dia em que se conheceram, ela teria mostrado uma cédula de identidade com a data de nascimento adulterada, para provar que tinha mais de 18 anos. Após o encontro, ele confirmou que transferiu uma quantia em dinheiro para ela, mas não revelou o valor.

Na versão dele, os dois só teriam tido contato novamente sete meses após o primeiro encontro, quando ela lhe pediu um emprego. Ele explicou que aceitou analisar o currículo dela e pediu que fosse até sua empresa, localizada em São José do Rio Preto.

O suspeito contou que ele e outro funcionário teriam trocado beijos com a adolescente dentro da empresa. Gleison explicou que Giovana estava no local, no dia 21 de dezembro de 2023, porque havia pedido uma vaga de emprego. A vítima e o empresário, segundo ele, se conheceram em um aplicativo de relacionamento 15 meses antes de ela morrer.

Gleison detalhou que consumiu cocaína naquele dia e teria dito a Giovana que não a contrataria. Conforme o depoimento, em determinado momento, o empresário saiu da sala onde estavam para pegar uma cerveja e deixou um frasco contendo cocaína no local.

Segundo ele, a adolescente usou o entorpecente sem permissão dele, e passou mal. Um outro funcionário o teria alertado de que a menina não estava bem. "Ela resolveu cheirar a cocaína e pode ter feito isso de forma exagerada, que resultou em uma convulsão aparentemente", diz trecho do depoimento à polícia.

Gleison afirmou que percebeu que ela havia morrido e entrou em "pânico completo". Ele revelou que dois funcionários presenciaram tudo. Com o auxílio de um deles, colocou o corpo da jovem em sua caminhonete e saiu "dirigindo desnorteado". Inicialmente, ele pensou em jogá-lo em um rio de uma de suas propriedades, mas mudou de ideia com medo do corpo ser descoberto, e dirigiu até o sítio para enterrá-lo. O UOL procurou novamente a defesa de Gleison para saber se ele deseja se manifestar. O texto será atualizado assim que houver retorno.

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O caseiro do sítio confessou à PM que ajudou a abrir cova para enterrar a adolescente. Conforme o boletim de ocorrência, Cleber Danilo Partezani explicou que no dia 21 de dezembro de 2023 o patrão teria aparecido no sítio e pedido que ele abrisse um buraco em determinado local da propriedade, mas sem revelar detalhes de quem seria enterrado.

Empresário, segundo versão do caseiro, pediu segredo e admitiu que iria enterrar um corpo humano. O patrão, porém, não teria informado se seria uma mulher ou homem, e teria retornado à propriedade em outros momentos para praticar tiro.

Mãe flagrou troca de mensagens

Troca de mensagens ocorreu em 2023. Patrícia Alessandra Pereira contou ao UOL que mexeu no celular da filha e viu o conteúdo da conversa com Gleison. Segundo a mãe, na ocasião, Giovana admitiu que havia se relacionado com o empresário.

Mãe lembra que advertiu a filha devido à diferença de idade entre eles. "Ela disse que se relacionava com ele, que os dois tiveram uma relação e que ele ofereceu ajuda financeira para ela. Falei que ela não precisava disso. Ela me disse que não teria mais encontrado com ele", explicou Patrícia.

Último contato de Giovana com a mãe foi no dia 20 de dezembro de 2023, um dia antes de desaparecer. "Conversei normalmente com ela no dia 20 de dezembro, mas no dia 21 ela não me mandou mensagem. Achei estranho porque a gente conversava muito. No dia 22, ela continuava sem me atender, e o seu celular já não recebia mensagens", contou a mãe.

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Patrícia detalhou que procurou a polícia no dia 23 de dezembro. Ela acrescentou que também começou a procurar pela filha por contra própria. "Fiz contato com o Brasil inteiro, falei com todos os amigos, fiquei paranoica procurando a localização dela nas redes sociais", relatou.

A mãe teme que influência do empresário na região possa comprometer as investigações. "A lei não é para todos?. Vou continuar acompanhando de perto os passos da polícia. Ele destruiu a minha família, matou todos os sonhos dela", finalizou Patrícia.

O que diz a defesa dos suspeitos

Defesa do empresário e do caseiro nega que eles tenham assassinado a jovem. O advogado Carlos Sereno afirmou que vítima morreu em decorrência do consumo exagerado de drogas durante uma "festa de confraternização" da empresa de Gleison Luís Menegildo, no final do ano passado. Confraternização teria ocorrido após a entrevista de emprego. "Na festa, outros funcionários beijaram a adolescente", disse o defensor, que negou que clientes tiveram relações sexuais com a adolescente.

Carlos Sereno informou que o "laudo necroscópico irá confirmar que ela morreu de overdose". "Infelizmente, na hora do desespero, acabaram fazendo essa besteira", detalhou o advogado sobre a ocultação do cadáver.

Sobre o suposto relacionamento de Gleison com a adolescente, o advogado informou que eles teriam se conhecido pelo Tinder. Segundo Carlos Sereno, eles tiveram apenas um encontro. Giovana teria recebido um valor, não informado, via Pix.

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O advogado disse ainda que na época dos fatos, Gleison era dependente químico.

Empresário pagou R$ 15 mil de fiança. O caseiro pagou cinco salários mínimos para ser liberado. Segundo advogado, eles vão responder em liberdade.

Uma arma que estava na propriedade foi aprendida, um revólver sem registro. Uma segunda arma foi encontrada com o empresário, mas não ficou apreendida porque, segundo a polícia, ele é CAC (Colecionador, Atirador e Caçador). A investigação segue para determinar as circunstâncias exatas da morte da adolescente.

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