'Mandou te amo e foi última vez', diz mãe de jovem morta em rolo compressor

A comerciante Andreia Martins lembra os últimos momentos que teve com a filha, a engenheira Rafaela Martins, 27. A jovem morreu atropelada por um rolo compressor sem freio em uma obra da Petrobras no dia 7, poucas horas após trocar mensagens carinhosas com a mãe.

'Foi a última vez que falamos'

Rafaela Martins morreu em um acidente de trabalho. A engenheira civil foi atropelada por um rolo compressor que perdeu o controle em uma obra da Petrobras, no Terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ). O acidente aconteceu por volta das 9 horas da manhã.

Poucas horas antes do acidente, havia trocado mensagens com a mãe. "Todos os dias, a gente trocava um 'bom dia' e 'te amo'. Era uma coisa nossa. Naquela manhã, ela me mandou a mensagem às 6h e eu respondi logo em seguida. Foi a última vez que falei com minha filha", lembra Andreia.

A mãe teve acesso a imagens de Rafaela captadas dois dias antes. Uma câmera de segurança do prédio de Andreia, em Suzano (SP), registrou as duas se arrumando para o casamento da cunhada de Rafaela, no sábado, 5 de outubro. "Nós duas estávamos com vestidos longos, lindas para o casamento. Ela estava tão feliz naquele dia: ela e o companheiro, Milton, decidiram que iriam oficializar o casamento em janeiro e teriam um filho. Eles já moravam juntos há quatro anos. Foi uma alegria imensa", conta.

Plano de casar em janeiro de 2025. No domingo, após as eleições, a mãe contou que o casal partiu para Macaé, onde Rafaela morava e trabalhava. "Ela ficou aqui até o domingo. Eles foram embora às 15h, chegaram ao Rio à meia-noite. Na segunda-feira cedo, ela foi trabalhar e, às 10 horas, recebi a notícia. Minha filha estava aqui no sábado e, na segunda, já não estava mais."

Imagens captadas antes de um casamento são as últimas de Rafaela ao lado da mãe, Andreia
Imagens captadas antes de um casamento são as últimas de Rafaela ao lado da mãe, Andreia Imagem: Arquivo Pessoal

A jovem engenheira se preocupava com a segurança. Rafaela se formou em engenharia civil pela Universidade de Mogi das Cruzes e era uma profissional dedicada e comprometida com a segurança nas obras em que trabalhava, diz a mãe. Ela era contratada da MJ2 Construção e Manutenção de Dutos Ltda. "Ela tinha só 27 anos, ia fazer 28 agora, em dezembro. Se formou novinha e já trabalhava na área há três anos. Sempre falava da paixão dela pelo trabalho", diz a mãe.

Andreia se emociona ao falar do orgulho que sentia pela filha. "Minha filha era tudo de bom. Desde pequena, sempre foi muito alegre, dedicada à família. Mimei minha filha até o fim, fazia tudo o que ela queria, tudo o que eu podia. A gente era muito unida. Ela estava sempre por perto nos últimos meses, vinha muito a Suzano. Foi um baque muito grande perder minha filha assim, tão de repente."

Mãe diz que família arcou com custos

O traslado do corpo de Rafaela foi doloroso e burocrático, diz a mãe. "Foi muito difícil, muito burocrático. O corpo dela saiu do Rio à meia-noite e chegou aqui em Suzano às 9h. Eu paguei tudo sozinha, um total de R$ 17,6 mil. Não tivemos nenhuma ajuda da Petrobras ou da MJ2 Construções. Eles não me deram nenhuma assistência", desabafa.

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Andreia e a família avaliam se entrarão com processo contra as empresas. "Por enquanto, estamos tentando nos recuperar. Tudo é muito recente, estamos muito abalados. Mas, no futuro, vamos pensar em como agir."

Continuo muito ruim, ainda não consigo entender. Ela estava aqui comigo, feliz, se preparando para a vida. E agora ela se foi, do jeito mais cruel. Quero que as pessoas se lembrem da Rafa como a pessoa maravilhosa que ela era. Ela não tinha inimigos, sempre foi muito alegre e sorridente. Perdi minha filha, mas ela será lembrada pelo Brasil todo.
Andreia Martins

Outro lado

Jamil Mansur, proprietário da MJ2 Engenharia, expressou pesar pela morte de Rafaela . Ele disse ao UOL que a engenheira não era apenas uma funcionária, mas também uma grande amiga. Mansur afirmou que sua empresa deu "toda a assistência ao ocorrido".

Mansur afirma que tomou a decisão de não acionar o seguro imediatamente para agilizar o processo de liberação do corpo. Optou por arcar com os custos diretamente. "Eu mesmo solicitei de imediato para fazer tudo o que fosse necessário no particular, pois o processo com o seguro iria demorar", disse. "Nosso corpo jurídico está tomando todas as providências e temos uma reunião agendada com representantes da família".

Todas as atividades da empresa no Rio foram paralisadas após o acidente. "O marido dela, que esteve todo o tempo comigo e trabalha junto na empresa, sabe que todo valor será reembolsado", afirmou.

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Mansur disse lamentar que a mãe tenha sentido que não recebeu apoio necessário. "Sinto pelas palavras dela, pois estávamos ao lado dela o tempo todo. Estávamos respeitando o luto dela e, em nenhum momento, estávamos preocupados com dinheiro, mas sim com a perda da Rafa", afirmou.

O empresário destacou o impacto de Rafaela na empresa e entre os colegas. "A Rafa era nossa coordenadora de engenharia. Cuidava de toda nossa equipe de engenharia em todo o Brasil. Tinha uma paixão incrível pelo que fazia e era muito querida por todos os colaboradores e clientes. Ela teve uma ascensão meteórica na carreira e era uma profissional insubstituível".

Como foi o acidente

O rolo compressor que atropelou Rafaela teria ficado sem freio, segundo informações preliminares. A engenheira chegou a ser socorrida até a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Lagomar, mas não resistiu e morreu.

O equipamento era usado em uma área de galpão de resíduos. O operador não teria conseguido controlar o equipamento, conforme informações do Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense). Não foi divulgado se o equipamento já havia apresentado algum problema.

Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o caso foi registrado na 123ª DP (Macaé). "A investigação está em andamento para esclarecer os fatos."

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Em nota, a Petrobras lamentou o acidente e disse estar em contato permanente com a família de Rafaela. "No dia do acidente, profissionais de saúde (médico, assistente social, psicólogo e enfermeiro) da Petrobras prestaram suporte presencialmente ao esposo da Engenheira Rafaela, que se encontrava no local, e também prestou suporte e continua prestando aos demais profissionais da empresa", afirma a nota.

Segundo a empresa, os trâmites relacionados ao translado e sepultamento foram tratados pela empresa MJ2 e o esposo de Rafaela, com acompanhamento da Petrobras. "Desde o ocorrido, a Petrobras tem ofertado suporte social e psicológico aos trabalhadores que atuam na unidade onde o acidente ocorreu, bem como tem monitorado as ações realizadas pela MJ2 para suporte aos trabalhadores envolvidos", finaliza na nota.

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