'Fui chamado para ser exorcista': o padre roqueiro que destrói demônios

O padre Dalmário Barbalho de Melo, 46, é um exorcista —seu novo papel na Arquidiocese de Natal foi anunciado no mês passado. E o chamado para atuar na expulsão dos demônios veio após aumento da necessidade.

Fui chamado para ser exorcista diante da demanda. Isso quer dizer que muitas pessoas precisam de exorcismo? Não. É uma quantidade imensa de pessoas doentes mentalmente ou fisicamente. E, como sou psicólogo também, isso ajuda a discernir os males psíquicos dos espirituais.
Dalmário Barbalho de Melo, padre na Arquidiocese de Natal

Ele passou por uma formação longa para conseguir "destruir a ação do demônio" e, além disso, luta para identificar se o mal que atinge seus fieis não é mental.

Psicólogo e fã de rock, Dalmário exalta a importância da ciência e contou ao UOL detalhes sobre o exorcismo que faz —muito diferente do visto em "realidades cinematográficas".

'Trabalho é de acolhimento'

Dalmário é o quarto exorcista apenas na Arquidiocese de Natal. O padre explica que, idealmente, os bispos diocesanos seriam os únicos nessa função, já que são considerados pela Igreja como os sucessores dos apóstolos na Terra.

Mas, considerando o número de fiéis, seria impossível que apenas eles fizessem esse trabalho. Então, alguns padres são escolhidos para se habilitar, passando por "uma formação psicológica, teológica e pastoral".

Mas o sacerdote deixa claro: 90% dos que chegam à sua igreja procurando exorcismo estão, na verdade, precisando de ajuda psicológica —e a Arquidiocese oferece profissionais da área para isso.

Se você chega até mim e não é alvo de possessão ou obsessão demoníaca, mas sim de mal psíquico, eu não posso só dizer para você: 'vá embora que não é o demônio'. Tem uma equipe de psicólogos dentro da própria igreja, porque é algo que precisa ser acolhido. O nosso trabalho é de muito acolhimento, muita escuta.
Padre Dalmário Barbalho de Melo

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Dalmário se tornou padre em 2005 mas ganhou responsabilidade como exorcista apenas agora, diante de demanda em Natal (RN)
Dalmário se tornou padre em 2005 mas ganhou responsabilidade como exorcista apenas agora, diante de demanda em Natal (RN) Imagem: Reprodução/Instagram

O sacerdote ainda explica que exorcismos servem apenas para ações "extraordinárias" do demônio, que são "raríssimas". "Nesse caso, ele toma conta de todos os princípios da alma humana, usando aquela pessoa como instrumento para se manifestar."

Exatamente pelo fato de o fenômeno ser raro, o padre recomenda que aqueles que creem na fé católica procurem, antes do exorcismo, seguir outros dogmas da religião. Entre eles, a eucaristia e a confissão.

"Além disso, viver a fé de forma autêntica, esse amor para com Deus faz amar o próximo, testemunhar a caridade. As formas mais eficazes de exorcismo foram e continuam sendo a humildade, a simplicidade, os sacramentos e a prática da vida cristã", diz o padre.

Ao lado do extraordinário, existe a ação ordinária do demônio. Um coração prepotente, soberbo, a ânsia de poder são brechas para que o demônio possa agir, existe também ali uma ação consciente ou inconsciente do demônio. Afinal, de onde provêm as guerras do mundo?
Padre Dalmário Barbalho de Melo

O 'passo a passo' do exorcismo

A "fórmula" do exorcismo inclui, basicamente, um ritual de palavras em latim, água benta e o crucifixo. Os gestos também são importantes: isso inclui o sinal da cruz, a imposição das mãos e o sopro no rosto da pessoa possuída.

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O rito começa pela água benta. A ideia é recordar a purificação recebida pelo batismo, para defender o atormentado do "inimigo".

Em seguida, o exorcista começa a "ladainha" em latim. Nela, se pede a misericórdia de Deus, por intermédio de todos os santos.

Livro "Ritual de exorcismos e outras súplicas" é recomendado pelo sacerdote para quem quer entender o processo
Livro "Ritual de exorcismos e outras súplicas" é recomendado pelo sacerdote para quem quer entender o processo Imagem: Arquivo Pessoal

Depois, ainda podem ser recitados alguns salmos da preferência do religioso. A ideia é implorar por proteção ou exaltar "a vitória de Cristo sobre o Maligno".

O exorcista não pode celebrar o rito se não tiver certeza de que a pessoa está atormentada pelo diabo. Ele não deve negar ajuda ao fiel, mas orientá-lo sobre outras orações ou meios de procurar ajuda psíquica. O padre Dalmário, por exemplo, oferece a unção dos enfermos a quem não "se qualifica" para o exorcismo.

Outro ponto importante é que o ritual não pode virar "espetáculo". A Igreja afirma que meios de comunicação não podem "de forma alguma" estar presentes —e o sacerdote e qualquer outra pessoa presente não devem divulgar o que acontece.

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Não existe prazo definido para que o exorcismo dê certo. Pode demorar dias ou meses para que o diabo "seja vencido pelo cansaço", segundo o padre Dalmário.

E não católicos também podem ser exorcizados? Depende da autorização do bispo, que pode pedir opinião para outros peritos no assunto, se o caso for complexo.

Além da igreja: padre é fã de Metallica e Clarice Lispector

Católico desde criança, Dalmário tem um status "pop" nas redes sociais. Em 2019, o padre Fábio de Melo compartilhou um vídeo em que o colega cantava a música Boate Azul, de Bruno & Marrone, durante uma missa. Foi o suficiente para o sacerdote viralizar.

Com mais de 26 mil seguidores no Instagram, ele costuma usar fotos e vídeos de famosos, como Harry Styles e Vin Diesel, para dar palavras de sabedoria aos fiéis.

E Dalmário não hesita ao falar de seus interesses para além da teologia.

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Na juventude, ele também estudou filosofia, história e psicologia. No último curso, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi aluno do monsenhor Agnello Dantas Barretto, que é pároco na Arquidiocese de Natal.

O sacerdote afirma que toda sua formação religiosa —inclusive no exorcismo— é potencializada pela ciência, pela literatura e pela música.

Padre Dalmário com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, do Legião Urbana, após show em Natal
Padre Dalmário com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, do Legião Urbana, após show em Natal Imagem: Reprodução/Instagram/@pe.dalmario

No tempo livre, ele gosta de um "bom rock", com clássicos como Led Zeppelin e Legião Urbana —que o padre já "tietou".

"Somos quatro irmãos, todos músicos —eu sou o que canta. Os rocks mais velhos são os melhores. Metallica, Guns, e aqui no Brasil gosto da Legião Urbana. De livros, gosto do Fiódor Dostoiévski, Fernando Pessoa e Clarice Lispector."

Ao refletir sobre seus gostos "não católicos", Dalmário afirma que isso não afeta seu comprometimento como religioso —muito pelo contrário.

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Onde existe beleza está Deus. Eu aprendi com o teólogo Hans Urs von Balthasar que os poetas e os amantes entendem mais de Deus que os teólogos, porque Deus é amor, então minha alma também é nutrida por literatura e por um bom rock.
Padre Dalmário Barbalho de Melo

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