Morto em Guarulhos delatou policiais 8 dias antes de ataque
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos na sexta-feira (8), havia sido ouvido na Corregedoria da Polícia Civil no dia 31 de outubro sobre a delação em que citou suposta extorsão de policiais. O assassinato aconteceu oito dias depois. A informação foi divulgada pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (11).
O que aconteceu
A suposta relação entre esse depoimento e o atentado está sendo investigada, informou Artur Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, ao UOL. "A gente não descarta nenhuma possibilidade, até porque ele delatou os policiais civis na Corregedoria da Polícia Civil".
A Corregedoria ouviu Gritzbach após o MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo) compartilhar com a Polícia Civil trechos da delação em que nomes de agentes eram citados. "O primeiro a ser ouvido foi o próprio Vinícius. Achei essa atitude extremamente correta, haja vista que, todos nós sabemos, como ele estava delatando membros de organizações criminosas, acusado inclusive de um duplo homicídio contra membros do PCC, poderia acontecer algo nesse sentido, que foi o que aconteceu", disse Derrite.
Segundo o secretário, o procedimento da Corregedoria foi diferente do que costuma ocorrer normalmente. Eles começaram a apuração ouvindo primeiro o empresário e não os envolvidos no caso. O chefe da pasta não esclareceu a motivação para a alteração.
Derrite anunciou nesta segunda a criação de uma força-tarefa para investigar o ataque, que também matou um motorista de aplicativo. A colunista do UOL Raquel Landim adiantou a informação do grupo de trabalho, que contará com a presença de membros da Polícia Militar e Civil e outros funcionários da SSP-SP. O secretário convidou representantes da Polícia Federal e do Ministério Público para participar de uma reunião de emergência também hoje com a Polícia Civil e a Polícia Militar. Ele cancelou uma viagem para Nova York, nos Estados Unidos, para uma conferência de segurança pública.
O secretário também informou que os PMs que faziam a segurança do empresário estão sendo investigados em um IPM (Inquérito Policial Militar). "Terão que explicar o que faziam porque só o simples fato de realizarem serviço extraoficial já configura transgressão disciplinar. Além disso, estavam fazendo isso [escolta] para um indivíduo criminoso." Segundo Derrite, essa investigação já havia sido instaurada há um mês para investigar "não só os que estavam ali [agentes da escolta], mas, eventualmente, outros PMs envolvidos com qualquer indivíduo do PCC".
A escolta feita por PMs foi denunciada por outro policial militar durante uma audiência de instrução em que Gritzbach estava presente no Fórum da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista. "Chamou a atenção dele a postura da escolta, que parecia de policiais. Ele fotografou e fez uma denúncia na Corregedoria", disse o secretário.
Os celulares dos policiais militares foram apreendidos e a perícia está extraindo os dados dos aparelhos. Derrite também afirmou que os agentes encontraram material genético no veículo abandonado pelos criminosos. "O armamento vai passar por perícia também. Serão feitos exames de comparação balística das armas apreendidas", explicou.
Durante a entrevista, por diversas vezes, o secretário apontou que nenhuma hipótese é descartada no caso.
Entenda o caso
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, foi morto a tiros na sexta-feira (8) logo após deixar o saguão de desembarque do Aeroporto de Guarulhos. Ele era ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e pivô de uma guerra interna na facção criminosa.
Gritzbach estava ameaçado de morte e havia recompensa por sua execução. Ele era acusado de ser o mandante da morte de um narcotraficante ligado ao PCC e também por delatar ao Ministério Público de São Paulo policiais civis envolvidos em casos de extorsão. Em abril, ele entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) um áudio de uma conversa entre dois interlocutores negociando a morte dele por R$ 3 milhões.
O empresário era réu pelos assassinatos de dois homens: Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, criminoso influente no PCC — além do motorista de Cara Preta, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. A dupla foi morta a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em janeiro de 2022, no mesmo bairro.
Ataque em Guarulhos também matou de motorista de aplicativo
O motorista Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi levado para a UTI após ser atingido por um tiro nas costas, mas não resistiu e morreu no sábado (9). Outras duas pessoas ficaram feridas. Samara Lima de Oliveira, 28, e o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, também foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos.
Nenhum dos três tinha ligação com o empresário assassinado, disse a polícia. William sofreu ferimentos na mão direita e ombro e ficou em observação. Samara, atingida superficialmente no abdômen, já recebeu alta médica.
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