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Operação Verão volta com câmeras, mas ainda sob críticas: 'Não combate PCC'

PMs deixaram ao menos 15 cápsulas de fuzil em ação que deixou quatro mortos em São Vicente (SP) Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Do UOL, em São Paulo

20/12/2024 05h30

A Operação Verão foi retomada na última segunda-feira (16) no litoral de São Paulo com câmeras nas fardas dos agentes, mas ainda sob medo de moradores e críticas de especialistas em segurança pública.

Ineficiente, dizem especialistas

Alta letalidade no verão passado. Sem imagens de câmeras corporais nas fardas dos agentes e com suspeitas de irregularidades investigadas pelo Ministério Público, a PM matou 56 pessoas na ação entre dezembro de 2023 e abril deste ano. Na ocasião, Guilherme Derrite, secretário da SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), disse que a pasta estava combatendo o PCC.

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Dados indicam dúvidas sobre efetividade da ação. A SSP informou que a PM apreendeu 2,6 toneladas de drogas e 119 armas de fogo na última Operação Verão. É o equivalente a menos de 1% da movimentação financeira anual da facção criminosa paulista, que é de até R$ 6 bilhões a cada 12 meses, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

A Operação Verão surgiu para dar mais segurança à população nas férias. A PM não vai ao litoral de São Paulo para combater o PCC. Para isso, precisaria de inteligência policial e investigação. Se o objetivo é o combate ao crime organizado só com viatura na rua, o resultado é zero.
Ivana David, desembargadora do TJ-SP e especialista em investigações sobre o crime organizado

A PM foi ao litoral no verão passado sem um plano efetivo de enfrentamento ao PCC. Para isso, precisaria prender líderes e impedir mecanismos de lavagem de dinheiro. Isso não ocorreu. A ação precisaria ser mais planejada e organizada, o que não parece ser o caso.
Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV

É vergonhoso e estarrecedor que a população preta e pobre continue sendo reprimida com a retomada da Operação Verão, que teve inúmeros casos de pessoas inocentes sendo mortas. Se a SSP tivesse observado os impactos negativos dessa ação no litoral, teria criado outras alternativas.
Adilson Sousa Santiago, presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana)

MP monitora operação. A instituição ainda informou ter oferecido denúncia à Justiça contra três policiais militares por mortes na Operação Verão. Procurada pelo UOL, a SSP-SP ainda não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.

Policiais militares em patrulhamento na Baixada Santista durante a Operação Verão Imagem: Divulgação/SSP-SP

Ação agora será gravada

Câmeras em fardas: uma diferença em relação a 2023. O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) pediu ao STF que a obrigatoriedade de uso de câmeras em fardas se restrinja às grandes operações, em solicitação nesta quarta-feira (18).

A medida contesta a determinação de uso do equipamento em todas as ações. Mas obriga a PM a registrar imagens da Operação Verão, no litoral de São Paulo.

Determinação do uso de câmeras surgiu em meio à escalada da violência policial. Um agente de folga matou um jovem negro com um tiro pelas costas em São Paulo no mês passado. Neste mês, a PM paulista ainda teve os casos gravados de um homem sendo jogado de uma ponte em uma abordagem e de uma idosa sendo agredida por um agente. Na madrugada desta terça-feira (17), uma PM foi filmada dando chutes em um homem já rendido no chão em Paraisópolis.

Leonel Andrade, o pai, foi morto durante a Operação Verão, em fevereiro deste ano. Ryan, o filho, morreu ao ser baleado em outra ação policial em novembro. Ambos os casos ocorreram no Morro São Bento, em Santos Imagem: Arquivo pessoal

'Medo da PM', diz mãe de Ryan

Família convive com o medo e tragédia em ações policiais. Após ter o marido assassinado em fevereiro durante a Operação Verão, a merendeira Beatriz da Silva Rosa também perdeu o filho em outra ação policial.

Ela é mãe do menino Ryan, de apenas 4 anos, baleado em novembro. Pai e filho morreram em ações diferentes da polícia no Morro São Bento, em Santos, onde Beatriz ainda mora com outros dois filhos. Leonel foi fotografado cerca de uma hora antes de morrer ao lado de muletas, sentado na calçada. A família contesta a versão de confronto da PM e diz que ele não tinha envolvimento com o tráfico.

Se tivesse dinheiro, eu sairia daqui. Alguns policiais ficam me encarando quando estou na rua porque uso camisas com o rosto do Ryan e do Leonel. Eu convivo com o medo, porque os policiais sobem o morro para matar. E matam também pessoas inocentes. Até hoje, eu luto para provar que o meu marido não tinha envolvimento com o crime.
Beatriz da Silva Rosa

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